Com a a oportuna e decidida divulgação das escaldantes escutas telefónicas, pelo semanário Sol, e retiradas do processo de investigação Face Oculta, a posição do primeiro-ministro ficou seriamente fragilizada, assim como a do respectivo governo, que se comporta como se nada de grave se tivesse passado à sua volta. Sintomático, é o silêncio comprometedor e cúmplice dos actuais ministros, que assim demonstram, ao não se demitirem, uma vez reconhecida a gravidade da factualidade já conhecida, não possuírem elevação moral nem dignidade. Comportam-se como vulgares serventuários, não se diferenciando em nada do perfil subserviente dos ministros de Salazar, que não tinham coragem suficiente para dizer não ao ditador.
Com um primeiro-ministro a querer agarrar-se ao poder a todo o custo e a não atender aos pedidos, que insistentemente lhe são feitos, para que assuma as suas eventuais responsabilidades na tentativa de silenciar clandestinamente as vozes de jornalistas incómodos e de planear a organização, através da participação encapotada da PT, de um grande grupo de comunicação social, que lhe fosse favorável mediaticamente, o actual governo ficará para sempre amarrado à sua própria sombra e sem força nem credibilidade para enfrentar a grave crise económica e social do país. Será sempre um governo sob suspeita, que terá de se acantonar sistematicamente na defensiva, perante os novos desenvolvimentos da actual crise política. Outras escutas irão certamente vir a público e outras denúncias irão surgir, assim como não deixará de ser escalpelizada a organização do golpe conspirativo contra o Presidente da República e a intenção criminisosa de planear a comunicação de falsas informações à Bolsa de Valores, para influenciar especulativamente o valor das acções das empresas de comunicação social, envolvidas no negócio. Não é o Partido Socialista que está em causa, por agora, já que tem toda a legitimidade de governar o país na presente legislatura. Seria suicidário colocar em causa essa legitimidade, pretendendo recorrer a novas eleições legislativas ou, como sugeriram dois destacados dirigentes socialistas, pretender que seja a oposição a apresentar uma moção de censura na Assembleia da República, para, mais uma vez, dar pretexto ao desencadeamento de uma orquestrada campanha de vitimização, muito do agrado de José Sócrates.
A iniciativa pertence aos órgãos do Partido Socialista e aos seus dirigentes mais responsáveis, que têm de reflectir ponderamente sobre os riscos para o país e para o próprio partido, se não obrigarem Sócrates a renunciar, dando assim espaço para a indicação de outro primeiro-ministro, que governe o país num ambiente mais sereno e pacificado. Neste momento, os dirigentes do PS devem pensar no que aconteceu ao seu congénere italiano, que implodiu no meio do vendaval de uma crise política, tendo o seu último líder de se exilar, para fugir às mãos da justiça. E em Portugal, apesar das constantes tergiversações, o Partido Socialista continuará a ser um partido essencial à democracia portuguesa.
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