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segunda-feira, 28 de abril de 2014

Anotação do Tempo: Abril não é uma mercadoria…


Abril não é uma mercadoria…

Nestes dias em que Abril renasce
os mercados não falaram,
emudeceram, mas não ficaram surdos
nem as suas mãos estremeceram
fecharam-se em silêncio nos corredores escuros,
para conspirar com o dinheiro sujo
pediram aos seus macabros tecnocratas
as estatísticas da morte
querem trocar o ouro pelo sangue
e perpetuar o saque
querem aumentar a cotação do ódio
aos cravos vermelhos da nossa liberdade,
investindo o seu fel na bolsa de valores da ignomínia,
onde bolçam todos os dias
… mas eles ainda não perceberam
que Abril não se compra nem se vende,
e que não tem preço…
Porque Abril não é uma mercadoria…

Alexandre de Castro

Lisboa, Abril de 2014

O 25 DE ABRIL - 100 FOTOGRAFIAS

Amabilidade de João Fráguas

domingo, 27 de abril de 2014

25 DE ABRIL - 40 ANOS- por Diamantino Gertrudes da Silva (capitão de Abril)


Mais que para celebrar, será de aproveitar esta efeméride para reflectir sobre os caminhos que até aqui nos trouxeram. Caminhos onde inegavelmente não será difícil identificar alguns progressos e alguns sucessos, a par de erros, uns que nós próprios cometemos, outros que resultam do sistema global em que nos inserimos e no qual nos sujeitamos a um jogo de dados viciados, em mesas que nós não vemos, e onde se sentam jogadores sem rosto.
E, por muito que puxemos pelas ganas da alma, não descortinamos razões para grandes manifestações de optimismo. A não ser o que nos é permitido ler no fio do devir histórico, tanto da humanidade como da nação portuguesa: de que, pesem todas as vicissitudes, mais tarde ou mais cedo, havemos de reencontrar o nosso caminho, o qual nos levará, assim esperamos, a um mais elevado patamar de progresso material, social e humano. Porque o mundo não pára, bem sabemos.
O 25 de Abril, independentemente da opinião de cada um é, inegavelmente, pelo menos pelas suas consequências, um facto histórico de determinante dimensão, uma ruptura, um traço vertical na história nacional com direito ao estatuto de referencial de um antes e um depois.
Nós, os militares de Abril, cuidámos do trabalho de casa. Fizemos um correcto estudo da situação, planeámos e executámos com reconhecida eficácia, e alguma sorte, admitamos, um cuidadoso plano de operações. Podem negar-nos qualquer auréola de heroísmo; mas não nos podem negar uma boa dose de coragem e de entrega àquilo que, a partir dum momento crucial, tomámos como uma missão, quando tivemos que nos despedir das nossas mulheres e dos nossos filhos e rumámos a um destino prenhe de incertezas.
Derrubámos a ditadura; segurámos quase até ao limite a magna questão colonial com vista à sua posterior resolução; avançámos com as medidas mais prementes no sentido de atacar o atraso e o que na altura pareciam ser os bloqueios do desenvolvimento do país. Apresentámos então um programa mínimo que passou a ser conhecido como o “Programa dos 3D”. E, programa mínimo, diga-se, e de curta duração, porque ninguém, honestamente, nos poderá acusar de termos ficado agarrados ao poder.
Hoje é bem claro que a seguir à grande, à inolvidável Festa, todos nós, tanto civis como militares, cometemos erros; só não os comete quem fica parado e à espera do que vier a seguir. Só que a História não admite “ses” nem se ocupa de julgamentos e consequente atribuição de culpas. Os erros e os sucessos alcançados poderão servir-nos, isso sim, para melhor entendermos o presente e construir uma ideia, ou melhor, um projecto de futuro. Que é o que nos parece que hoje não temos, de todo, enquanto país e nação orgulhosa de cerca de 900 anos de história e do seu decisivo contributo para o progresso da humanidade.
Pois, se atentarmos novamente no tal programa mínimo dos 3D; se deixarmos de lado, como facto irremediável, a Descolonização; se pensarmos no Desenvolvimento como uma sucessão de altos e baixos, mas sempre – e até parece que endemicamente – abaixo da linha de água, então que dizer da Democratização, do nosso sistema democrático progressivamente desfigurado e descaracterizado por interesses que nada têm que ver com a democracia e com os valores que lhe dão forma. E assim, viemos dar a esta “encruzilhada sem caminhos”. Temos a liberdade, é certo, esse supremo bem. Mas “Só há liberdade a sério…” (Sérgio Godinho).
Bem cedo fomos sendo alertados, primeiro por Maria de Lurdes Pintassilgo e mais tarde pelo Prof. Boaventura Sousa Santos, entre outros, para alguns visíveis sinais de enfermidade, chegando ao ponto de nos aconselharem a “Reinventar a Democracia”.
Nós, enquanto cidadãos e Militares de Abril, qualificação de que muito nos orgulhamos, continuaremos afincadamente agarrados, agora já não aos 3D, que tiveram o seu legítimo lugar histórico e melhor ou pior se cumpriram, mas aos valores perenes que foram a bandeira da mãe de todas as revoluções da Época Moderna.
Utopia? Já houve quem decretasse a morte de Deus, quem declarasse o fim da História e quem anunciasse o enterro das Ideologias. Na impossibilidade de garantir a sua morte, houve ainda quem se apressasse a apontar a inutilidade ou os perigos das utopias, esquecendo-se de que é de sonhos e utopias que se alimenta a alma dos homens.
Penso que é possível e realizável um mundo bem melhor do que aquele que temos, e aí está, penso eu, uma legítima esperança, uma bela utopia. Um mundo estruturado nos sólidos pilares da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade, caso para perguntar que mal farão utopias como esta. E, mais que de esperança, trata-se duma questão de fé. E dizem-nos que a fé pode mover montanhas.
O 25 de Abril ainda anda por aí. E tomamos como nossa a obrigação de mantê-lo vivo. Antes como hoje, nós fazemos questão de cuidar do trabalho de casa, usando os espaços de liberdade para denunciar e alertar, sempre que os valores de Abril estiverem em causa. E passar às camadas mais jovens os princípios enformadores de uma das revoluções mais lindas de todos os tempos. Olhe-se para o que vai por esse mundo fora…40 anos! Tanto e tão pouco tempo!...
Viva o 25 de Abril!                                                
Viseu, Abril 2014

