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segunda-feira, 21 de abril de 2014

Cortar no orçamento mata, conclui estudo sobre o suicídio na Grécia


Um estudo elaborado por uma Universidade britânica identifica uma relação precisa entre os cortes orçamentais efectuados no biénio de 2009-2010 e o aumento do número de suicídios registado na Grécia para o mesmo período. E conclui que esses cortes na despesa do Estado causam quase um suicídio por dia. Os autores querem investigar a mesma relação para outros países, incluindo Portugal.
O estudo da Univesidade de Portsmouth, citado no diário britânico The Guardian, refere que, para o período em consideração, o número de suicídios aumentou de 0,43 por cento a cada ponto percentual que era cortado na despesa do Orçamento de Estado da Grécia. A conclusão é que em 2009-2010 houve 551 suicídios exclusivamente atribuíveis a motivos de austeridade fiscal.
Nikolaos Antonakakis, juntamente com Alan Collins um dos co-autores do estudo, afirma que esta estimativa corresponde a "quase uma pessoa por dia. Considerando que em 2010 houve na Grécia cerca de dois suicídios por dia, parece que metade se deveu à austeridade".
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E se a austeridade não mata, pelo menos mói. Estão por contabilizar os efeitos nefastos da austeridade sobre a saúde mental das populações dos países que se sujeitaram, através da cumplicidade criminosa dos seus respetivos governos, à ofensiva financeira da Alemanha e de outros países ricos da Europa. Sabe-se, embora empiricamente, que a incidência das depressões e a dos estados de ansiedade crónica aumentou significativamente. Talvez o maior aumento percentual tenha ocorrido entre a população ativa mais jovem (a que, naturalmente, registaria uma menor incidência destas patologias de saúde mental, numa sociedade a viver na normalidade), e que ficou amarrada a um futuro sem perspetivas viáveis.
A incerteza sobre o dia de amanhã, que o governo de Passos Coelho cultiva com um elevado esmero e enlevo e com uma requintada perícia (veja-se o que está a acontecer atualmemte com os sucessivos anúncios e desmentidos dos próximos cortes nas pensões), está a provocar, naturalmente, doses acrescidas de ansiedade entre os reformados e os pensionistas, que vivem apavorados com a ameaça constante de puderem vir a acabar os seus dias na indigente pobreza. A frieza e o calculismo com que o atual governo lida com esta dramática situação revelam uma insensibilidade verdadeiramente escandalosa e criminosa. Brinca-se impunemente com a vida dos idosos, muitos deles ainda a exercerem uma função social importante, já que suportam até ao limite das suas possibilidades as carências dos filhos desempregados e até as dos seus netos.  

É por isso importante castigar com o voto os partidos do arco da traição (PSD/CDS e PS), os verdadeiros responsáveis da situação caótica que se vive no país. Do PSD e do CDS, já sabemos que pretendem apostar na austeridade, até o país ficar exangue. Do PS, embora o seu líder barafuste contra a austeridade, ainda não se viu um plano de alternativa consistente e viável. O que sabemos, e isto é factualmente objetivo, é que o Partido Socialista, além da adesão ao Memorando de Entendimento com a troika, que promoveu, também votou favoravelmente o Tratado Orçamental, um instrumento da UE, que vai limitar o poder de decisão dos governos em termos de política financeira. Com este Tratado, será a senhora Merkel, através da via da comissão europeia, que irá decidir onde o governo português irá gastar, no futuro, o dinheiro das receitas dos seus impostos. 

3 comentários:

Anónimo disse...

Eu e o meu melhor amigo já fomos empregados decendemente pagos. Ele agora tem de trabalhar 10 a 12 horas por dia, esgotadao e mal ganha para manter a casa. Eu estive desempregada muito tempo e agora voltarei ao desemprego. Sonhei ter uma vida de classe media, decente, ter contas pagas, fazer arte e desporto. Mataram-me. Esperança é uma palavra estupida que eu já não quero ouvir. Não estou a viver. Fiz o mesmo que qualquer Hans noruegues ou Karen sueca ou Gerard suiço. Mereço o mesmo. Dignidade, felicidade. mas não há. Não queremos emigrar queremos viver aqui. Gostamos de viajar mas nunca seremos felizes lá fora. tenho quase 40 anos, sei o que gosto e o que quero. Estudei, trabalhei, anos e anos, no duro. Agora acabou. Estou a tentar as ultimas possibilidades, mas no final deste ano se não ficar resolvido, vou partir. Eu e o meu amigo. Mas não é pra outro país. É para fora deste mundo. Não vale a pena viver. Adeus amigos, coragem, pra quem cá fica, vão precisar...

Alexandre de Castro disse...

Querida amiga anónima:
Fiquei atordoado e muito emocionado com o seu depoimento, que traduz bem o seu desespero, que é também um desespero de todos nós, daqueles que, abnegadamente, dentro das possibilidades de cada um, lutam incansavelmente contra a trágica tirania que se abateu sobre o humilde povo português.
Faço-lhe um veemente apelo para encontrar no mais íntimo de si um fio de coragem e uma centelha de ânimo.
Eu compreendo-a, mas ficaria feliz se, através da minha palavra, conseguisse levá-la a desistir dos seus desesperados intentos e a começar a resistir, lutando.
Coragem, minha amiga.

Alexandre de Castro disse...

Amiga leitora anónima:
Através do blogue, divulguei a sua dolorosa mensagem, que pode ver aqui:
http://alpendredalua.blogspot.pt/2014/05/no-limite-do-desespero.html
Muitos amigos e amigas estão a escrever-lhe.
Mesmo que queira manter o anonimato, apareça. Todos nós estamos à sua espera.
Um abraço solidário
Alexandre