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quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Notas do meu rodapé: É a economia, estúpido!...


Fich vê uma possível nova recessão como maior risco para o défice do Estado

A agência de notação de risco (rating) de
crédito Fitch considera que o principal risco
para as contas públicas portuguesas é o de
uma nova recessão, e que o país tem
pouca margem para falhar as metas do défice,
que considera credíveis.
A agência divulgou hoje no seu site um
relatório especial sobre a dívida soberana da
zona euro, intitulado “Fiscal Consolidation
Yet To Begin In Earnest”, onde diz que
Portugal tem pouca margem de manobra
orçamental devido às suas perspectivas de
crescimento serem menores que as dos
restantes membros da UE e por ter um PIB
baixo e que foi por isso que em Março reduziu
para AA- a nota de risco de incumprimento
da dívida nacional, apesar de o país não ter
sido afectado desproporcionadamente pela
recessão global.
PÚBLICO
***
Já aqui afirmámos que a redução do défice orçamental para os níveis exigidos pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC) não se revelava difícil para o governo. Bastava cortar na despesa e aumentar os impostos. Só que os cortes da despesa do Estado privilegiaram o sector social, principalmente os desempregados e os cidadãos mais frágeis da sociedade, em vez de se focalizar na sua despesa primária. Continuamos a ter um Estado gordo, pesado e esbanjador. Mas, tal como também já afirmámos por diversas vezes, e que as agências de rating e os investidores nos títulos da dívida soberana também sustentam, Portugal defronta-se com o problema maior de resolver a insuficiência estrutural da sua economia, que adormeceu à sombra, no tempo das vacas gordas, das exportações para a UE e que nunca se adaptou ao paradigma da globalização.
Só o governo de José Sócrates embandeirou em arco com o tímido aumento do PIB nos dois trimestres deste ano, que à luz da estatística não revela nenhuma tendência consolidada de crescimento da economia. O ligeiro optimismo, que a taxa da variação homóloga do PIB revelou nos dois trimestres deste ano, desvanece-se com a leitura dos números da respectiva variação em cadeia, que se ficou pelos 1,1% no 1º trimestre e pelos 0,3% no segundo trimestre, valores estes muito insuficientes para repor o grande trambolhão do 2º e 3º trimestres de 2009.
Mas, se a procura interna aumentou, com o aumento do consumo das famílias e do Estado, muito à custa da venda dos automóveis, como consta no boletim do INE, o investimento continua em terreno muito negativo. E o investimento é o sangue do crescimento da economia no futuro.
Afirma o INE: "No 2º trimestre de 2010, o Investimento apresentou uma diminuição em termos homólogos de 3,8%, variação próxima da verificada no trimestre anterior (-3,5%). A FBCF total diminuiu 4,6% em volume no 2º trimestre de 2010, o que compara com a variação de -2,3% observada no trimestre anterior". Com estas quedas do investimento e da Formação Bruta de Capital Fixo não é de estranhar que as perspectivas de crescimento nos próximos anos sejam sombrias e duvidosas, tal como as agências de rating afirmam.

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