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segunda-feira, 28 de abril de 2014

Anotação do Tempo: Abril não é uma mercadoria…


Abril não é uma mercadoria…

Nestes dias em que Abril renasce
os mercados não falaram,
emudeceram, mas não ficaram surdos
nem as suas mãos estremeceram
fecharam-se em silêncio nos corredores escuros,
para conspirar com o dinheiro sujo
pediram aos seus macabros tecnocratas
as estatísticas da morte
querem trocar o ouro pelo sangue
e perpetuar o saque
querem aumentar a cotação do ódio
aos cravos vermelhos da nossa liberdade,
investindo o seu fel na bolsa de valores da ignomínia,
onde bolçam todos os dias
… mas eles ainda não perceberam
que Abril não se compra nem se vende,
e que não tem preço…
Porque Abril não é uma mercadoria…

Alexandre de Castro

Lisboa, Abril de 2014

9 comentários:

Sónia M. disse...

Nem tudo se vende...

Beijinhos.

Alexandre de Castro disse...

Obrigado, Sónia.
Beijinhos.

m.a. disse...

Abril ...onde ?

poema da triste realidade...
"querem trocar o ouro pelo sangue
e perpetuar o saque"...


Abraço fraterno,

Diamantino Silva disse...

Abril é de todos nós. Dos que ainda correm atrás de tão linda utopia. E capitães de Abril são todos aqueles que, como tu, tratas o 25 de Abril com tanto carinho e ternura, investindo com dureza, quando necessário, contra os vampiros que nos esperam na curva fechada por onde agora caminhamos, muito pior isto do que tanto tu como eu conhecemos por
emboscadas.
Gostei muito. Vou guardar e, sem pedir licença, vou partilhar com outros amigos.
Diamantino

Ana disse...

Pois é...ainda bem que Abril não se vende...se vendesse também era levado para os mercados...para baixar a dívida....dizem eles...Ainda, não vi qualquer efeito de que tudo está a melhorar.....Pois é, aproximam-se eleições e convém dizer algo.....Enfim, que consigamos manter o Abril...excelente texto.

Alexandre de Castro disse...

m.a.
As forças do Mal, sôfregas e insaciáveis, andam por aí à solta, cavalgando as noites do nosso desassossego. É urgente exorcizá-las, para recuperarmos a claridade dos dias de Abril.
Um abraço fraterno.

Alexandre de Castro disse...

Amigo Diamantino: A propósito das tuas amáveis palavras, que muito agradeço, quero aqui dizer (e é a primeira vez que exprimo em público este meu profundo sentimento) que foi com 25 de Abril, "construído" abnegadamente por ti e por todos os outros heróicos capitães, que eu recuperei o orgulho de ser, nessa altura, um capitão miliciano do Exército Português, apesar das perdas irreparáveis que essa forçada condição provocou na minha vida pessoal, profissional e académica.Em Moçambique, para onde fui mobilizado no Inverno de 1973, fui um ativo e entusiasta participante nas ações (algumas difíceis e espinhosas), levadas a cabo pelo M.F.A,perante as novas situações criadas naquela colónia pela Revolução de Abril.
Desse tempo, guardei religiosamente a boina da farda, os meus galões de capitão e alguns papéis. Mas é principalmente aquele referido orgulho de pertença que, com alguma saudade e nostalgia, percorre o fio da minha memória.
Um abraço

Alexandre de Castro disse...

Ana:
O tempo histórico tem um ritmo diferente do da vida humana. As grandes mudanças atravessam um período de maturação mais ou menos longo. Os ideais republicanos, por exemplo, começaram a germinar, em Portugal, no último quartel do século XIX, e só em 1910, e depois de alguns golpes militares fracassados, é que a República foi implantada. O próprio 25 de Abril teve os seus antecedentes políticos, sendo os mais próximos, temporalmente, as memoráveis eleições presidenciais de 1958, onde sobressaiu a já lendária figura do General Humberto Delgado, o General Sem Medo, o assalto ao paquete Santa Maria,a pouco conhecida revolta da Sé, a fracassada intentona de Beja, as gloriosas greves académicas dos anos sessenta, em que eu me envolvi também, o Congresso Democrático de Aveiro, em 1969, e as eleições para a Assembleia Nacional marcelista, em que surgiu o grande movimento unitário CDE. Isto para não falar das importantes greves dos operários e dos trabalhadores agrícolas do Alentejo e do Ribatejo. Aquela década de sessenta foi de muita luta, de muita esperança e, também, de muito desespero, já que muitos resistentes começavam a pensar que seria impossível derrubar o fascismo. Mas o fascismo acabou por ser derrubado, e Portugal viu renascer a esperança, a democracia e o progresso.
Apesar de difícil, a atual situação não é imutável. As contradições do poder político, das forças económicas e também da UE começam a ser visíveis. Começam a abrir-se brechas. Muitos portugueses, anteriormente indiferentes às questões políticas, participam hoje, com mais ou menos militância, no processo de contestação. Outros se juntarão a seguir, à medida que a crise económica se for agudizando.
O que é necessário é que cada um de nós contribua, na medida das suas possibilidades, para que a grande onda galgue a praia e o paredão do poder, derrubando-o.
Obrigado pelo seu comentário.

António Je. Batalha disse...

Ao passar pela net encontrei seu blog, estive a ver e ler alguma postagens
é um bom blog, daqueles que gostamos de visitar, e ficar mais um pouco.
Tenho um blog, Peregrino E servo, se desejar fazer uma visita.
Ficarei radiante se desejar fazer parte dos meus amigos virtuais, saiba que sempre retribuo seguido também o seu blog. Minhas saudações.
António Batalha.