Urbano Tavares Rodrigues, quando novo |
Morreu hoje o escritor e professor universitário
Urbano Tavares Rodrigues, de 89 anos, confirmou ao DN a sua editora, a Dom
Quixote.
A notícia foi dada pela filha, Isabel Fraga, na
página de Facebook "Urbano Tavares Rodrigues - escritor",
onde escreveu esta manhã: "O meu pai acaba de nos deixar. Estava internado
nos capuchos há 3 dias. Não tenho mais informações. Soube agora mesmo".
Catedrático jubilado da Faculdade de Letras de
Lisboa, membro da Academia das Ciências, tem uma obra literária e ensaística
muito vasta e traduzida em inúmeros idiomas, do francês e do espanhol ao russo
e ao chinês. Obteve diversos prémios, entre eles o de Vida Literária da
Associação Portuguesa de Escritores, o prémio Fernando Namora, o Ricardo
Malheiros da Academia das Ciências.
Entre os seus livros, destaque para 'A Noite
Roxa', 'Bastardos do Sol', 'Os Insubmissos', 'Imitação da Felicidade', 'Fuga
Imóvel', 'Violeta e a Noite', 'O Supremo Interdito', 'Nunca Diremos Quem Sois'
ou 'A Estação Dourada'.
Urbano Tavares Rodrigues, que foi afastado do
ensino universitário durante as ditaduras de Salazar e Caetano, participou
activamente na resistência. Impedido de leccionar em Portugal, foi leitor de
português nas universidades de Montpellier, Aix e Paris entre os anos de 1949 e
1955. E foi preso por várias vezes nos anos sessenta.
Doutorou-se em 1984 em Literatura com uma tese
sobre a obra de Manuel Teixeira Gomes.
***«»***
Urbano Tavares Rodrigues foi um escritor que me
marcou muito, na minha juventude. Ligado ao neo-realismo, nas suas primeiras
obras, e influenciado pela mundividência cultural de Paris, onde se exilou,
como refugiado político, Urbano Tavares Rodrigues depressa assimilou a
corrente literária do existencialismo de Sarte e de Camus, autores que também
foram para mim uma referência. Uma Pedrada no Charco é um romance notável, com
Urbano Tavares Rodrigues a exibir o fulgor da sua criatividade ficcional e o
seu abrangente Humanismo. Morreu sem que lhe fosse atribuído o Prémio Camões,
para ao qual chegou a ser proposto, há uns anos, e que ele desejava. Um júri
fundamentalista, no seu fervor anticomunista, roubou-lhe essa glória merecida e
justa, atribuindo-o a um outro escritor de menor craveira. Mas o seu nome na
História da Literatura Portuguesa ninguém o poderá apagar, onde figurará como o
primeiro escritor a fazer a ponte entre o neo-realismo, já em decadência, e as
novas correntes literárias, surgidas na década de sessenta do século passado.
Foi um escritor geracional, um escritor de uma geração, que foi a minha. Tenho
uma saudade imensa de Urbano Tavares Rodrigues.
1 comentário:
Há Homens que não se vendem
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