Thomas
Piketty
(à esquerda) e Yanis
Varoufakis (à direita) foram dois dos subscritores mais ativos |
Nações
Unidas recomendam a reestruturação da dívida sem esquecer a democracia
Contra a vontade da Alemanha, Reino Unido,
Estados Unidos e da própria União Europeia a assembleia da ONU aprovou nove
princípios democráticos que devem sobrepor-se à voracidade dos credores
Contra a vontade de alguns dos maiores credores
mundiais - Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos - e da própria União
Europeia, que se absteve, a assembleia das Nações Unidas aprovou, na
quinta-feira, 10, um conjunto de nove princípios democráticos que devem
sobrepor-se à voracidade dos credores sempre que um país tenha de reestruturar
a dívida. Em sua defesa, além dos 136 membros que votaram a favor, estiveram 19
conhecidos economistas, entre os quais Yanis Varoufakis, ex-ministro grego das
Finanças, e Thomas Piketty, autor do livro-sensação O Capital no século XXI.
Para evitar novas Argentinas (ainda em litígio
contra os fundos-abutre) ou novas Grécias, as Nações Unidas recomendam que as
partes negociadoras não se esqueçam de incluir, nas suas contas, o respeito por
princípios universais como a soberania, boa fé, transparência, imparcialidade,
igualdade de tratamento, imunidade soberana, legitimidade, sustentabilidade e
que qualquer reestruturação de dívida deve ser sempre aprovada por maioria. Assim,
quem empresta deve cooperar com quem pede emprestado, reconhecendo a
legitimidade de um país soberano orientar a sua política macroeconómica no
sentido do crescimento, desde que os direitos dos credores não sejam postos em
causa. A despolitização do sistema financeiro e a ausência de alternativas às
políticas de austeridade são também referidas no documento.
No manifesto assinado pelos 19 economistas, a
situação recente da Grécia está bastante presente. "A crise grega tornou
claro que os países que agem isoladamente não conseguem negociar condições
razoáveis para a reestruturação da sua dívida." E terminavam apelando à
União Europeia que votasse favoravelmente a resolução.
A Argentina, forçada pelos credores a aceitar
uma dura renegociação da dívida em 2002, foi um dos países mais empenhados na
aprovação da recomendação. O ministro dos Estrangeiros, Héctor Timerman,
declarou, perante a assembleia das Nações Unidas: "Esta é uma resolução a
favor da estabilidade económica e social, da paz e do desenvolvimento. A dívida
é hoje responsável pela violência, pela desigualdade e pelas situações em que
os poderosos ficam em vantagem perante o países menos desenvolvidos que
precisam de capital."
Os Estados Unidos, o Reino Unido e a União
Europeia (enquanto bloco de países, incluindo a Grécia...) alegaram a vontade
de preservar o papel de árbitro do Fundo Monetário Internacional (FMI), no que
respeita aos planos de reestruturação de dívida soberana, para justificar as
suas posições.
***«»***
O Mundo inteiro, através dos Chefes de Estado e
de Governo, representados na Assembleia Geral da ONU, condenaram
inequivocamente a voracidade dos credores das dívidas públicas sobre os países
devedores, ao mesmo tempo que, indirectamente, desmascararam a hipocrisia do
comportamento da União Europeia - ali presente como representante de um
bloco de países – em relação à Grécia. Envergonhadamente, a UE absteve-se,
enquanto os Estados Unidos e o Reino Unido votaram contra.
O imperialismo financeiro foi derrotado no maior
areópago internacional.
2 comentários:
Nem todos os Coelhos são iguais
Há coelhos que são gatos disfarçados.
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