AGUSTINA BESSA-LUÍS, in CONTEMPLAÇÃO CARINHOSA DA ANGÚSTIA (Guimarães Editores, 2000)
O QUE É ESCREVER?
Escrever é isto: comover para desconvocar a angústia e aligeirar o medo, que é sempre experimentado nos povos como uma infusão de laboratório, cada vez mais sofisticada. Eu penso que o escritor com maior sucesso (não de livraria, mas de indignação social profunda) é aquele que protege os homens do medo: por audácia, delírio, fantasia, piedade ou desfiguração. Mas porque a poética precisão de dum acto humano não corresponde totalmente à sua evidência. Ama-se a palavra, usa-se a escrita, despertam-se as coisas do silêncio em que foram criadas. Depois de tudo, escrever é um pouco corrigir a fortuna, que é cega, com um júbilo da Natureza, que é precavida.
In Quem lê Sophia de Mello Breyner Andresen
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Na realidade, escrever é isto: um ato individual de audácia, para provocar o delírio, a fantasia, a piedade e a desfiguração, podendo ainda acrescentar-se a exaltação (dos mitos) e a magia (para não deixar de fora o realismo mágico ou realismo fantástico dos autores sul-americanos do fim do século passado), a desconstrução e construção da Ideia e do Ser, etc... A escrita, desde que foi inventada, foi sempre um ato libertador do Homem. E é este paradigma que o escritor deve respeitar.