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quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O nacional-facilitismo na Universidade



Uma perigosa reaccionária
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Uma professora da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa ficou sem a regência de duas cadeiras por ter chumbado mais de 50% dos alunos. O motivo invocado pelo Departamento de Química da Nova para a punição não deixa dúvidas: "Aumento súbito do insucesso escolar". Desde que, no sistema educativo português, foi consagrado entre os direitos, liberdades e garantias fundamentais o direito ao sucesso escolar, quem se meta entre um aluno e o diploma a que tem direito (atrevendo-se, como no caso, a dar notas negativas em exames finais) é culpado do pior dos crimes, o de terrorismo anti-estatístico. Se o futuro licenciado sabe ou não sabe alguma coisa (ler, escrever e contar, por exemplo), é irrelevante; o país, as estatísticas e as caixas dos supermercados precisam de licenciados. Foi isso que a professora da Nova não percebeu. Arreigada a valores reaccionários, achava (onde é que já se viu tal coisa?) que "um aluno só merece 10 valores se adquiriu as competências mínimas nas vertentes teóricas e práticas da disciplina". Campo de reeducação em Ciências da Educação com ela.
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Comentário: A cultura do nacional-facilitismo instalou-se em todo o sistema de ensino. Além de ter, no futuro, de pagar com juros a dívida soberana, preocupantemente a crescer todos os dias, esta geração de alunos, que não tem culpa, também irá pagar a sua ignorância e a sua falta de competências.
Não me admiraria nada que o grau de licenciado passasse a ser outorgado na Conservatória do Registo Civil no acto do assentamento de todos os recém nascidos ou na pia baptismal. Doutor passaria a fazer parte do nome próprio de cada cidadão. Portugal passaria a ser um pacóvio país de doutores.
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Agradeço ao João Fráguas e ao Diamantino Silva a referenciação para este texto, do comentador e poeta Manuel António Pina.

3 comentários:

João Mota disse...

Conheço dois casos desses: no departamento de engenharia electrotécnica e de computadores do IST e no departamento de matemática e estatística da mesma universidade. Os professores que chumbam mais de 50% dos alunos ficam proibidos de dar aulas no semestre seguinte.

Alexandre de Castro disse...

Nós, os portugueses, temos a rara capacidade de transformar o absurdo em dura realidade. Tratando-se de dois departamentos, cujos responsáveis usam a matemática como base do seu múnus, sou levado a crer que aquela referência percentual, os 50%, teria sido encontrada através do cálculo de probabilidades e da estatística. E a pergunta que eu deixo é a seguinte: Porque não 49% ou 51%?.
Eu sei que, através desse método, seriando variáveis, alinhando tabelas estatísticas,calculando médias, até é possível prever o número de alunos zarolhos que irão aparecer em cada turma, no próximo ano lectivo. E, agora, também acrescento que o insucesso escolar poderá ser determinado por essa variável. Mais alunos zarolhos, mais insucesso escolar. E o professor da cadeira, que se viu obrigado a chumbar os alunos zarolhos, é que se lixa.
Obrigado João pelo teu contributo, Deste-me uma informação, que eu desconhecia.
Na realidade, também poder-se-à resolver esta equação por redução ao absurdo. Julgo que, neste momento, é o que anda a fazer o país inteiro, reduzindo tudo, dramaticamente, ao absurdo.

Maria José Meireles disse...

Portugal já é um pacóvio país de doutores.
No entanto a alma lusa, alheia a títulos, ultrapassa todas as fronteiras e está presente em todos os cantos do mundo.
"Portugal é uma vala comum de génios" (Ademar Santos).
Tenho pensado muito na Escola da Ponte, menina dos olhos do Ademar.