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terça-feira, 8 de setembro de 2015

Kenneth Rogoff: "Grécia e Portugal nunca deviam ter entrado no euro"


O economista norte-americano Kenneth Rogoff afirmou hoje [23 de Setembrode 2011] que "Portugal e a Grécia nunca deviam ter sido admitidos na zona euro", considerando inevitável uma reestruturação da dívida grega, e também da portuguesa, em entrevista ao Frankfurter Allgemeine.
"Acho que a Grécia e Portugal nunca deviam ter sido admitidos na zona euro, isso foi um hybris (exagero), tal como foi um exagero admitir a Eslováquia e a Letónia", disse o ex-chefe do gabinete de estudos do FMI.
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Kenneth Rogoff é o economista que, juntamente com a economista Carmen Reinhart, elaborou o célebre estudo - entretanto contestado por o programa de Excel utilizado conter erros de cálculo que, eventualmente, comprometeriam a credibilidade dos seus resultados - em que se pretendia demonstrar que uma dívida soberana acima dos noventa por cento do PIB comprometia o crescimento económico,  conclusão que serviu de referência para as políticas de austeridade que os países europeus estão a aplicar cegamente.
Entretanto, e isto é uma originalidade no campo dos economistas neoliberais, Rogoff admitiu que Portugal e a Grécia nunca deveriam ter entrado na zona euro, dando assim razão à minha metáfora da criança que veste o casaco do pai. 
Para ser coerente, faltam duas coisas no pensamento de Rogoff. A primeira é que as políticas de austeridade também não conduzem ao crescimento sustentado para poder pagar a dívida pública, como os indicadores macro-económicos de Portugal e da Grécia estão a demonstrar, o que obriga os respectivos governos a recorrer a mais privatizações (por este caminho, Portugal ainda terá de privatizar o mar). A segunda, é que, se Portugal e a Grécia não deveriam ter entrado na zona euro, a única medida que se impõe, para evitar o descalabro e a tragédia, será promover, de modo pacífico, a sua saída.
Pouco a pouco, a realidade vai demonstrando que é a Economia a ter de ir à frente das Finanças, e não o contrário. E, nesta perspectiva, não é o défice orçamental que é importante, embora não possa ser totalmente ignorado. O importante é promover a desvalorização de uma nova moeda nacional, para que os produtos portugueses sejam competitivos nos mercados internacionais, e por esta via se criem excedentes e se aumente de forma vigorosa e sustentada o PIB. Se Portugal não optar por esta política, que contrarie a emigração dos jovens, o progressivo envelhecimento da sua população e o alastramento da pobreza à classe média, o futuro será irredutivelmente muito sombrio. 

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