Primeiro-ministro considera que "o grande
desafio do futuro é os cidadãos escolherem o local onde pretendem receber os
tratamentos de saúde".
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Ao eleger, como argumento, o princípio de cada
português poder escolher a unidade de saúde, onde pretende ser tratado, o
primeiro-ministro assumiu em público, e pela primeira vez, os reais objetivos
do seu governo em destruir o Serviço Nacional de Saúde (SNS), dando assim curso
às medidas concertadas, já anteriormente desenvolvidas em surdina, e sem grande
alarme social geral, pelo seu ministro da Saúde, que tudo tem feito para
desvitalizar as unidades de saúde públicas, retirando-lhes progressivamente os
meios humanos e os recursos financeiros necessários para o seu normal
funcionamento, e abrindo assim o espaço de negócio aos grandes interesses
privados nesta área (bancos, seguradoras e grandes acionistas individuais).
Este argumento, o da liberdade de escolha, que é
uma enorme falácia, também já foi usado para justificar o encerramento de
escolas públicas, ao mesmo tempo que, secretamente, se financiaram as escolas
privadas. Mas, o que acontece é que essas escolas privadas, impregnadas de um
culto social elitista (o que não significa melhor ensino) continuam a ser
seletivas na admissão dos seus alunos, através dos elevados preços praticados, o que
afasta automaticamente os alunos de uma família portuguesa com rendimentos
médios.
Os grandes capitalistas indígenas, que não têm
massa crítica, nem competência para liderar o desenvolvimento da economia
portuguesa, lançando-se em projetos empresariais inovadores, que se imponham no
mercado global, e assim promovam o aumento vigoroso do setor exportador,
preferem mais uma vez encostar-se aos favores do Estado, o que tem sido
historicamente uma constante. O Estado Social (Educação, Saúde e Segurança
Social) sempre despertou, depois do cavaquismo, a gula dos grandes
capitalistas, os privados institucionais e os privados individuais. É um setor que vale milhares
e milhares de milhões de euros, e que apresenta potencialmente elevados
retornos em lucros. Só que, com o tempo, e depois do foguetório inicial a
anunciar o acesso universal aos serviços privados, as classes médias menos
endinheiradas e as classes pobres são sacudidas para os serviços de saúde do Estado,
entretanto já depauperados.
Os portugueses não estão minimamente
interessados na liberdade de escolha, como pretendem fazer crer os corifeus do
regime. O que eles querem, e que lhes foi sendo dado pelo SNS, é a equidade e a
qualidade no acesso às unidades de saúde e à prestação dos cuidados médicos e
de enfermagem. Eles não querem que à entrada lhes seja feito um diagnóstico à
carteira, antes de lhes ser feito um diagnóstico clínico, tal como acontece em algumas unidades hospitalares privadas. Querem continuar a
usufruir de um direito que lhes foi garantido pela revolução de Abrir e
consagrado na Constituição da República.
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