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terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Notas do meu rodapé: Uma crise política à vista...

Deu para perceber que a proposta de Orçamento de Estado para 2010, discutida no plenário da Assembleia da República, não era uma proposta para levar a sério, já que não era consequente com a realidade económica e financeira do país, que, como se sabe, é extramamente grave e dramática. Tratava-se, de sobremaneira, de uma proposta orçamental de sobrevivência política de um governo de maioria relativa, e que, previamente, já estabeleceu uma estratégia para precipitar uma crise política, sustentada no argumento da ingovernabilidade, tentando, no entanto, endossar o ónus da culpa para as oposições.
Afirmou-se aqui, no Alpendre da Lua, no período subsequente às últimas eleições legislativas, que José Sócrates, com o seu perfil autoritário, não tinha características para liderar um governo sem maioria absoluta, o que exige uma grande flexibilidade negociadora e uma capacidade para forjar entendimentos.
Tecnicamente, a proposta do OE é irrealista, já que adia o esforço da redução do défice orçamental, exigido por Bruxelas e pelos bancos internacionais, para os orçamentos dos três próximos anos, apoiando-se na falsa presunção de que a economia poderá crescer um pouco com o aumento do consumo interno, que a redução do IRS sobre os escalões de rendimento mais baixos poderá a vir possibilitar, afastada que está a hipótese de fazer crescer o PIB, através do aumento das exportações (uma vez que um dos dois maiores comerciais também experimenta uma crise gravíssima) e do aumento do investimento. Com a economia a crescer, mesmo que ligeiramente, já seria mais fácil reduzir as contestações às duras medidas previstas.
Se o prognóstico se confirmar, ou seja, se o argumento da ingovernabilidade ganhar credibilidade na opinião pública e se José Sócrates conseguir fazer passar a imagem, falsa, naturalmente, da bondade das suas intenções, ele irá arrancar com toda a sua energia e toda a sua força anímica para a conquista de uma nova maioria absoluta, já que nenhum governo, mesmo que seja de iniciativa presidencial, terá condições para governar.

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