***«»***
Não resisto à indiscrição de reproduzir aqui a mensagem que acompanhou este texto do meu amigo e antigo colega do liceu, Diamantino, porque não posso perder a oportunidade de deixar registado o testemunho direto sobre as operações militares daquela madrugada redentora, de um dos capitães de Abril, que nelas participou.
Verdadeiros «obreiros» da Liberdade, os capitães de Abril já conquistaram, pela sua coragem, determinação, abnegação e desprendimento, o lugar no “panteão” da nossa memória coletiva. E o povo português não pode perder, pela traição de alguns, aquilo que ganhou com a generosa revolução dos cravos.

"Amigo Alexandre

Admitindo que te possa interessar, junto envio, em anexo, o texto que preparei e li no final do Almoço-Comemorativo dos 40 Anos do 25 de Abril perante um auditório que teria para cima de 400 pessoas, realizado no Quartel do RI 14, de Viseu, unidade que tomámos no princípio da Madrugada de 25 de Abril de 1974 e donde parti com a força que depois se veio a juntar com outras de Aveiro e Figueira da Foz e que, uma vez juntas, constituíram o Agrupamento “November", cujo comando me tinha sido confiado e que tinha como objectivos, primeiro o forte-prisão de Peniche e depois Lisboa.
Nas circunstâncias locais, estavam ali militares, ex-militares, Deficientes das Forças Armadas, Órgãos do Poder Local e outros elementos de todas as cores partidárias locais, assim, num ambiente de "grande unidade", a que não podíamos nem devíamos, penso eu, dizer que não, face ao argumento de que o 25 de Abril não é propriedade de ninguém, se estivermos a falar de forças que, pelo menos formalmente sejam consideradas democráticas.
Durante o almoço houve animação musical, da nossa, da boa, e acabámos todos a cantar, com evidente entusiasmo, o "Grândola, Vila Morena". Não. Não estava lá o Relvas.
25 de Abril sempre!
Um abração
Diamantino" 

sexta-feira, 25 de abril de 2014

25 de Abril de 1974: Cronologia do golpe militar e outros aspetos da Revolução dos Cravos...


Este trabalho não foi visado por qualquer comissão de censura
Aquilo que hoje é uma expressão anacrónica estava em relevo na primeira página do "República", a 25 de Abril de 1974: "Este jornal não foi visado por qualquer comissão de censura". Quarenta anos depois da Revolução, veja os jornais, ouça os sons e compreenda como decorreu o "dia inicial inteiro e limpo", como lhe chamou Sophia. O Expresso falou ainda com cinco gerações de 40 anos e percorreu a "geografia" das ruas 25 de Abril de todo o país, falando com quem lá mora. Veja a reportagem multimédia.
EXPRESSO

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Heróis anónimos da Revolução dos Cravos


Diamantino Gertrudes da Silva (*) e o assédio ao forte de Peniche

Com 31 anos à data da Revolução dos Cravos, Diamantino Gertrudes da Silva era o mais velho capitão da Zona Centro e foi por isso nomeado pelo comando das forças revolucionárias para chefiar o "agrupamento November".
Reunido ao restante contingente na Figueira da Foz, teve a seu cargo a tomada da prisão de Peniche. Tendo enfrentado resistência, montou assédio ao forte, antes de continuar rumo a Lisboa, onde se deparou com dificuldades para reabastecer homens e viaturas.
Maria Flor Pedroso
Diário de Notícias [ver aqui a entrevista]

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Quando li e ouvi esta entrevista, escrevi esta mensagem ao Diamantino:
“A memória (com a reconstituição da tua fisionomia) recuou ao tempo em que frequentámos o liceu de Lamego e o de Viseu. 
Não conhecia os pormenores da tua intervenção nas operações militares do 25 de Abril. Calculo a ansiedade sofrida na longa caminhada até Peniche e até Lisboa, sem saberes bem, por falta de comunicações, o que estava a acontecer no resto do país. Esse glorioso dia foi a melhor página do teu melhor livro.
Nessa altura encontrava-me no Quartel General de Nampula. Foi o capitão Melo de Carvalho que me deu a notícia. 
Um abraço,
Alexandre

(*) Diamantino Gertrudes da Silva tem colaborado neste blogue com alguns dos seus textos.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

700 m2 de Bertone irritam o Papa Francisco


O ex-secretário de Estado do Vaticano, Tarcisio Bertone, inaugura em maio a sua nova residência no Vaticano. Trata-se de uma cobertura de luxo com 700 metros quadrados, o que está a irritar o Papa.
O cardeal Bertone, de 79 anos, que foi secretário de Estado de Bento XVI, está em contradição com o apelo de Francisco para uma "Igreja dos pobres", uma situação que está a provocar uma forte irritação no Papa argentino.
De acordo com o diário italiano 'La Repubblica', Bertone uniu dois apartamentos no último andar do Palácio de São Carlos, criando assim uma cobertura de 700 metros quadrados, cem dos quais constituem o terraço.A nova e luxuosa residência de Bertone fica praticamente ao lado da Casa de Santa Marta, onde o Papa Francisco ocupa 70 metros quadrados.
A nova residência de Bertone está a provocar o escândalo em Itália e um pouco por todo o mundo, mas o cardeal diz que precisa de espaço porque irá levar para a mesma residência as três freiras que trabalharam com ele quando foi secretário de Estado.

