O economista norte-americano Kenneth Rogoff
afirmou hoje que "Portugal e a Grécia nunca deviam ter sido admitidos na
zona euro", considerando inevitável uma reestruturação da dívida grega, e
também da portuguesa, em entrevista ao Frankfurter Allgemeine.
"Acho que a Grécia e Portugal nunca deviam
ter sido admitidos na zona euro, isso foi um hybris (exagero), tal como foi um
exagero admitir a Eslováquia e a Letónia", disse o ex-chefe do gabinete de
estudos do FMI.
Rogoff afirmou ainda que os políticos europeus
não querem ouvir falar de uma eventual insolvência da Grécia "porque não
têm um plano para estancar o incumprimento, mas a posição dos governo europeus
não é credível, porque a Grécia não poderá cumprir os seus compromissos".
E se a Grécia cair, na opinião do professor de
economia na Universidade de Harvard, "aumentará o receio de não se poder
aguentar Portugal e a Irlanda, e as preocupações estender-se-ão à Espanha e à
Itália", advertiu Rogoff.
"É preciso um plano para conter o risco de
contágio, e de momento não há nenhum plano, se a Grécia amanhã falhar, a
primeira coisa que vão fazer é comprar títulos da dívida pública de Portugal,
mas isso é absurdo, porque a dívida de Portugal também tem de ser
reestruturada", advertiu o economista norte-americano, na entrevista ao
matutino alemão.
Outro "guru" das finanças
internacionais, George Soros, defendeu, em artigo publicado hoje no Financial
Times Deutschland, que para resolver a crise das dívidas soberanas "é
preciso considerar a hipótese" de a Grécia, Portugal e a Irlanda já não
poderem pagar as suas dívidas e terem de deixar o euro.
dinheirovivo (23-09-2011)
***«»***
Kenneth Rogoff é o economista que, juntamente
com Carmen Reinhart, publicou o estudo (onde, posteriormente, um aluno de
Economia foi detetar um erro no programa de Excel utilizado pelos autores), que
serviu de fundamento doutrinário à conceção das políticas de austeridade, a
aplicar nos países com dívidas públicas elevadas.
Kennet Rogoff é um neoliberal e um homem
politicamente conservador. Isso, contudo, não o impediu de, em 2011, ter
considerado um erro a adesão de Portugal e da Grécia à moeda única, afirmação
esta que não teve sequência nem consequências, entre nós, ao nível do discurso
dos paladinos da moeda única, que só lhe engrandecem as virtudes, que são
poucas, e negando-lhe os defeitos, que são muitos. Tenho aqui recorrido
frequentemente àquela minha imagem do casaco: ao aderir ao euro, Portugal fez a
figura daquela criança que veste o casaco do pai. Sobram-lhe mangas e o casaco
tapa-lhe os joelhos.
A economia portuguesa, devido ao seu fraco
desenvolvimento tecnológico, que lhe determina um baixo nível de produtividade,
perdeu competitividade externa, o que, como numa correia de transmissão, veio a
afetar as exportações, o crescimento do PIB, as receitas fiscais, o défice
orçamental e a dívida soberana. A este erro estrutural veio somar-se um outro,
que veio complicar mais a situação. Os multiplicadores do FMI, uma das
instituições que faz parte da troika,
revelaram-se errados. Os técnicos desta instituição internacional consideravam
que, por cada euro na redução do défice orçamental, o PIB apenas se reduzia em 0,5
em euros, o que não estava a acontecer, o que os levou a rever o modelo
matemático e a concluir que aquela redução do PIB poderia a vir a situar-se
entre 0,7 a 1,6 euros, uma diferença que, no seu limite, aponta para um erro em
cerca de trezentos por cento, o que desacreditou imediatamente o programa de
ajustamento aplicado a Portugal. O PIB caiu, as receitas fiscais desceram,
apesar do brutal aumento de impostos, o défice orçamental ficou longe dos
objetivos, o consumo privado desceu, a falência de empresas disparou e o
desemprego tornou-se um pesadelo. O fracasso desta política de austeridade foi
inteiramente assumido pelo homem que a aplicou, o ex-ministro das Finanças,
Vítor Gaspar. E, no entanto, o governo de Passos Coelho está a preparar mais
austeridade, numa obediência cega aos interesses do capitalismo financeiro
europeu.
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