É
tradição chinesa que na abertura da sessão anual do Parlamento o
primeiro-ministro faça um discurso. O proferido este ano por Wen Jiabao teve um
tom diferente do habitual. Disse que o Governo tem de dar mais atenção ao bem
estar do povo, porque a China só será mais rica e poderosa se o consumo interno
aumentar.
... A
palavra chave para o futuro, disse Wen Jiabao, é o "aumento" do
consumo interno. Esta, disse, é a "estratégia de longo prazo para o
desenvolvimento económico".
... Entre
as promessas está a garantia de que a economia chinesa continuará a crescer a
um ritmo constante de 7,5% ao ano, que a taxa de inflacção não passará dos
3,5%, que serão criados nove milhões de novos postos de trabalho
"urbanos", entre quatro a seis milhões de habitações
sociais e que as pensões mais baixas serão aumentadas 10%.
***«»***
A
aposta do governo chinês no consumo interno, embora até aqui pouco
expressiva, não é de agora. Em 2008, e prevendo que os países ocidentais iriam
enfrentar graves problemas de sustentabilidade nas suas economias e no setor
financeiro - como a queda do Lehman Brothers e a subsequente crise do subprime,
que se repercutiria na crise da dívida dos países periféricos europeus, vieram
a comprovar - os dirigentes chineses, a fim de garantir o ritmo produtivo das
suas indústrias, abriram linhas de crédito generosas para milhões de camponeses
terem acesso a toda a gama de eletrodomésticos e de alfaias agrícolas
mecanizadas. A colocação desse tipo de produtos no mundo rural veio compensar
as perdas ao nível da exportação para os países ocidentais.
Este
novo enfoque de aumentar o consumo interno insere-se nesta perspetiva de
compensar a descida das exportações para a Europa e para os Estados Unidos. Só
assim se compreende que a taxa de crescimento anual, nos próximos dez anos,
possa vir a atingir o valor de 7,5 por cento, um número invejável para europeus e
norte americanos.
É
o pragmatismo chinês a funcionar em pleno, sustentado numa análise correta do
estado da economia mundial, a do momento e a do futuro próximo. Por outro lado, o
governo e o Partido Comunista Chinês, que o sustenta há mais de sessenta anos,
concretizam mais um passo para promover mais equitativamente a distribuição
da riqueza do país, que ainda acusa muitas assimetrias.
Na
próxima década, é pois no aumento exponencial do consumo interno que a China
irá ancorar o seu saudável crescimento, além de pretender implementar uma
economia que não descure os efeitos ambientais, uma perspetiva
desenvolvimentista diametralmente oposta à perfilhada pelos dirigentes
europeus, que declararam guerra cega ao consumo interno, através da
implementação de planos de austeridade aos países periféricos. É um mito
enganador aquele que é defendido pelos governos europeus e pelos dirigentes da
União Europeia, que pensam (ou fingem pensar) que só com o aumento das
exportações os países conseguirão regressar ao crescimento económico. Depois de
três anos de uma selvagem austeridade na Grécia e a de dois anos, em Portugal, a
situação económica agudiza-se perigosamente, ao ponto de ameaçar a
sustentabilidade social e económica destes dois países.
1 comentário:
Por cá
apenas os olhos em bico
apostam no descalabro
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