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Das três freiras que vão habitar as novas e luxuosas instalações  do cardeal Bertone (construídas à custa das esmolas e dos rendimentos proporcionados pelos  milagres), sabemos que uma delas é para lhe lavar os pés; outra para lhe lavar as mãos. Ignora-se a função da terceira freira.  Todavia, presume-se que seja uma função santificada.
Bertone quer gozar, por antecipação, as delícias do Céu, para onde irá a sua alma, após a morte. 

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Cortar no orçamento mata, conclui estudo sobre o suicídio na Grécia


Um estudo elaborado por uma Universidade britânica identifica uma relação precisa entre os cortes orçamentais efectuados no biénio de 2009-2010 e o aumento do número de suicídios registado na Grécia para o mesmo período. E conclui que esses cortes na despesa do Estado causam quase um suicídio por dia. Os autores querem investigar a mesma relação para outros países, incluindo Portugal.
O estudo da Univesidade de Portsmouth, citado no diário britânico The Guardian, refere que, para o período em consideração, o número de suicídios aumentou de 0,43 por cento a cada ponto percentual que era cortado na despesa do Orçamento de Estado da Grécia. A conclusão é que em 2009-2010 houve 551 suicídios exclusivamente atribuíveis a motivos de austeridade fiscal.
Nikolaos Antonakakis, juntamente com Alan Collins um dos co-autores do estudo, afirma que esta estimativa corresponde a "quase uma pessoa por dia. Considerando que em 2010 houve na Grécia cerca de dois suicídios por dia, parece que metade se deveu à austeridade".
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E se a austeridade não mata, pelo menos mói. Estão por contabilizar os efeitos nefastos da austeridade sobre a saúde mental das populações dos países que se sujeitaram, através da cumplicidade criminosa dos seus respetivos governos, à ofensiva financeira da Alemanha e de outros países ricos da Europa. Sabe-se, embora empiricamente, que a incidência das depressões e a dos estados de ansiedade crónica aumentou significativamente. Talvez o maior aumento percentual tenha ocorrido entre a população ativa mais jovem (a que, naturalmente, registaria uma menor incidência destas patologias de saúde mental, numa sociedade a viver na normalidade), e que ficou amarrada a um futuro sem perspetivas viáveis.
A incerteza sobre o dia de amanhã, que o governo de Passos Coelho cultiva com um elevado esmero e enlevo e com uma requintada perícia (veja-se o que está a acontecer atualmemte com os sucessivos anúncios e desmentidos dos próximos cortes nas pensões), está a provocar, naturalmente, doses acrescidas de ansiedade entre os reformados e os pensionistas, que vivem apavorados com a ameaça constante de puderem vir a acabar os seus dias na indigente pobreza. A frieza e o calculismo com que o atual governo lida com esta dramática situação revelam uma insensibilidade verdadeiramente escandalosa e criminosa. Brinca-se impunemente com a vida dos idosos, muitos deles ainda a exercerem uma função social importante, já que suportam até ao limite das suas possibilidades as carências dos filhos desempregados e até as dos seus netos.  

É por isso importante castigar com o voto os partidos do arco da traição (PSD/CDS e PS), os verdadeiros responsáveis da situação caótica que se vive no país. Do PSD e do CDS, já sabemos que pretendem apostar na austeridade, até o país ficar exangue. Do PS, embora o seu líder barafuste contra a austeridade, ainda não se viu um plano de alternativa consistente e viável. O que sabemos, e isto é factualmente objetivo, é que o Partido Socialista, além da adesão ao Memorando de Entendimento com a troika, que promoveu, também votou favoravelmente o Tratado Orçamental, um instrumento da UE, que vai limitar o poder de decisão dos governos em termos de política financeira. Com este Tratado, será a senhora Merkel, através da via da comissão europeia, que irá decidir onde o governo português irá gastar, no futuro, o dinheiro das receitas dos seus impostos. 

terça-feira, 15 de abril de 2014

PCP fala em "terrorismo social"


Já o líder parlamentar do PCP condenou os "cortes adicionais" anunciados pelo Governo e o seu "programa de terrorismo social", destacando as consequências severas para o sector da saúde perante a "racionalização" defendida pela ministra das Finanças.
"Todas estas medidas são cortes adicionais, porque o Governo passou os últimos três anos a dizer que era a troika que obrigava e que só existiam durante o período de duração do pacto", disse João Oliveira no Parlamento.
"Aquilo que a ministra das Finanças veio anunciar foi que, afinal de contas, para 2015, além da duração do pacto, haverá mais cortes. Portanto, são cortes adicionais que o Governo toma como opção para insistir neste programa de terrorismo social", continuou o deputado comunista.
A reunião do executivo liderado por Passos Coelho e Paulo Portas serviu para os ministros concluírem as medidas para o ano de 2015 que o Governo tem de entregar aos credores internacionais para encerrarem formalmente a 11.ª avaliação ao programa de assistência económica e financeira.

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Com um calculismo perverso, adotado em função do calendário eleitoral, o governo não anunciou, no seu programa “austeritário”, os brutais cortes nos rendimentos dos funcionários públicos e dos pensionistas, de que tanto se falou. Sub-repticiamente, fez circular pela comunicação social, de modo intencional, que as pensões iriam, já em 2015, ser indexadas a índices económicos e demográficos (o que na prática equivaleria à diminuição do seu valor nominal), com o único propósito de espalhar o medo e semear o pânico entre os visados e, também, ao mesmo tempo, para dar como isco, aos partidos da oposição, pretextos fáceis e argumentos fortes para que estes pudessem descarregar as suas críticas e os seus protestos. Ao anunciar outras medidas, que não as dos cortes nos rendimentos daqueles dois grupos sociais, aliás, umas medidas muito difusas e pouco concretas, incluindo as da área da saúde, o governo pretendeu provocar o efeito da aceitação do mal menor. Trata-se de uma tática já ensaiada em situações anteriores, o que levou parte da opinião pública, a mais informada e esclarecida, a colocar-se na defensiva, perante o anúncio da primeira versão de algumas medidas restritivas, por parte dos membros do governo, que, através de um percurso sinuoso de sucessivas reincidências, já se habituaram ao convívio íntimo com a mentira.
Nos próximos tempos, iremos ser massacrados com a narrativa sedutora da defesa dos interesses dos reformados e dos funcionários públicos, narrativa esta que será esquecida depois das eleições de 25 de Maio. A grande “patada” da besta será desferida logo a seguir.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Portugal já está à venda!...



