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sábado, 30 de março de 2013

Arcebispo de Braga critica classe política “incompetente” e monopólio dos bancos


O arcebispo de Braga, Jorge Ortiga, manifestou-se preocupado com os suicídios, depressões e frigoríficos vazios resultantes da crise e criticou a “incompetência” da classe política e o monopólio dos bancos.
Ao falar na homilia da celebração do Paixão do Senhor, na Sé de Braga, Jorge Ortiga também não poupou a “corrupção judicial” e as “mentiras dos astrólogos”.
Por que é que nós consentimos que tantos seres humanos continuem a ser vítimas da miséria social, da violência doméstica, da escravatura laboral, do abandono familiar, do legalismo da morte, da corrupção judicial, das mortes inocentes na estrada, das mentiras dos astrólogos, do desemprego, de uma classe política incompetente e do monopólio dos bancos?”, questionou o prelado.
Jorge Ortiga manifestou-se preocupado com o número de suicídios “que aumentam diariamente” em Espanha, por causa da penhora de casas, e advertiu que, “em breve, este drama poderá chegar” também a Portugal.
Uma preocupação extensiva às depressões dos jovens portugueses, “que se fecham nos seus quartos por causa do desemprego”, e às famílias “cujo frigorífico se vai esvaziando”.
“Os políticos, por seu turno, refugiam-se em questões sem sentido do verdadeiro bem comum e o sistema bancário, depois de ter imposto a tirania de consumos desnecessários para atingir metas lucrativas, hoje condiciona o crédito justo às jovens famílias portuguesas, com taxas abusivas que dificultam o acesso a uma qualidade de vida com dignidade”, criticou.
Para Jorge Ortiga, a solução está em Jesus, “o autêntico libertador do povo, porque concede crédito (atenção) aos mais pobres, defende o ideal da fraternidade”.
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A análise está certa, mas a solução está errada. Não é com o crédito de Jesus aos mais pobres que a miséria social desaparece e os astrólogos deixam de mentir. O tempo dos milagres da multiplicação dos pães já passou, se é que ele alguma vez existiu, nem são as orações dos fiéis que fazem nascer os empregos e encher os frigoríficos.
No entanto, ficou a denúncia, feita por um alto dignitário eclesiástico, que centrou a sua análise na “incompetência da classe política e no monopólio dos bancos”, para explicar as causas da atual crise económica e social, o que representa já um avanço na posição de uma igreja, que, historicamente, nunca deixou de estar comprometida com as classes possidentes. E congregar o descontentamento dos fiéis, para o canalizar para o aprofundamento da religiosidade, à volta da ideia de que Jesus é “o autêntico libertador do povo”, é remeter esses mesmos fiéis para a passividade da resignação. É fazer o jogo dos inimigos do povo. É como anestesiar um doente e recusar-lhe a intervenção cirúrgica.   

2 comentários:

Sandra Subtil disse...

Concordo plenamente com a tua análise.

Feliz Páscoa!
Que seja doce em afetos e que se renove o que de melhor existe em cada um de nós.

Alexandre de Castro disse...

Obrigado, "poeta" Sandra Subtil. O mundo dos afetos será sempre a última coisa a perder
Uma boa Páscoa...
Beijos