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sábado, 12 de abril de 2014

Notas do meu rodapé: Razão, Moral e Biologia

Presidente do Uruguai, Mujica, em discurso Rio+20
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O homem é o maior predador de si próprio e do próprio ambiente onde vive. E isto acontece desde que o primeiro bípede descobriu que a tíbia de um rinoceronte morto podia ser uma arma de ataque e de defesa, muito eficaz para neutralizar o seu semelhante e abater animais selvagens. A partir daí, a guerra foi uma constante na História da Humanidade, intervalada por curtos períodos de paz. Até hoje!.. E, desde o momento em que aquele primeiro bípede descobriu que, dando uma forte pancada na cabeça do seu semelhante, podia roubar-lhe um pedaço de carne, a guerra começou a ter como causa a economia. 
Durante todos estes milhões de anos, que o Homem leva sobre a Terra, nenhum moralista conseguiu impor às sociedades um comportamento e uma praxis, tendo na base os valores da equidade, da justiça e da paz, valores estes que são arquétipos do ideal que os mais lúcidos foram construindo ao longo do tempo. 
A violência é uma característica de substrato biológico do mundo animal e do próprio Homem, que pode ser minimizada e controlada, mas não irradicada. A aquisição da racionalidade pela espécie humana não superou o instinto, que se impõe soberano ao comportamento, quando o impulso da sobrevivência ou o desejo de dominar prevalecem. Podemos pois dizer que a guerra é uma decisão biologicamente racional e moralmente irracional. E o que a História nos ensina é que em tempos de crise a moral é atirada para o caixote do lixo e que, depois, começa a ser adotada a moral e a justiça do vencedor. Sempre foi assim e assim continuará a ser para mal da Humanidade, até que o relógio biológico consiga, no processo evolutivo, acertar as horas entre a Razão e a Moral. 
O mesmo problema se coloca em relação ao ambiente. Os mais fortes são os primeiros, clandestinamente ou à luz do dia, a torpedear os acordos que subscreveram em relação à proteção do ambiente. Também aqui se pode dizer que destruição do ambiente pode ser minimizada e controlada, mas nunca poderá ser irradicada. É uma fatalidade. No entanto, este ceticismo, sustentado por uma visão, aparentemente realista, não invalida o desassombro e brilhantismo das palavras do presidente do Uruguai, que deu uma bofetada de luva branca aos países mais ricos, Mas, quando ele diz que a causa dos problemas ambientais não é a Ecologia, mas sim a Política, não tem razão, ou apenas tem metade da razão. Antes da Política está a Economia, que é dominada pelos mais ricos entre os ricos. Quando ele diz que são os mercados a comandar o Homem, também apenas diz a meia verdade. É que os mercados são desenhados e ferreamente controlados pelos mais ricos entre os ricos, a fim de assegurarem e perpetuarem o seu domínio sobre os outros homens, servindo-se dos políticos e da ideologia dominante.
No nosso tempo, o sistema político designa-se por imperialismo, o sistema económico por capitalismo financeiro internacional e o sistema ideológico por neoliberalismo, todos eles dominantes à escala planetária. Chegados ao fim da linha, apressemos a conclusão: Só com outro sistema político, só com outro sistema económico e só com outra ideologia se poderá fazer a mudança para a conceção e aplicação de um novo paradigma universal, que tem de se basear no axioma de que é necessário garantir, custe o que custar, uma vida minimamente digna aos mais miseráveis pobres do planeta, baixando os limiares da riqueza, a quem a possui, até que se consiga aquele desiderato. Tem de se inventar a Economia do Bem Comum... E, mesmo assim, permanecerá sempre a dúvida se será possível derrotar a Biologia.

2 comentários:

Ana disse...


Não tenho a mínima dúvida que só com uma distinta praxe política, económico e ideológico, se conseguirá alcançar demudança para o concebimento e emprego de um novel protótipo internacional...como apeando os patamares da abundância....para os que vivem miseravelmente possam fruir de uma vida merecedora. Mas será que alguma vez esses senhores detentores de tanto poder vão deixar???? Gostava de dizer que é possível....como gostava...

Alexandre de Castro disse...

Esses grandes senhores não vão deixar. Só obrigados pela força das revoluções. Foi o que aconteceu no passado.