Primeiro palmo de terra portuguesa vendido a um espanhol
O Governo português aceitou vender, em segredo, o terreno mais a Norte de Portugal a um proprietário espanhol. A população de Melgaço está revoltada, de acordo com o Jornal de Notícias, e exige que o negócio seja anulado.
“É lamentável, a todos os níveis, que tenham sido vendidos os primeiros palmos de terra de uma nação”. É desta forma que a população de Melgaço, nas palavras do deputado municipal do PSD Jorge Ribeiro, reage à venda, por parte do Governo, dos 60 metros quadrados de terreno mais a Norte de Portugal.
No terreno vendido, está a mais importante casa da Guarda Fiscal, que em tempos funcionou como uma prisão provisória para os contrabandistas, na fronteira que liga Melgaço a S. Gregório.
O negócio foi feito por ajuste direto e em segredo, com um proprietário espanhol, que pagou 2.800 euros ao Estado português.
“A nossa ideia é restaurar a casa, içar a bandeira portuguesa e colocar no local informações sobre a história da fronteira”, contou ao Jornal de Notícias o antigo guarda-fiscal Avelino Fernandes.
Para evitar situações futuras, o presidente da Câmara de Melgaço sugere que se qualifiquem os restantes edifícios das fronteiras como sendo de interesse municipal.

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Qualquer dia acordamos com a notícia de que o Mosteiro dos Jerónimos foi vendido a um chinês e o Museu Nacional de Arte Antiga a um angolano.

domingo, 13 de abril de 2014

Deolinda quer outro “25 de Abril”...


Deolinda vai a pé para a fábrica, porque não tem para o autocarro. Na confecção de Adelaide, há operárias que “fogem” ao almoço para esconder o facto de não terem para comer. Aumentar o salário mínimo vai ajudá-las? Sim, desde que não seja moeda de troca para mais precarização, respondem Farinha Rodrigues, Carvalho da Silva e Pedro Adão e Silva.
Como é que se vive com os 485 euros do salário mínimo nacional? “Não se vive. Sobrevive-se”, adianta Deolinda Araújo, empregada na têxtil, 54 anos.
Começou a descontar um ano antes do 25 de Abril de 1974 que trouxe o primeiro salário mínimo nacional (SMN) de 3.300 escudos para todos os trabalhadores. Tinha 14 anos, trabalhava desde os 11. A partir daí foi quase sempre a descer. Quem a imaginaria nesses tempos de conquistas a ter de ir a pé para a fábrica, quarenta anos depois, por não ter dinheiro para o autocarro?
"Ao fim do mês seriam mais 32 euros só em passe. Dantes ia de autocarro, o meu marido às vezes também me ia levar, mas depois a gasolina também começou a aumentar e o carro teve que ficar encostado", explica.
Começou a ir a pé, a regressar a pé, Baguim do Monte-Ermesinde, Ermesinde-Baguim do Monte, em Gondomar, todos os dias, sábados incluídos. “Levo entre 30 a 35 minutos para ir e outros tantos para vir. Isto desde há dois anos”. Terá sido a altura em que os 485 euros dela, somados aos 500 euros do marido, começaram a não chegar para pagar as contas. São 240 euros para a hipoteca da casa, o costume para a água, gás, electricidade, nem sempre chega para variar na fruta. “O meu filho, que tem 28 anos mas que ainda vive connosco, coitado, às vezes pergunta ‘Ó mãe, por que não compra uns iogurtes ou uma fruta mais variada?’ e eu fico a olhar para ele…nem sempre compro”.
Acrescem as contas com os medicamentos, por conta da diabetes do marido, mas quanto a isso, é como canta o outro, melhor na farmácia do que no cemitério. Não é isso que a traz deprimida. Nem o facto de ter deixado de fazer férias e de não saber o que é almoçar ou jantar fora há pelo menos quatro anos.
"Nem gosto de falar disto. Sinto uma revolta tão grande. Na fábrica vejo colegas a passar fome. Para almoçar, temos uma mesa e cada uma leva de casa. Lá mais para o final do mês, algumas saem da fábrica à hora de almoço para esconder que nem para a sopa tiveram. Aquelas, por exemplo, que os maridos ficaram desempregados e que começaram a ter discutimentos em casa. É que se a gente ao menos pudesse socorre-las… mas também não pode."
Deprime-a a forma como se sente maltratada. Conta que na sua confecção não se pratica o “banco de horas”. Pelas piores razões. “Eles não querem. Quem não trabalhar de graça ao sábado de manhã é logo encostado à parede. Começaram agora a ‘meter’ mais gente, mas continuam a exigir os sábados de manhã de graça, são quatro horas e meia. Se alguém reclama, respondem que quem não estiver bem é livre de ir para tribunal. E ninguém vai, claro. Sabe o que eu queria, menina? Outro 25 de Abril”.
Quarenta anos depois, Deolinda é apenas um dos perto de 400 mil trabalhadores que auferem o SMN. Entre o universo de 3,5 milhões de trabalhadores por conta de outrem, o Instituto Nacional de Estatística conta cerca de um milhão a receber entre 310 a 599 euros líquidos. A receber entre 600 e 899 euros líquidos há quase outros tantos – 957 mil. Eis o Portugal dos “working poor”, singularidade nacional que faz com que quem tem as mãos empregadas se confunda, nas estatísticas e na vida de todos os dias, com os que estão abaixo da linha de pobreza. “Os nossos 11 por cento de working poor confirmam a ideia de que hoje ter um salário já não é suficiente para livrar as pessoas da situação de pobreza”, precisa o especialista em desigualdades e distribuição do rendimento, Carlos Farinha Rodrigues.
A linha de pobreza mede-se a partir dos 409 euros por mês. Se aos 485 euros deduzirmos a contribuição de 11% para a Segurança Social, ficamos pouco acima disso, com cerca de 430 euros. “Um casal com dois filhos em que ambos ganham o salário mínimo, estão ambos em situação de pobreza”, concretiza o investigador no Instituto Superior de Economia e Gestão. É o resultado “da tentativa de forçar o empobrecimento em Portugal à custa da desvalorização do trabalho”. Um caminho que urge inverter. Não só por razões de equidade, mas porque “o aumento do SMN é hoje condição necessária para o crescimento económico”.
Num levantamento que divulgou esta semana, o economista Eugénio Rosa concluiu que, para conferir aos trabalhadores o mesmo poder de compra que ganharam em 1974, seria necessário aumentar o SMN para os 584 euros. O politólogo Pedro Adão e Silva também lembra que boa parte das desculpas para não aumentar o salário mínimo acabaram em 2006. “Uma das razões por que foi possível alcançar o acordo sobre o aumento do salário mínimo foi a criação do Indexante dos Apoios Sociais. Antes disso, a remuneração mínima era o valor de referência das prestações sociais, o que fazia com que se o salário mínimo aumentasse tivessem que aumentar também as prestações sociais todas”, recorda.
PUBLICO (da reportagem de Natália Faria)

