A desvalorização salarial foi, no seu devido
tempo, corretamente sinalizada, como sendo o objetivo principal de um vasto
conjunto de medidas constantes no Memorando
de Entendimento, assinado com a troika (UE/BCE/FMI), pelas mãos do PS, do PSD e do CDS,
sem que o povo português fosse informado e esclarecido sobre a dimensão e a
gravidade das consequências da sua cega aplicação. Na altura, poucos eram os
portugueses que admitiam as profundas e gravosas mudanças de que iriam ser
vítimas, nos anos posteriores. Isto, apesar dos avisos e dos alertas do PCP e
de outros partidos e movimentos de esquerda e de muitos economistas neokeynesianos e marxistas. Na campanha eleitoral, que se seguiu, o assunto,
por ser incómodo, não foi debatido, e os partidos que o assinaram, prosseguindo
na lógica da mentira e da demagogia endémicas, quando ao acordo com a troika se referiam, era apenas para
lhe elogiar os benefícios para os portugueses, já que os nossos
"amigos" da Europa estavam dispostos a “enviar” dinheiro para Portugal
(não se falava de empréstimos, na altura), por estar a atravessar uma situação
financeira difícil. E isto era afirmado com uma desfaçatez abjeta. E, na
campanha eleitoral, o recurso à despudorada mentira atingiu o seu máximo
expoente com as repetidas declarações de Passos Coelho, a prometer (fazendo uma
fisga), e na senda do que nas eleições anteriores também afirmara José
Sócrates, que não aumentaria os impostos nem procederia aos cortes dos
subsídios dos funcionários públicos e dos pensionistas.
Nesta sequência pendular da alternância no
poder, entre o PS e o PSD, em que a mentira e a demagogia são a regra de ouro,
é legítimo duvidar da palavra e das intenções de António José Seguro, uma vez
que ele, nas suas intervenções públicas, apenas debita um inflamado discurso de
generalidades inócuas, de contestação à política do governo, e que vão ao encontro das expectativas legítimas daqueles que, entre
os mais ingénuos, estão a sofrer na pele o peso da austeridade.
António José Seguro nada diz sobre o Tratado Orçamental Europeu, que o PS
aceitou, e que incorpora medidas gravosas para os países endividados e com
défices orçamentais elevados. Tal como o Memorando de Entendimento, de 2011, o Tratado Orçamental, de 2012, vai implicar mais medidas de
austeridade, que irão afetar gravemente a sustentabilidade do Estado Social (o
garante da equidade e coesão sociais) e a desvalorização salarial, penalizando
principalmente a classe média e a classe de menores rendimentos.
Nesta perspetiva, votar no PS, no PSD e no CDS,
nas próximas eleições para o Parlamento Europeu (uma instituição europeia sem
poderes de decisão e que fica muito cara aos contribuintes), é entregar a alma
ao diabo e assinar a sentença de morte de um país que já está a envelhecer e a
empobrecer, devido unicamente à letal ação governativa daqueles três partidos,
ao longo dos últimos trinta e oito anos.
AC
AC
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