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sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Doentes mentais: Dignidade precisa-se!...


O Ministério da Saúde, quando se põe a fazer reformas, pretende, normalmente, começar a construir prédio pelo telhado e a pôr o carro à frente dos bois. Foi assim com a reforma das urgências e a das maternidades. Agora, chegou a vez da reforma da saúde mental, centralizada na ideia na desinstitucionalização dos doentes mentais, devolvendo-os à comunidade, ou, nos casos mais pesados, internando-os em lares, até que avancem, na lei e no terreno, as já mil vezes anunciadas unidades de cuidados continuados para doentes mentais. Com a inépcia do Ministério da Saúde, ainda irá chegar-se ao extremo de pretender tratar a saúde dos mortos, quando não tenha sido possível tratá-los em vida.
Não está em causa o novo paradigma da saúde mental, que retira às instituições psiquiátricas a anacrónica função asilar, que vem da metodologia adoptada no princípio do século passado. As instituições hospitalares têm de se fixar, para obterem ganhos de eficiência, no diagnóstico e no tratamento das doenças, e na necessária rotatividade dos internamentos. Os internamentos prolongados dos doentes crónicos devem ser assegurados por outras instituições, para tal vocacionadas e dimensionadas, e onde deve ser garantida, sem subterfúgios, a assistência médica necessária.
Uma visão economicista, exageradamente disfarçada pelo apelo ao reforço da componente da racionalidade da gestão dos meios disponíveis, racionalidade esta que se compreende e que ninguém de bom senso põe em causa, levou este governo a desenhar projectos e a implementar programas que visam obter ganhos à custa das “perdas” dos doentes. As listas de espera, até mesmo nos casos dos doentes oncológicos, que exigem urgência de tratamento, estão aí para confirmar as poucas preocupações do governo em garantir a total equidade no sistema dos cuidados de saúde.
Mas, neste caso, dos doentes mentais despejados como animais em lares sem o mínimo de condições de um acolhimento digno, não se pode ficar calado, sem um inequívoco grito de revolta, perante a desumanidade revelada pelos responsáveis do ministério que promoveram este atentado à dignidade e aos direitos daqueles doentes, que, por o infortúnio os ter privado da razão, nem se aperceberam da afronta de que foram vítimas, não podendo por isso manifestar o seu justo protesto.
Também não podem votar, nem pagar impostos! E como não sabem protestar, nem podem votar, nem pagar impostos, o ministério desprezou-os desta maneira aviltante.
Tem toda a razão o psiquiatra José Manuel Jara, ao afirmar, segundo o registo da reportagem em hiperligação anexa, que "esta reforma é um bluff ".

1 comentário:

Graza disse...

Configura-se como sendo a mesma asneira do encerramento dos Centros de Saúde, sem as alternativas implementadas. Não aprendem!...