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Sangra o coração, ao ouvir o desabafo de Deolinda, a que se juntam os abafados gritos de desespero de todas as “Deolindas” do meu país, que, mesmo trabalhando até ao limite da escravidão (as quatro horas de sábado não são remuneradas), não conseguem sair da linha limite da pobreza.
Que país é este, que admite esta humilhação gritante, ao saber-se que existem milhares de trabalhadores honrados que não ganham o suficiente para o seu almoço nem para o transporte para o seu local de trabalho!...
É urgente fazer o “25 de Abril”, que a Deolinda reclama, com toda a revolta que lhe enche a alma. É urgente!... Mas terá de ser um “25 de Abril” sem cravos e sem brandos costumes, para que o nosso futuro coletivo não seja mais assombrado pelos crápulas que nos governam e pela matilha que nos explora.
AC

PCP e CGTP solidários com protesto de reformados em Lisboa


Os secretários-gerais da CGTP e do PCP manifestaram-se hoje solidários com os milhares de reformados e pensionistas que esta tarde protestaram em Lisboa contra os cortes nos salários e nas pensões, os quais também lembraram os ideais de Abril.
"Estamos aqui para dizer que os trabalhadores no ativo de hoje são os filhos destes homens e mulheres, destes pais e mães, destes avós, e estamos com eles numa luta que é de todos", afirmou o secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, que esta tarde se juntou ao protesto e saudou alguns idosos, distribuindo cravos vermelhos.
Arménio Carlos enalteceu o facto de "estes homens e mulheres, ao contrário do que alguns pensavam, não estarem resignados, nem tão pouco condenados a ficarem na exclusão e no isolamento".
Também o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, se juntou à manifestação e demonstrou a solidariedade do partido com aqueles que estão a sofrer cortes nas reformas.
"Esta é uma manifestação, não só de solidariedade, mas também de admiração. Creio que é caso único na Europa uma manifestação em vários pontos do país de um setor que tem sido profundamente fustigado por este Governo, por esta política, sujeito a sistemáticos cortes e ao roubo das suas pensões e das suas reformas", afirmou Jerónimo de Sousa.

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Os dirigentes do Partido Socialista, e, principalmente, o seu Secretário-geral, António José Seguro, primaram pela ausência, esta tarde, na manifestação dos pensionistas e reformados, muitos deles militantes e simpatizantes ou simples eleitores tradicionais daquele partido, que assim não puderam rever-se no ideário político em que acreditaram até este momento. Naturalmente, que se sentiram traídos e frustrados, pois é nestes momentos de veemente protesto, que os dirigentes partidários devem estar presentes, junto dos seus militantes e simpatizantes, e também dos seus eleitores. É muito provável que alguns daqueles manifestantes do partido da rosa comecem a perceber que António José Seguro apenas refere os reformados e pensionistas como pretexto para atacar o governo de direita e para ganhar mais votos entre o eleitorado descontente. Ele não está nada interessado em resolver os problemas deste fragilizado grupo social, até porque não pode, devido ao seu secreto alinhamento com a política dominante da UE (ele assinou o Tratado Orçamental). Ele apenas se aproveita do problema.
Sabe-se que António José Seguro não quer estragar a sua imagem de político alinhadinho  - no pensamento político e nos comportamentos - com o figurino europeu do politicamente correto, que rejeita, de todo, o alinhamento em manifestações de rua, consideradas pejorativamente de arruaças do povo miúdo. É certo que António José Seguro, se comparecesse, também não saberia como deveria comportar-se, ele que passou uma vida a treinar ao espelho as poses corretas de um candidato a primeiro-ministro de Portugal. Não saberia onde meter as mãos e hesitaria muito se levaria ou não a gravata. Outro problema que se lhe colocaria seria o de participação ativa na entoação dos slogans. Não tenho dúvidas que se sentiria ridículo, e cheio de medo que a Kaiser alemã começasse a rir-se, quando o visse naqueles propósitos, na televisão.
AC

