óleo-Wladyslan Slewinski (Woman Brushing her
Hair, 1897)
Imagem selecionada pela autora
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para
voltar ao princípio do mundo
sei
de uma mulher
que
penteava os cabelos ao sol
porque
tinha no pensamento uma flor
sei
que os lavava ao luar
porque
tinha no coração uma corola
para
voltar ao princípio do mundo
com
a boca mordia o ar
e
prendia os vestidos ao vento
era
uma mulher sentada numa pedra
coroada
por um lírio salgado na fronte
um
dia
cortou
os cabelos
atirando-os
um a um ao mar
e
disse: tece-me
e
o mar inclinou-se para dentro
para
tecer
o
poema
maria azenha (2009)
(contagiada por Daniel Faria )
.........................
O cabelo e o mar: um poema de Maria Azenha
"Para surgir um poema é necessário se
despir de ações que embaçam o modo mais simples de tecer um poema-vida. Despir-se
de tais ações é cortar os cabelos, pois estes por si mesmos não tecem o poema.
Os fios de cabelo fazem esquecer do que propriamente um poema se faz, do que
uma vida se faz. Para esse pensamento que se esquece na flor; para esse
pensamento que volta o seu coração para uma corola; para esse pensamento que
morde o vento, aprisionando-se a um vestido que se recusa a sentir o vento,
preciso é levantar-se e cortar o excedente dessas ações.
...
Libertando-se do cabelo é que o feminino
encontra a fertilidade do que pode gerar o poema: o mar. Entregar ao mar esses
fios é deixar o poema tecer, dizendo ao oceano: “tece-me”. Confiar no mar a
atitude de ser com ele o poema revela a mulher que se liberta dos fios que a
prendiam para doar ao mundo os fios que se juntam ao mar. União que a tecerá
como verdadeira mulher, porque essa é a ação mais simples “para voltar ao
princípio do mundo”.
Jefferson Bessa
A "poeta" Maria Azenha colabora neste blogue, publicando-se um poema seu, às quintas-feiras.
A "poeta" Maria Azenha colabora neste blogue, publicando-se um poema seu, às quintas-feiras.
1 comentário:
Num fio de música
a entrega
ao ciclo das marés
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