O jornal norte-americano The New York Times,
naquela que é a sua edição internacional, comparou os portugueses ao burro
mirandês. Isto porque, de acordo com aquela publicação, esta raça retrata a
situação do País: o seu papel foi essencial durante anos, mas agora está em
risco de extinção e vive dependente de verbas da União Europeia.
“Não é fácil ser um burro hoje em dia”. É assim
que começa o texto publicado na quinta-feira no The New York Times, que se
refere à extinção do burro mirandês.
De acordo com aquela publicação norte-americana,
a situação vivida em Portugal é semelhante ao destino da raça. Isto porque,
apesar de o animal ter sido essencial durante séculos no sector agrícola, está
actualmente em vias de extinção devido à desertificação do interior do País,
dependendo de apoios externos para evitar o pior.
Segundo está escrito no artigo, “depois de
décadas de negligência e mal-entendidos, argumentam alguns, o destino do burro
veio a assemelhar-se ao dos seus homólogos humanos no interior da Europa em
dificuldades: ameaçados pela população em declínio e dependentes dos subsídios
da União Europeia para sobreviverem”.
Além disso, “como os jovens continuam a deixar
as áreas rurais e a deslocar-se para as cidades, os burros estão a ser
ameaçados também porque os onze agricultores que cuidavam deles estão a ficar
velhos demais para o continuar a fazer”.
No texto assinado pelo jornalista Raphael
Minder, que se deslocou até à Paradela, lê-se ainda que “o grande e dócil burro
mirandês é considerado uma espécie ameaçada desde 2003”, mas isso não impediu
que fosse substituído “pelo tractor e equipamento agrícola mais moderno”.
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ao Minuto
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E não é que isto até começa a ser verdade!...
Estas notícias escandalizam-me cada vez menos...
1 comentário:
Amigo Quim: Reconheço que o tema seja sensível e controverso, embora ele não tenha suscitado muitos protestos de indignação, quer nas redes sociais, quer na comunicação social, o que não teria acontecido numa situação de normalidade política, económica e social do país. Pode condenar-se a escolha da metáfora, mas não se pode negar a verdade da substância que lhe serviu de base: a crónica passividade do povo português, perante o esbulho de que está a ser vítima. Há razões históricas, sociológicas, religiosas e culturais que explicam o fenómeno. Até poderíamos acrescentar razões geográficas, relacionadas com a sua situação periférica (o país mais periférico da Europa, devido ao obstáculo da Espanha), que determinaram um isolamento secular em relação aos dinâmicos centros económicos e culturais europeus. Tivemos a Contra-Reforma, em vez da Reforma. A Revolução Francesa chegou tarde, e foi epidérmica. A República não conseguiu converter o mundo rural, que ficou dominado pelos padres, Salazar exigiu respeitinho, e o 25 de Abril ficou incompleto. A mentalidade do povo é uma consequência de uma amálgama de fatores, a determinar a sua abulia política. As eleições autárquicas mostraram isso mesmo. A direita não deu o trambolhão que se esperava e que se desejava. O povo foi bem domesticado, ao longo da sua História. E foi esta passividade, esta abulia, esta incapacidade de perceber o que lhe está a acontecer o que o jornalista pretendeu exprimir, e que é a verdade. A metáfora, foi, certamente, deselegante, mas foi, sem dúvida, a mais expressiva e a mais certeira. Abraço.
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