sábado, 12 de abril de 2014

Notas do meu rodapé: Razão, Moral e Biologia

Presidente do Uruguai, Mujica, em discurso Rio+20
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O homem é o maior predador de si próprio e do próprio ambiente onde vive. E isto acontece desde que o primeiro bípede descobriu que a tíbia de um rinoceronte morto podia ser uma arma de ataque e de defesa, muito eficaz para neutralizar o seu semelhante e abater animais selvagens. A partir daí, a guerra foi uma constante na História da Humanidade, intervalada por curtos períodos de paz. Até hoje!.. E, desde o momento em que aquele primeiro bípede descobriu que, dando uma forte pancada na cabeça do seu semelhante, podia roubar-lhe um pedaço de carne, a guerra começou a ter como causa a economia. 
Durante todos estes milhões de anos, que o Homem leva sobre a Terra, nenhum moralista conseguiu impor às sociedades um comportamento e uma praxis, tendo na base os valores da equidade, da justiça e da paz, valores estes que são arquétipos do ideal que os mais lúcidos foram construindo ao longo do tempo. 
A violência é uma característica de substrato biológico do mundo animal e do próprio Homem, que pode ser minimizada e controlada, mas não irradicada. A aquisição da racionalidade pela espécie humana não superou o instinto, que se impõe soberano ao comportamento, quando o impulso da sobrevivência ou o desejo de dominar prevalecem. Podemos pois dizer que a guerra é uma decisão biologicamente racional e moralmente irracional. E o que a História nos ensina é que em tempos de crise a moral é atirada para o caixote do lixo e que, depois, começa a ser adotada a moral e a justiça do vencedor. Sempre foi assim e assim continuará a ser para mal da Humanidade, até que o relógio biológico consiga, no processo evolutivo, acertar as horas entre a Razão e a Moral. 
O mesmo problema se coloca em relação ao ambiente. Os mais fortes são os primeiros, clandestinamente ou à luz do dia, a torpedear os acordos que subscreveram em relação à proteção do ambiente. Também aqui se pode dizer que destruição do ambiente pode ser minimizada e controlada, mas nunca poderá ser irradicada. É uma fatalidade. No entanto, este ceticismo, sustentado por uma visão, aparentemente realista, não invalida o desassombro e brilhantismo das palavras do presidente do Uruguai, que deu uma bofetada de luva branca aos países mais ricos, Mas, quando ele diz que a causa dos problemas ambientais não é a Ecologia, mas sim a Política, não tem razão, ou apenas tem metade da razão. Antes da Política está a Economia, que é dominada pelos mais ricos entre os ricos. Quando ele diz que são os mercados a comandar o Homem, também apenas diz a meia verdade. É que os mercados são desenhados e ferreamente controlados pelos mais ricos entre os ricos, a fim de assegurarem e perpetuarem o seu domínio sobre os outros homens, servindo-se dos políticos e da ideologia dominante.
No nosso tempo, o sistema político designa-se por imperialismo, o sistema económico por capitalismo financeiro internacional e o sistema ideológico por neoliberalismo, todos eles dominantes à escala planetária. Chegados ao fim da linha, apressemos a conclusão: Só com outro sistema político, só com outro sistema económico e só com outra ideologia se poderá fazer a mudança para a conceção e aplicação de um novo paradigma universal, que tem de se basear no axioma de que é necessário garantir, custe o que custar, uma vida minimamente digna aos mais miseráveis pobres do planeta, baixando os limiares da riqueza, a quem a possui, até que se consiga aquele desiderato. Tem de se inventar a Economia do Bem Comum... E, mesmo assim, permanecerá sempre a dúvida se será possível derrotar a Biologia.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Sapatos na margem do Danúbio como se 1944 tivesse sido há pouco





“À memória das vítimas mortas a tiro para o Danúbio por milicianos da Cruz de Ferro [o partido húngaro que defendia as mesmas ideias do Partido nazi da Alemanha] em 1944-45. Erguido a 16 de Abril de 2005”, dizem as placas.
As pessoas assassinadas receberam ordens para tirar os sapatos antes de serem mortas. No memorial do realizador Can Togay e do escultor Gyula Pauer, eles estão lá, uns maiores e outros mais pequenos, de homens, mulheres e crianças, parecendo mesmo acabados de tirar.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Carta Aberta ao Povo do meu país - por Leonilde Santos


Carta Aberta ao Povo do meu país

Foi a olhar este edifício da janela do meu quarto que me conheci como gente, há quase 55 anos.
55 anos que hoje revejo e em que faço o balanço, na balança da memória do que ganhei nas muitas lutas travadas e o que perdi nelas.

Nasci neste país, poderia ter nascido noutro.
Nasci no seio de uma família de classe média. Os remediados como se dizia na época.
Mas os meus antepassados eram gente do campo ligados à terra ou pela lavoura ou pela pastorícia.

Não podia ter mais orgulho do que sinto pelas minhas origens humildes e simples.

Orgulho de ter sido neta de pastores e de lavradores, de uma avó que lavava roupa na ribeira e guardava ovelhas e que um dia deixou a sua aldeia na Serra da Estrela para vir para Lisboa, para a capital fazer-se à vida que eram oito irmãos e todos passavam fome.

Orgulho de ter sido neta de um homem que descia às entranhas da terra para instalar os motores que traziam à superfície o carvão, as pirites, o volfrâmio e o urânio e que vestia ganga e calçava botas ferradas quando de braço dado com os seus companheiros nas minas marchava em manifestações de protesto para reclamar o direito a salários dignos e a cuidados médicos àqueles a quem os pulmões rebentavam cheios do pó da terra... a mais dura das profissões deste mundo.
Orgulho por ser neta de um homem que deu a vida e trocou a sua liberdade e conforto pelo que era justo.
Um homem de quem herdei o nome e a vontade férrea de não ceder submissa ao despotismo, de recusar a caridadesinha e a pequenez de espírito, um dos muitos mártires da ditadura de Salazar.

Foi a olhar este edifício de arquitectura redonda que eu percebi a redondez do mundo que me rodeia e os meus olhos se abriram para a dureza da vida de muitos e para a injustiça que o meu povo tem sofrido ao longo de gerações.

Foi à porta deste edifício e pelas ruas em redor que eu vi ao longo de anos os mais pobres desta minha cidade a pedir esmola ou a correr de canasta à cabeça a fugir da polícia que lhes queria impedir de ganhar o pão para os filhos.

