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domingo, 17 de fevereiro de 2013

Grande prémio World Press Photo para um cortejo fúnebre que não se esquece


O sueco Paul Hansen ganhou o importante prémio de fotojornalismo com um funeral de crianças em Gaza. Na lista de premiados deste ano há um português, Daniel Rodrigues. Santiago Lyon, presidente do júri desta 56.ª edição dos prestigiados prémios de fotojornalismo e director de fotografia da agência Associated Press (AP), diz que este trabalho de Hansen para o diário sueco Dagens Nyheter “é simplesmente uma colecção forte de expressões”, que o tamanho dos corpos das crianças acentua. É, garante, “uma imagem incrível” que mostra, como tantas outras nas mais de cem mil que foram a concurso, que o fotojornalismo continua a ser um instrumento poderoso para contar uma história.
“Estas situações são muito complexas", disse Hansen, que vai receber dez mil euros da fundação World Press Photo. “É difícil exprimir as emoções, traduzir o que está a acontecer. A luz é dura e há muita gente.” À AP explicou por que razão escolheu o beco para fotografar: “A luz fazia ricochete nas paredes e por isso pensei que ali se poderia olhar para tudo isto como uma procissão… Temos a profundidade da imagem e a luz que se move.” O português Daniel Rodrigues, 25 anos, também optou pelo preto e branco e venceu na categoria Vida Quotidiana com uma fotografia de crianças a jogarem futebol num campo em Dulombi que servira de aquartelamento militar quando a Guiné-Bissau era uma colónia portuguesa.
PÚBLICO 
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Na fotografia e, concretamente, no fotojornalismo, três parâmetros são necessários, para que a fotografia possa dialogar com o observador: O tema, o contexto do cenário e a própria técnica fotográfica. E esta fotografia de Paul Hansen incorporou até ao limite aqueles conteúdos da hermenêutica fotográfica, acrescentando-lhe ainda um outro elemento estruturante, o contraste fisionómico, entre a serenidade dos rostos das crianças mortas e a crispação e desespero dos rostos dos adultos, que choram de dor, de raiva e de impotência. O tema não podia ser melhor para a fotografia: a morte de crianças inocentes por uma guerra injusta entre Golias e David. O contexto do cenário, explicou-o o próprio Hansen, ao referir-se à profundidade do campo e aos reflexos da luz, que transmitiram densidade humana ao cortejo. Fosse a fotografia tirada em campo aberto e com grande luminosidade, e ela não teria o mesmo impacto. Quanto à técnica, escapam-nos as respetivas metodologias utilizadas pelo grande fotógrafo.
Quanto ao nosso compatriota, Daniel Rodrigues, que felicitamos, é necessário que se diga que ele está desempregado, o que nos leva a perguntar que país é este que parece ter por regra desperdiçar os talentos e promover os medíocres e os ignorantes.
http://www.publico.pt/cultura/noticia/fotografia-de-duas-criancas-mortas-na-faixa-de-gaza-vence-world-press-photo-1584578#/0

4 comentários:

Sandra Subtil disse...

Uma imagem arrepiante!
Cumprimentos

Alexandre de Castro disse...

Obrigado, Sandra.
A Palestina tem sido fértil em acontecimentos dramáticos, que proporcionaram grandes fotogafias aos fotojornalistas. E isto, porque as populações martirizadas daquele território encontram-se há mais de sessenta anos em verdadeiro estado de sítio, em que o o sionista Estado de Israel é o incontestado agressor.
Cumprimentos

M.A. disse...

Nunca é demais falar na voz do mundo,
que perdeu a voz.

Obrigada,

Maria azenha

Alexandre de Castro disse...

Obrigado, Maria Azenha.
Saúdo a presença da grande "poeta" neste espaço dos comentários.
"Falar na voz do mundo", sobre os deserdados, é sempre urgente, porque, na realidade, também lhes roubaram a voz. E aquela fotografia também "fala", também tem voz.