O economista norte-americano Kenneth Rogoff
afirmou hoje [23 de Setembrode 2011] que "Portugal e a Grécia nunca deviam
ter sido admitidos na zona euro", considerando inevitável uma reestruturação
da dívida grega, e também da portuguesa, em entrevista ao Frankfurter
Allgemeine.
"Acho que a Grécia e Portugal nunca deviam
ter sido admitidos na zona euro, isso foi um hybris (exagero), tal como foi um
exagero admitir a Eslováquia e a Letónia", disse o ex-chefe do gabinete de
estudos do FMI.
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Kenneth Rogoff é o economista que, juntamente
com a economista Carmen Reinhart, elaborou o célebre estudo - entretanto
contestado por o programa de Excel utilizado conter erros de cálculo que,
eventualmente, comprometeriam a credibilidade dos seus resultados - em que se
pretendia demonstrar que uma dívida soberana acima dos noventa por cento do PIB
comprometia o crescimento económico, conclusão que serviu de referência
para as políticas de austeridade que os países europeus estão a aplicar
cegamente.
Entretanto, e isto é uma originalidade no campo
dos economistas neoliberais, Rogoff admitiu que Portugal e a Grécia nunca
deveriam ter entrado na zona euro, dando assim razão à minha metáfora da
criança que veste o casaco do pai.
Para ser coerente, faltam duas coisas no
pensamento de Rogoff. A primeira é que as políticas de austeridade também não
conduzem ao crescimento sustentado para poder pagar a dívida pública, como os indicadores
macro-económicos de Portugal e da Grécia estão a demonstrar, o que
obriga os respectivos governos a recorrer a mais privatizações (por este
caminho, Portugal ainda terá de privatizar o mar). A segunda, é que, se
Portugal e a Grécia não deveriam ter entrado na zona euro, a única medida que
se impõe, para evitar o descalabro e a tragédia, será promover, de modo
pacífico, a sua saída.
Pouco a pouco, a realidade vai demonstrando que
é a Economia a ter de ir à frente das Finanças, e não o contrário. E, nesta
perspectiva, não é o défice orçamental que é importante, embora não possa ser
totalmente ignorado. O importante é promover a desvalorização de uma nova moeda
nacional, para que os produtos portugueses sejam competitivos nos mercados
internacionais, e por esta via se criem excedentes e se aumente de forma
vigorosa e sustentada o PIB. Se Portugal não optar por esta política, que
contrarie a emigração dos jovens, o progressivo envelhecimento da sua população
e o alastramento da pobreza à classe média, o futuro será irredutivelmente
muito sombrio.
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