Foi a olhar este edifício que na madrugada de 25 de Abril de 1974 eu percorri as ruas em redor subindo ao Instituto Superior Técnico para me encontrar com uma professora que me estava a preparar para o meu exame de matemática do antigo quinto ano dos liceus e me deparei com os chaimites que percorriam as ruas e que nos traziam o cheiro da liberdade desejada.

Sim, foi há 40 anos que eu tive um vislumbre do sonho que levou cedo demais o meu avô que nunca abracei, o vislumbre de um país que todos os que me antecederam sonharam, o sonho de uma vida digna em que cada um possa ser feliz e ser livre vivendo com dignidade até morrer e ao morrer, morrer com dignidade sem ter de estender a mão à caridade para levar um pedaço de pão à boca ou ter o seu corpo atirado para a vala comum como se faz aos cães!

Sim foi há 40 anos que então adolescente mas já consciente e atenta ao meu redondo mundo de horizontes infinitos eu gritei de alegria e corri de braço dado com os sonhos até ao Terreiro do Paço e me vi no meio do meu povo, inquieto e expectante, indiferente aos tiros que por nós poderiam passar (como passaram no Largo do Carmo) e abraçámos o sonho e beijámos rostos que mal conhecíamos e gritávamos fora com a ditadura, viva a liberdade!

Foi há 40 anos que subi as ruas em redor e por vielas e becos cheguei ao Largo do Carmo, trepei às árvores tal como fazia na aldeia dos meus bisavós em criança e fui criança/mulher inteira, verdade e grito, esperança e asas de andorinha a tentar voos mais longos e mais belos.

Foi há 40 anos que vi um homem de pé, naquele largo a dar o peito às balas, na sua inocência generosa.

Foi há 40 anos que todo o meu povo que abracei naquele largo, naquele dia que parecia eterno, todo esse meu povo, sem medo de morrer por esse sonho, demos o peito e o rosto e teríamos dado a vida se assim fosse a vontade dos tiranos.
Ninguém arredou pé.
Ninguém temeu.
Ninguém cedeu.
Ninguém daquele meu povo que abracei naquele largo, desistiu ou baixou os braços, ou estendeu a mão implorando caridade.
ONDE ESTÁS TU POVO MEU, ONDE ESTÁ AQUELA CORAGEM DE HÁ 40 ANOS?
ONDE ESTÃO OS ROSTOS E OS RISOS E OS SONHOS QUE ABRAÇÁMOS NAQUELE DIA QUE NOS PARECIA ETERNO?

Sim foi há 40 anos que nos abraçámos e fomos um povo de que me orgulhei pertencer, um povo de gente sem medo nos olhos porque estava cansado de ter medo e de ter fome e de estender a mão à caridade ou de fugir de canasta à cabeça da polícia que nos impedia de viver, de ganhar o pão de cada dia.
Sim foi há 40 anos que nos abraçámos e deixámos de ser estranhos porque éramos todos irmãos da mesma Mátria onde alguns poucos nos roubavam a dignidade e nos pediam a vida lá longe em terras que não eram nossas, para que esses poucos vivessem bem, comessem melhor, tivessem casas e carros e vida!

ONDE ESTÁS TU POVO MEU, ONDE ESTÁ AQUELA CORAGEM DE HÁ 40 ANOS?
PARA ONDE VOARAM AS ANDORINHAS QUE FAZIAM NINHO NOS BEIRAIS DOS NOSSO SONHOS?

PORQUE DESISTISTE TU POVO MEU DE LUTAR, DE EXIGIR E RECLAMAR O TEU PAÍS, A TUA MÁTRIA, A TUA VIDA E DIGNIDADE?

Eu já não posso correr contigo de braço dado pelas ruas e vielas da cidade onde nasci. A doença tolhe-me as pernas que antes subiam comigo às árvores do Largo do Carmo.

Eu já mal posso dar abraços mas ainda luto, do jeito que eu sei e que eu posso e dou o rosto e o peito às balas se assim for a vontade dos tiranos, mas não me peçam que ajoelhe, nem me peçam que seja submissa, nem me obriguem a estender a mão à caridade porque não me vergo e hei-de morrer de pé ou a voar com as andorinhas, mas não me vendo, não venderei a minha dignidade!


Esta sou eu, Leonilde Santos de meu nome, Noélia de Santa Rosa na escrita, mas portuguesa inteira e sempre em luta.

Agradecimento


Agradeço à Maria José Torres Vilanova a amabilidade de ter aderido ao Alpendre da Lua, como amiga/seguidora.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Notas do meu rodapé: O trio da Traição...



