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segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Notas do meu rodapé: Depois de acabar com os chumbos, acabem com as escolas!...


- Isabel Alçada diz que a fórmula do chumbo “não tem contribuído para a qualidade do sistema”. “A alternativa é ter outras formas de apoio, que devem ser potenciadas para ajudar os que têm um ritmo diferenciado”, adiantou a governante, acrescentando que pondera alterar as regras de avaliação durante o seu mandato, apesar de pretender um consenso e um debate alargado no sector.
- O PSD considerou hoje “grave”, “errado”, embora “não surpreendente”, a intenção do Governo de acabar com os chumbos no ensino e avisa que vai concentrar esforços em sede parlamentar para impedir a medida de avançar.
- A Federação Nacional dos Professores (Fenprof) alertou hoje para o perigo de seguir o caminho do facilitismo e da deturpação das estatísticas de sucesso escolar ao acabar com os chumbos no ensino.
- O CDS-PP considerou hoje um “disparate” e uma “injustiça” a intenção do Governo de acabar com os chumbos no ensino, opondo-se “tenaz e competentemente” à medida e sustentando que “Portugal necessita de valorizar a cultura do mérito”.
- O PCP considerou hoje que a proposta da ministra da Educação de acabar com os chumbos nas escolas é uma medida “facilitista” e que “desqualifica completamente o ensino”, sublinhando que a intenção não resolve nenhum problema.
- A Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação (CNIPE) mostrou-se hoje preocupada com a intenção da ministra da tutela de acabar com os chumbos dos alunos, considerando-a “avulsa” e uma “acção de merchandisig”.
- A Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap) considerou hoje que o fim dos chumbos em Portugal será a maior revolução na educação desde o 25 de Abril, dando o seu apoio à ideia da ministra da tutela.
PÚBLICO
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Apenas a Confap rejubilou com a intenção da ministra Isabel Alçada de acabar com o processo de retenções nas escolas.
Isabel Alçada ainda não percebeu que está a ser utilizada pelo núcleo duro do governo de José Sócrates para assumir o ónus da maior ofensiva de que há memória para consumar a destruição do ensino público em Portugal, reduzindo-o a uma dimensão minimalista, para que os privados se instalem confortavelmente no sector. A mesma estratégia está a ser seguida na Saúde e na Segurança Social. As três ministras, titulares de cada uma daquelas pastas, tendo sido escolhidas a dedo, quer devido ao prestígio de uma, à experiência na área a Saúde de outra e à origem sindicalista da terceira, não se importam de servir de capacho a um governo que, secretamente, e em estrita obediência à cartilha neoliberal e aos ditames do grande capital, onde a regra é diminuir a intervenção do Estado nas áreas sociais, está apostado em minar os alicerces dos pilares daquelas mesmas áreas sociais.
À ministra Isabel Alçada apenas foi exigido, em troca da ocupação de um gabinete ministerial e da mordomia de um automóvel com motorista, que reduzisse drasticamente a despesa no seu sector e que alindasse, por via do facilitismo, as estatísticas dos resultados escolares. Caso a intenção do governo, em acabar com os chumbos, avance, Portugal irá apresentar nos próximos anos a invejável taxa de 100 por cento no aproveitamento e no rendimento escolar dos seus alunos. E de nada vale invocar os exemplos dos países nórdicos, cujas realidades sociais e culturais são completamente diferentes. Nesses países, a educação é encarada como um dos factores mais importante para o seu desenvolvimento económico e os seus respectivos governos empenharam-se e empenham-se, de uma forma honesta e responsável, em criar condições objectivas e realistas para possibilitar a potenciação da aquisição de competências técnicas e culturais por parte dos seus alunos. Nesses países não se assiste a este espectáculo indecoroso de querer mudar paradigmas educacionais, através de medidas administrativas avulsas e desgarradas, completamente descontextualizadas de outras medidas estruturais (revisão de currículos, diminuição dos números por turma, equipas multidisciplinares, avaliações contínuas dos alunos para melhor flexibilizar modelos de aprendizagem, admissão, formação e avaliação de professores, segundo um modelo verdadeiramente científico), que promovessem a aquisição de conhecimentos e a apreensão e a modelação de valores culturais.
Isabel Alçada não avançou com nenhum programa coerente de reforma educativa. Não foi isso que lhe pediram. Ela apenas tem de se preocupar com iniciativas que poupem dinheiro ao Estado e em melhorar as estatísticas, distorcendo a realidade. Acabar com os chumbos por decreto obedece inteiramente à prossecução daqueles objectivos.

1 comentário:

Maria José Meireles disse...

Se as escolas acabassem não acabaria a educação, poderia até começar...