Nesta primeira década do século XXI, a década perdida, Portugal cometeu, entre outros, dois erros estratégicos, tal como já assinalámos em artigo recente, há dias aqui publicado, a saber: a adopção da moeda única e a assinatura do memorando da troika (FMI-BCE-UE).
Embora reconhecendo, a fim de explicar as debilidades do país para enfrentar as dificuldades de um mundo globalizado, a existência de graves disfunções no aparelho de Estado, que não foram atempadamente corrigidas e o raquitismo de uma economia que perdeu, nas décadas anteriores, a grande oportunidade de ganhar competitividade, através de um significativo aumento da produtividade, e sem esquecer a elevada prevalência da corrupção e do nepotismo entre o mundo da política e mundo empresarial, o que é certo, é que foi a adoção do euro e a aceitação das condições gravosas, impostas do exterior, que vieram desencadear a grave crise financeira, económica e social, que se abateu sobre os portugueses. Uma verdadeira tragédia, que irá perdurar se, entretanto, não se mudar de rumo de uma forma radical e absoluta. E os protagonistas políticos, envolvidos naquelas duas decisões, não podem invocar ignorância ou ingenuidade, como justificação para os seus erros. Algumas vozes, não alinhadas com a cacofonia dos discursos delirantes e apologéticos dos neoliberais, lançaram sérios avisos, bem fundamentados na ciência económica, sobre os perigos que o país iria enfrentar com a escolha daquelas opções.
Ora, se, na realidade, a adoção do euro e a assinatura do memorando da troika são a causa da nossa desgraça e da nossa tragédia, a única solução é, precisamente, denunciar o memorando, renegociando a dívida e exigindo condições aceitáveis em relação ao equilíbrio do défice orçamental, e sair pacificamente do euro (antes que seja o euro a sair de Portugal).
É esta a posição que temos vindo a defender, desde a assinatura do memorando da traição.
Hoje, a renegociação da dívida já faz parte do discurso de muita gente. O Conselho Económico e Social foi o primeiro organismo oficial a reconhecer esta evidência, sustentando que a austeridade tem efeitos perversos na economia, afetando o crescimento, o emprego a as políticas sociais. Falta agora reconhecer as vantagens da saída do euro, como o único caminho de promover crescimento, através de um significativo aumento das exportações.
Portugal vai ficar mais pobre com a saída do euro, mas não tão pobre como ficará, se a política de austeridade continuar, sem um fim à vista (Merkel já vem falar de mais cinco anos de austeridade!). Com uma moeda nacional, e com as exportações a crescer, Portugal necessitará de três ou quatro anos para inverter este infernal ciclo de empobrecimento.
No final do próximo ano, sobre os destroços de uma economia intencionalmente destruída, haverá, certamente, muito mais pessoas a concordar com esta opção, que é inevitável.