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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Notas do meu rodapé: Ninguém pode dizer que não sabia...


Os riscos da redução do défice
Uma vaga de austeridade orçamental varre a Europa e os EUA. A magnitude dos défices orçamentais tomou muita gente de surpresa, no entanto, a maioria dos economistas acredita que foi a despesa pública que evitou uma nova Grande Depressão.
A curteza de vistas da banca ajudou a criar esta crise, porém, não podemos deixar que a curteza de vistas dos governos - incitada pelo sector financeiro - se prolongue no tempo. O crescimento rápido e o retorno sobre o investimento público geram maiores receitas fiscais. Ora, um retorno na ordem dos 5% a 6% é mais do que suficiente para compensar os aumentos temporários na dívida pública. Uma análise custo-benefício social torna essas despesas, ainda que financiadas pela dívida, particularmente atractivas.
Joseph Stiglitz
Diário Económico
13 de Março de 2010 
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Guardei em arquivo estas palavras do economista nobilizado, Joseph Stiglitz. por, na altura, elas me parecerem premonitórias (quase proféticas) e corresponderem, de certa maneira, ao que eu pensava sobre as causas da grande crise económica e financeira, que se abateu sobre os Estados Unidos e, depois, por contágio, sobre a Europa, assim como em relação às opções políticas que, principamente em Portugal, deveriam ter sido tomadas, para rapidamente a ultrapassar.
A minha discordância com a aceitação do Memorando da Troika baseou-se muito no pensamento deste ilustre economista, assim como de outros autores de referência, que não embarcaram na mistificação das correntes neoliberais, tão do agrado (porquê?) dos agentes do capital financeiro, que, depois de terem procedido à financeirização da economia, acabaram por também procederem à  "financeirização" da política e dos políticos, através da organização sofisticada de uma complexa rede de influências, em que a corrupção (por dinheiro ou por promessas de auspiciosas carreiras), ocupa um lugar destacado, tendo atingido um grau elevado, como nunca antes tinha acontecido. Hoje, é fácil identificar essa promiscuidade entre os dirigentes políticos e os grandes lobies da alta finança e das grandes empresas, quer ao nível internacional, quer ao nível doméstico.
A partir do último quartel do século XIX, não há registo de que as várias crises económicas e financeiras, entretanto ocorridas, tenham sido ultrapassdas com o recurso exclusivo à austeridade e à aplicação de medidas recessivas sobre a economia. As crises foram sempre resolvidas, num período curto de alguns anos, recorrendo à aplicação de políticas de crescimento económico, ancoradas no investimento público, a fim de promover o emprego e aumentar o consumo interno e as receitas fiscais, gerando-se assim meios suficientes para poder pagar os juros e amortizar a dívida pública, entretanto contraída para sustentar aquele investimento inicial. Uma política deste tipo funciona, pois, com dívida elevada e défices orçamentais pronunciados, mas com um horizonte visível a prazo, para a sua resolução, em face das expectativas do aumento da riqueza produzida. Um pequeno comerciante, que fracassou numa determinada área de ngócio, não põe a família a passar fome e não deixa de investir no futuro dos seus filhos, a fim de perseguir o obejetivo de amealhar dinheiro para aplicar noutro negócio com melhores perspetivas de sucesso, tal como preconizam os neoliberais, em relação às opções que apresentam para os endividados países do sul da Europa. Não. Aquele comerciante vai a um banco, apresenta garantias, demonsta a viabilidade e sustentabilidade do novo negócio, e perante as expectativas geradas, pede um empréstimo. No entanto, toma as devidas cautelas para não repetir os erros anteriores, que foram fatais. O negócio, agora bem gerido, floresceu, gerou receitas, com que vai pagando os juros e amortizando a dívida, nos prazos estabelecidos. Passados algns anos, uma vez paga a dívida, a pequena empresa cresceu, dando lucros compensadores.
Não foi isso que ocorreu com a Grécia e com Portugal. A União Europeia, sob a influência totalitária da Alemanha, Holanda e Finlândia, optou por pôr os gregos e os portugueses a passar fome.  
http://economico.sapo.pt/noticias/os-riscos-da-reducao-do-defice_84042.html