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sábado, 4 de maio de 2013

China muda de líderes e aposta no consumo interno


É tradição chinesa que na abertura da sessão anual do Parlamento o primeiro-ministro faça um discurso. O proferido este ano por Wen Jiabao teve um tom diferente do habitual. Disse que o Governo tem de dar mais atenção ao bem estar do povo, porque a China só será mais rica e poderosa se o consumo interno aumentar.
... A palavra chave para o futuro, disse Wen Jiabao, é o "aumento" do consumo interno. Esta, disse, é a "estratégia de longo prazo para o desenvolvimento económico".
... Entre as promessas está a garantia de que a economia chinesa continuará a crescer a um ritmo constante de 7,5% ao ano, que a taxa de inflacção não passará dos 3,5%, que serão criados nove milhões de novos postos de trabalho "urbanos", entre quatro a seis milhões de habitações sociais e que as pensões mais baixas serão aumentadas 10%.
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A aposta do governo chinês no consumo interno, embora até aqui pouco expressiva, não é de agora. Em 2008, e prevendo que os países ocidentais iriam enfrentar graves problemas de sustentabilidade nas suas economias e no setor financeiro - como a queda do Lehman Brothers e a subsequente crise do subprime, que se repercutiria na crise da dívida dos países periféricos europeus, vieram a comprovar - os dirigentes chineses, a fim de garantir o ritmo produtivo das suas indústrias, abriram linhas de crédito generosas para milhões de camponeses terem acesso a toda a gama de eletrodomésticos e de alfaias agrícolas mecanizadas. A colocação desse tipo de produtos no mundo rural veio compensar as perdas ao nível da exportação para os países ocidentais.
Este novo enfoque de aumentar o consumo interno insere-se nesta perspetiva de compensar a descida das exportações para a Europa e para os Estados Unidos. Só assim se compreende que a taxa de crescimento anual, nos próximos dez anos, possa vir a atingir o valor de 7,5 por cento, um número invejável para europeus e norte americanos.
É o pragmatismo chinês a funcionar em pleno, sustentado numa análise correta do estado da economia mundial, a do momento e a do futuro próximo. Por outro lado, o governo e o Partido Comunista Chinês, que o sustenta há mais de sessenta anos, concretizam mais um passo para promover mais equitativamente a distribuição da riqueza do país, que ainda acusa muitas assimetrias.
Na próxima década, é pois no aumento exponencial do consumo interno que a China irá ancorar o seu saudável crescimento, além de pretender implementar uma economia que não descure os efeitos ambientais, uma perspetiva desenvolvimentista diametralmente oposta à perfilhada pelos dirigentes europeus, que declararam guerra cega ao consumo interno, através da implementação de planos de austeridade aos países periféricos. É um mito enganador aquele que é defendido pelos governos europeus e pelos dirigentes da União Europeia, que pensam (ou fingem pensar) que só com o aumento das exportações os países conseguirão regressar ao crescimento económico. Depois de três anos de uma selvagem austeridade na Grécia e a de dois anos, em Portugal, a situação económica agudiza-se perigosamente, ao ponto de ameaçar a sustentabilidade social e económica destes dois países.

1 comentário:

O Puma disse...

Por cá

apenas os olhos em bico
apostam no descalabro