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quinta-feira, 21 de março de 2013

Poema: Vi a eternidade - por maria azenha

  @ Beverly Mayer  - Imagem selecionada pela autora.

Vi a eternidade

Vi a eternidade em teus lábios desenhando pombas
e descíamos degraus de água através de facas em flor
a tarde era azul e havia um punhal de luz
cravado na sombra de um muro
abandonado pelas palavras

vi ainda círculos de chuva depositando trevas
em máquinas de inocência e ervas húmidas

e pousavam em teus cabelos de sangue
fendidos pela solidão do vento e por relâmpagos

às vezes ouço o sino triste das aves
em âncoras de ouvidos e árvores de dolência
e sei que é o grito das acácias em amargas sílabas
descalças

maria azenha
2013- 03- 09

Nota: Eu julgo que já encontrei, a propósito de outros poemas, a expressão apropriada para classificar a poesia de Maria Azenha, e que, aqui, em "Vi a eternidade", atinge o esplendor do sublime: densidade poética. 
Maria Azenha inventa novas formas de lirismo, com as palavras, num criativo jogo metafórico, a submergirem o leitor num mundo de novas sensações.