Não há muito tempo, eu defendi o voto em branco
- nunca o nulo. Depois disso, mudei de opinião. Devo dizer mesmo, com
humildade, que me arrependi. Claro que é possível, racionalmente, imaginar uma
situação em que não consigamos rever-nos numa das diversas listas. Mas eu creio
que constitui uma certa manifestação de arrogância (que eu já tive) aquela
atitude de total e desdenhosa rejeição. É como se estivéssemos a declarar, para
nós e para o Universo : "eu sou tão especial e tão inteligente que nenhuma
das soluções apresentadas pelos meus Concidadãos me mobiliza". Aliás, as
listas que se apresentam serão sempre um espelho da Sociedade que temos. E foi
também parcialmente nossa a responsabilidade da falta de qualidade, se é que
ela existe. Agora, digam-me: ficar em casa aumenta essa qualidade? Há que
votar. Há que, pelo menos, ir à assembleia de voto. E há que ter a coragem de
escolher. Nem que seja o menor dos males. É assim que penso hoje.
Amadeu
Homem
Professor
Catedrático de História da Universidade de Coimbra
***«»***
Votar é um dever cívico, que custou muito a
conquistar. Escolher é uma responsabilidade. Escolher bem é uma qualidade.
AC
Adenda: Deixo aqui o
comentário sobre esta questão, que publiquei num outro sítio, respondendo a um
leitor:
"Se a memória não me atraiçoa, julgo que o
Cavaco Silva foi eleito por 21% dos eleitores inscritos, o que ainda vem dar
mais força ao seu argumento. Na realidade, quer a abstenção quer o voto branco
só vão dar força ao partido vencedor. É uma forma de transferir as escolhas
para os outros. É também uma forma descaracterizar, e até assassinar, a
democracia. A maturidade de um povo avalia-se pelo seu grau de participação na coisa pública. E, temos de concordar: os
portugueses ficaram mal nesta fotografia. E não só os eleitores. Também os
eleitos. Ainda ontem, no município onde eu vou ser candidato à Câmara
Municipal, a Assembleia Municipal não se realizou por falta de quorum, porque os deputados municipais
do PS e do PSD não apareceram. E a reunião da AM destinava-se a discutir um
documento importante: o PDM. Com este nível de responsabilidade não vamos lá.
E vou acabar, reformulando a frase da minha
entrada aqui: Votar é um dever cívico, que custou muito a conquistar. Escolher
é uma responsabilidade. Escolher bem é uma qualidade. E participar é
fundamental".
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