Austeridade não pára.
Bruxelas quer cortar mais 1,6 mil milhões em 2015
Ao início a troika prometia um crescimento acumulado de 4,1% de 2012 a 2015. A austeridade matou essa miragem mas vai continuar: mais 5,5 mil milhões até 2015
O programa de ajustamento em que Portugal caiu
em meados de 2011 veio embrulhado num cenário idílico sobre a evolução da
economia portuguesa, pelo menos no conjunto de previsões feitas então pela
Comissão Europeia, que ao final de dois anos são já impossíveis de atingir.
Segundo o plano inicial do programa, Portugal
deveria chegar ao final do prazo do programa com um défice não superior a 2,3%,
uma dívida abaixo dos 108% e um ano e meio de crescimento em cima - 1,2% em
2013 e 2,5% em 2014 -, o que faria com que a economia voltasse a depender dos
mercados na mó de cima.
Agora, com as previsões da Comissão Europeia
ontem divulgadas, é cada vez mais evidente que Portugal vai perder a almofada
da troika e regressar aos mercados numa condição deplorável face ao prometido
inicialmente: se no Verão de 2011 as previsões apontavam para um crescimento
acumulado de 1,9% até 2014 - contração de 1,8% em 2012 seguida de crescimento
de 1,2% e de 2,5% em 2013 e 2014 -, agora o PIB quando Portugal sair do
ajustamento acumula uma contração de 4,2%, valor também longe do que era
previsto por Bruxelas ainda há um ano.
Comparações idênticas são possíveis com as
restantes previsões feitas pela troika e que justificavam o regresso de
Portugal aos mercados em 2014: a dívida seria de 107,6% no ano do regresso mas
vai ser de 126,7%; o desemprego rondaria os 11,6% mas vai rondar os 17,7%; o
défice orçamental já estaria nos 2,3% mas afinal está nos 4%, etc. E ao ritmo a
que as previsões vão sendo revistas, também a carga de austeridade imposta aos
portugueses tem sido aumentada, ainda que de forma menos clara que as previsões
feitas recorrentemente. Só a data de regresso aos mercados permanece igual.
***«»***
E o saque continua! Fujam que Portugal já está a
arder!
Prometeram-nos o céu e estão a atirar-nos para o
inferno.
Merkel afirmou, há uns quatro meses, que a
austeridade apenas duraria mais cinco anos. Coisa pouquechinha!
Vivemos conturbados tempos, em que nada é
provisório. É tudo definitivo. Até a austeridade!...
Eu não sei como isto vai acabar. O que sei é que
alguma coisa está a começar, pois já nada poderá ser igual. E poderá ser que,
mais uma vez, a luz apareça sobre os escombros de uma tragédia. Uma tragédia
que já é inevitável.
A comissão europeia perdeu toda a legitimidade
em exigir mais medidas de austeridade a Portugal. Além de ser a verdadeira autora material
do Memorando de Entendimento, ela admitiu, em função das sucessivas avaliações
dos funcionários da troika, que aquelas medidas seriam as mais ajustadas em
relação à prossecução dos objetivos pretendidos, nos quais se incluía a normalização
das finanças públicas de Portugal. O fracasso foi flagrante. Nenhum dos
objetivos dos indicadores macroeconómicos foi atingido, sofrendo todos eles um preocupante
agravamento, o que está a colocar problemas acrescidos aos portugueses, cuja
maioria ingenuamente acreditou que a austeridade que lhes era pedida iria ser
compensada no final do tal plano de ajustamento, que a própria comissão
europeia desenhou, em parceria com o FMI e BCE.
Quer o governo português, a soldo dos interesses
da capital financeiro, quer a comissão europeia (um braço institucional desses
mesmos interesses) são os únicos responsáveis da grave situação criada a Portugal.
No futuro irá saber-se se atuaram por incompetência ou por má-fé. Eu inclino-me a admitir a segunda hipótese.
AC
1 comentário:
As ratazanas não são eternas
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