A desvalorização salarial foi, no seu devido tempo, corretamente sinalizada, como sendo o objetivo principal de um vasto conjunto de medidas constantes no Memorando de Entendimento, assinado  com a troika (UE/BCE/FMI), pelas mãos do PS, do PSD e do CDS, sem que o povo português fosse informado e esclarecido sobre a dimensão e a gravidade das consequências da sua cega aplicação. Na altura, poucos eram os portugueses que admitiam as profundas e gravosas mudanças de que iriam ser vítimas, nos anos posteriores. Isto, apesar dos avisos e dos alertas do PCP e de outros partidos e movimentos de esquerda e de muitos economistas neokeynesianos e marxistas. Na campanha eleitoral, que se seguiu, o assunto, por ser incómodo, não foi debatido, e os partidos que o assinaram, prosseguindo na lógica da mentira e da demagogia endémicas, quando ao acordo com a troika se referiam, era apenas para lhe elogiar os benefícios para os portugueses, já que os nossos "amigos" da Europa estavam dispostos a “enviar” dinheiro para Portugal (não se falava de empréstimos, na altura), por estar a atravessar uma situação financeira difícil. E isto era afirmado com uma desfaçatez abjeta. E, na campanha eleitoral, o recurso à despudorada mentira atingiu o seu máximo expoente com as repetidas declarações de Passos Coelho, a prometer (fazendo uma fisga), e na senda do que nas eleições anteriores também afirmara José Sócrates, que não aumentaria os impostos nem procederia aos cortes dos subsídios dos funcionários públicos e dos pensionistas.
Nesta sequência pendular da alternância no poder, entre o PS e o PSD, em que a mentira e a demagogia são a regra de ouro, é legítimo duvidar da palavra e das intenções de António José Seguro, uma vez que ele, nas suas intervenções públicas, apenas debita um inflamado discurso de generalidades inócuas, de contestação à política do governo, e que vão ao encontro das expectativas legítimas daqueles que, entre os mais ingénuos, estão a sofrer na pele o peso da austeridade.
António José Seguro nada diz sobre o Tratado Orçamental Europeu, que o PS aceitou, e que incorpora medidas gravosas para os países endividados e com défices orçamentais elevados. Tal como o Memorando de Entendimento, de 2011, o Tratado Orçamental, de 2012, vai implicar mais medidas de austeridade, que irão afetar gravemente a sustentabilidade do Estado Social (o garante da equidade e coesão sociais) e a desvalorização salarial, penalizando principalmente a classe média e a classe de menores rendimentos.
Nesta perspetiva, votar no PS, no PSD e no CDS, nas próximas eleições para o Parlamento Europeu (uma instituição europeia sem poderes de decisão e que fica muito cara aos contribuintes), é entregar a alma ao diabo e assinar a sentença de morte de um país que já está a envelhecer e a empobrecer, devido unicamente à letal ação governativa daqueles três partidos, ao longo dos últimos trinta e oito anos. 
AC 

domingo, 6 de abril de 2014

Que esperar dos nossos credores? - por António Catita


À exceção dos partidos da coligação e seus adeptos, há uma convicção generalizada de que é urgente renegociar as condições da nossa dívida.
Não será porém fácil demover os credores, ligados intimamente, como estão, aos grandes interesses económicos que dominam toda a política ocidental. (...) Li uma entrevista com Marisa Matias, deputada com assento no Parlamento Europeu. Foi como relatora desse órgão que participou em reuniões com o Banco Central Europeu, de cuja administração obteve uma resposta muito eloquente: As medidas impostas a Portugal alcançaram um "indicador positivo", a baixa do custo do trabalho no País. Tão honesta resposta revela bem a estratégia global da troika e portanto dos altos interesses económico-financeiros que nos governam: baixar ao máximo os níveis salariais dos países não industrializados, para que as empresas dos poderosos tenham à sua disposição, em países permanentemente dependentes, um manancial de mão-de-obra baratíssima.
António Catita
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Cercados pela economia dos EUA, com um maior valor acrescentado, e pelas economias dos países asiáticos, principalmente a da China, com baixos custos salariais, as economias mais robustas da Europa, com a da Alemanha à cabeça, estão a promover aceleradamente, através da austeridade, a baixa dos custos unitários do trabalho nos países do sul da Europa. Ou através da migração de trabalhadores dos países mais pobres ou, no futuro próximo, deslocalizando meios de produção para as economias destes países, os países ricos vão ver assim aumentada a sua competitividade. 
Com esta reestruturação económica à escala europeia, os desequilíbrios entre os países ricos e os países pobres tenderá a agravar-se. Não serão as remessas dos emigrantes, que, a curto e a médio prazo, virão atenuar os desequilíbrios de médio e longo prazo, provocados aos países da periferia, dos quais se destacam, principalmente, as futuras quedas da natalidade, que irão marcar um destino duradouro de uma pobreza endémica e de um acentuado subdesenvolvimento.

Pintura: Quadros de antes do Terramoto de 1755 serão expostos ao público em Lisboa (*)

Paço da Ribeira (atual Terreiro do Paçp)

Hospital Real de Todos-os-Santos (atual Rossio)

Mosteiro dos Jerónimos

Convento de Mafra

Quatro quadros pintados a óleo que representam paisagens antigas da cidade de Lisboa estarão em exposição na Cordoaria Nacional a partir deste sábado. As obras são propriedade do Antiquário AR-PAB constituído por Álvaro Roquette e Pedro de Aguiar-Branco.
As pinturas do século XVIII serão expostas no decorrer da Feira de Arte e Antiguidades de Lisboa, organizada pela Associação Portuguesa de Antiquários, entre os dias 5 e 13 de Abril. Os quadros foram adquiridos no mercado de antiquariado internacional e o conjunto dos quatro está agora disponível para venda. “Estes quadros só podem ver vendidos em conjunto, nasceram juntos e pelo menos nas nossas mãos serão vendidos assim”, explica Álvaro Roquette em comunicado.
Os quadros mostram o Hospital Real de Todos-os-Santos, o Palácio da Ribeira, o Mosteiro dos Jerónimos e o Convento de Mafra. Será a primeira vez que os quatro quadros serão expostos.
Datadas de antes do terramoto de 1755, as obras são uma imagem da paisagem lisboeta antes do abalo que deu origem a grandes alterações na reconstrução da cidade. São pinturas que já contribuíram para o conhecimento de edifícios já desaparecidos bem como para o estudo de hábitos de consumo de obras de arte na segunda metade do século XVIII em Portugal. Têm a dimensão de 50X60cm.
PÚBLICO
(*) As pinturas antigas estão disponíveis para venda, mas só se poderá adquirir o conjunto das quatro.
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O terramoto de 1755, além das mortes provocadas e da destruição do património edificado (não só em Lisboa), destruiu também o espólio de importantes obras de arte, acumuladas em palácios e em igrejas. Ao mesmo tempo, perdeu-se, no meio dos escombros e das chamas, grande parte da documentação existente no Palácio da Ribeira e na anexa Casa da Índia, relativa aos Descobrimentos, ao comércio com o Oriente e com a Flandres e à ciência náutica, e que tanta falta faz, para preencher as brechas e as lacunas da nossa historiografia marítima.