Óleo
- Nguyen Dinh Dang
Imagem selecionada pela autora do poema.
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COMUNIKAÇÃO
Ah,não
me tragam jornais !
nem
discursos, nem notícias !
nem
ciências d’empilhar astros !
Sou
filha de todo o mundo
e
escrevo versos de rastos !
……………………………………..
E
do Espaço comuniko ,
no
Espaço digo a meu Pai :
Tempo
nublado no Mundo !
Buenos
Aires ,
nenhuma
Consolação
Rio
,
1992
, Mar de Junho ,
Nova
Iorque ,
Ladrão
.
Europa!
Sábado!
Domingo
!
A
Grande e Monumental Prisão
no
almofariz-atómico da Terra!
No
Espaço comuniko :
digo
pobre ,
digo
rico ,
a
calça negra do PIB
o
quark
o
IP : ou seja :
o
índice de Poluição ,
o Buraco-Negro ,
o Buraco-Negro ,
a
crise do Relâmpago ,
a
chuva na Jugoslávia ,
IELTSIN
,
os
sete países mais ricos ,
milhares
de hectares produzidos
por
novos escravos
em
novo estilo marquês-de-sade ,
Projectado
em iates ,
onde
cromossomas azuis de fino trato
são
exportados diariamente
para
a Produção
para
a Perfeição-Extrema-do-Corpo ,
para
todas as Ideologias de Conforto ,
para
os eclipses ,
para
o Morto ,
para
a Notre-Dame-da-Vida ,
para
o Catolicismo-do-Ozono ,
para
a Comunicabilidade diária ,
para
o Esgoto .
para
quem sabe no governo traficar
um
Kilo de Cocaína ,
um
metro de papoilas ,
um
carro ,
uma
camioneta de moscas ,
um
camião de políticos ,
doze
facadas , embriões humanos in vitro ,
uma
colecção de narcóticos ,
um
tubo de ensaio de Gritos ,
homens
e mulheres irreconhecíveis
e
ainda
um
museu de Presos trucidados
enquanto
uma Laranja adormecida
se
penteava .
tudo
isto participa
dum
meti-cu-lo-sí-ssimo Plano !
tudo
isto é o Grande Circo da Propriedade Humana !
tudo
isto funciona como um Carnaval avariado
pela
Esfinge do Caos ,
pelo
código das Esculturas da Noite
que
em nome da Santa-Fome
em
nome de todo o globo ,
vão
construindo
milhões
de dormitórios para não-haver-sono ,
supermercados
para o Consumidor ,
hipermercados
para o Hiperconsumidor ,
cartões
de Crédito para o Devedor,
Sistemas
telefónicos internos
Para
CO
MU-
NI
KAR
nenhum fogo
avenidas
–sem-ruído para não-ser amor
propfessores
para o não-pensador ,
computadores
para
CO
MUNI-
KAR
e
no centro do globo ,
a
Consciência
Cósmica
sem ter um lugar !
E
ainda ,
num
raio de 70 metros aproximadamente
todas
as ruas arborizadas milimetricamente
com
moscas
voadoras,
árvores
de plástico,
varejeiras,
flores,
e
as
montanhas
não vão aumentar de preço !
não vão aumentar de preço !
a
cada mugido de uma vaca
é
logo separada a Cria !
e
tudo isto ,
pela
cor-verde-mar
dos
pecados de Roma
e
das
Flores putrefactas .
Tudo
isto como um jogo de Deus e do Diabo
num
supermercado vazio !
Tudo
isto porque Adão e Eva
não
conhecem a Poesia de Vanguarda !
Em
minha opinião
os
Donos do Mundo e os seus Revendedores
alcançaram
a graça recebida
pelo
espírito do Lodo
no
plano astral da Vida .
mas
eu digo :
Nós
não somos Gado !
Nós
somos Criadores !
e
por tal motivo ,
em
vez de Pássaros e Ruídos ,
traremos
para a Conferência do Mundo
o
chão varrido pelos lábios destes Senhores ,
e
em nome do Cosmos ,
em
nome da essência do Homem ,
da
nova Atlântida do mundo ,
semearemos
acácias
no
ventre
dos meninos !
Folhearemos
mais tarde
O
Álbum
da Terra
E
os
cinco continentes de ouro
serão
to-
dos
UM
!
in
" P.I.M.", 1999
Nota
crítica:
Trago para aqui as palavras de Citoyen du Monde, a propósito deste poema de
Maria Azenha: “Este poema reflecte sem dúvida o ADN poético de Maria Azenha. Gostei muito de reler
esta força de intemporalidade e verdade”.
Trata-se, na verdade, de um poema de antologia.
Porque é subversivo na forma e no tema. Na forma, porque a autora, mais uma
vez, transgride o cânone, apoiando-se na desconstrução das palavras e da sua
irregular disposição no texto, como suporte para a construção das suas
metáforas, sempre surpreendentes. No tema, porque, de uma forma cáustica e arrasadora,
submete ao ridículo, através de uma caricatura (como se o poema fosse
panfletário ou um poema denúncia), os atores e os principais responsáveis da
trágico-comédia que revolve o mundo, situando-se num tempo, não muito longínquo,
de intensa crispação, marcado pela hipocrisia dos poderosos, mas que não perde
atualidade nos dias de hoje. Eu diria mesmo que será sempre um “poema atual”,
na medida em que o Homem nunca ultrapassará as misérias da existência, aqui
denunciadas.
Estamos na presença de um dos melhores poemas da
Maria Azenha, já que vem marcado por uma inconfundível e prodigiosa originalidade.
A "poeta" Maria Azenha colabora neste blogue, publicando-se um poema de sua autoria, às quintas-feiras.
A "poeta" Maria Azenha colabora neste blogue, publicando-se um poema de sua autoria, às quintas-feiras.
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