Se retirarmos uma peça importante da estrutura de funcionamento de um automóvel , ele não andará. Esta óbvia conclusão das leis de funcionamento de um automóvel, podem ser transpostas para o modelo dialéctico do funcionamento da moeda no quadro mais vasto da estrutura da economia. Sem moeda, nas suas múltiplas funções de instrumento priviligiado de troca, de entesouramento, e de investimento, a economia claudicaria. Por isso, a moeda, para cumprir as suas múltiplas funções, necessita da correspondente política monetária.
Com a criação do euro, os países aderentes perderam a capacidade de emitir e gerir moeda, funções que passaram a pertencer ao Banco Central Europeu (BCE). A principal consequência deste modelo monetário, que não tem equivalente na economia moderna (desde a revolução industrial no século XVIII), teve como principal consequência a perda da possibilidade de cada governo lançar mão às desvalorizações para aumentar a competitividade da sua econonomia. O recurso às desvalorizações sucessivas da moeda era o caminho mais fácil e mais rápido para obter ganhos na balança comercial. O reverso da medalha desta política repercutia-se no aumento da inflação e na desvalorização dos salários.
Ao BCE, coube-lhe como principal função, além da soberania como emitente, a de evitar surtos inflacionistas na zona euro, através da cautelosa manipulação das taxas de juro, política que conseguiu sobreviver durante o período expansionista da economia. A actual crise financeira veio pôr em evidência a falta de outros mecanismos, considerados essenciais para uma completa gestão do euro, e que ficaram nas mãos dos estados membros. Um desses mecanismos assenta na centralização no BCE da capacidade de emissão da dívida soberana para toda a zona euro, sendo posteriormente redistribuída para cada país. Esta mudança estrutural levaria as agências de rating a debruçarem-se sobre a situação de uma única dívida, a dívida da zona euro, sendo obrigadas a abandonar, porque inconsistente, a avaliação da dívida de cada país, que apenas reportaria ao controlo do BCE. Por outro lado, e porque quem controla a moeda também tem de controlar a economia, impõe-se a institucionalização de uma política economica comum. E aqui voltamos à estrutura do funcionamento do automóvel, em que tudo obedece a uma centralização da coordenação de todas as funções, ressalvando-se, porém, a diferença que existe entre as relações mecânicas e as relações dialécticas.
É evidente que, com este novo paradigma, os estados perderiam cada vez mais independência, e acabavam por se transformar em regiões de uma Europa federalista. Mas se não for assim as coisas não funcionam, sendo então preferível acabar com o euro e regressar às moedas nacionais, o que constituiria um grande revés para o sonho europeu.
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