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segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Notas do meu rodapé: A mistificação da crise




Os vários organismos internacionais, perante o mitigado optimismo de alguns indicadores económicos, relativos ao mês de Junho, apressaram-se a diagnosticar o fim da desaceleração da economia, mas foram avisando, prudentemente, que a recuperação iria ser lenta.

Atribuo este optimismo à boa intenção dos responsáveis destes organismos de não querer estragar as férias das pessoas com as más notícias. Essas ficarão para mais tarde, quando os governos começarem a cobrar aos contribuintes a pesada factura do auxílio prestado aos bancos, o que provocou um o aumento da dívida pública e o agravamento dos défices orçamentais. Em Portugal já se fala na grande probabilidade do 14º mês ser pago com Títulos do Tesouro, uma medida drástica de poupança forçada, que inevitavelmente se traduzirá num menor crescimento da economia, através da diminuição do consumo interno.

Mas estas notícias optimistas ainda não passam de umas meras conclusões, retiradas da análise provisória e pouco fundamentada de indicadores dispersos, cuja variação pode estar ligada a factores transitórios de conjuntura, que nada dizem sobre os contextos estruturais, esses sim, a influenciarem decididamente a evolução económica. Recorde-se que só agora, no mês de Julho, o Departamento de Estado do Comércio do governo dos EUA veio com uma análise definitiva sobre o comportamento anormal da economia entre o quarto trimestre de 2007 e o de 2008, período durante o qual se desenvolveu, silenciosamente, a grave crise económica, sem que políticos encartados, economistas de gabarito e instituições internacionais infalíveis dessem por ela.

Esses resultados, divulgados pelo governo americano, desmentem todas as projecções e previsões feitas anteriormente, o que vem demonstrar a tese de que a crise económica não derivou linearmente da crise financeira, como já foi referido neste espaço. A crise económica, além de outros factores, foi também influenciada negativamente pela preponderância assumida pelo capital financeiro, que para aumentar a sua rentabilidade foi retirando capital à economia produtiva para construir a economia virtual especulativa, cuja enorme bolha acabou por rebentar.

A prudência aconselha a aguardar por indicadores mais expressivos e rigorosos, e que traduzam o comportamento dos valores globais, respeitantes ao investimento, ao consumo interno e às exportações, os únicos que, conjugados, servem para calcular o valor do PIB.

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