Salvador Dalli - Visão paranóica, 1935 |
A síndrome do olho
direito
imagens
impressionantes divulgadas em alguns sites
mostram
um coelho de elite fora do seu habitat natural
engolindo
100 mil pastilhas elásticas de uma só vez.
Belém
ficou sem prestar declarações.
em
consequência disso algumas portas tornaram-se silenciosas
e
mais tarde irrevogáveis, revelando assim pelas frinchas um cadáver esquisito
a
ser manuseado por profissionais da tsu e por um dentista da troika.
algumas
testemunhas registaram o momento num filme de m. de oliveira
onde
a cena visada era uma figura feminina com vícios de cleptomania
começando
a roubar coisas diversas das casas dos outros.
outra
imprensa afirma que foi vista uma mulher amarrada a uma porta
e
em consequência disso um turco instala uma gaiola na cabeça
para
deixar de fumar.
por
imitação os portugueses na hora de comer enfiam bolachinhas
pelos
espaços das grades e bebem swaps, colas- zero e imperiais
através
de uma palhinha.
francamente,
há outras maneiras de fazer dieta. os maus exemplos são sempre maus exemplos e
bater na mãezinha, como fez o afonsinho,
é
uma vergonha.
hoje,
por exemplo, ao sair do lar, encontrei imensas pessoas com tremor nas
pálpebras, algo tão irritante quanto impossível de ser controlado.
pior ainda : pode durar dias com direito a curtos intervalos.
pior ainda : pode durar dias com direito a curtos intervalos.
mas
o que é intrigante é que na televisão alguns comentadores políticos tremiam
também com o olho direito.
nas
lojas onde entrei , no ato de pagar, as meninas das caixas tinham também a
síndrome do mesmo olho.
passei
então só a olhar para o olho esquerdo para evitar esta incrível visão. mas...
mantém-se pelo terceiro dia a avaria do ar condicionado ,em lisboa.
amanhã
faz mais frio, e os doentes já foram transferidos para os claustros.
quando
regressava do hospital encontrei uma criança que encontrou uma pomba morta no
chão.
a
menina começou a chorar e os dois olhos não tremiam.
esta
criança não pode ser presa.
o
PR deverá anunciar amanhã a sua decisão ao país.
Nota: Um pesadelo kafkiano,
projetado poeticamente sobre a realidade atual de um país deprimido. As imagens
metafóricas assaltam-nos as consciências, que não podem reduzir-se a uma
passividade amorfa, quando as pessoas começam a ser acometidas pelo síndrome da
tremura do olho direito, num claro anúncio de uma cegueira coletiva, aquela cegueira epidémica de que Saramago falava. Mas é
necessário evitar que aquela criança, que começou a chorar, venha a ser presa. É a única esperança, de quem está no limite de perder tudo, incluindo aquela pomba morta. E isto tem de ser um objetivo patriótico.
Estamos na presença de um poema, que se enquadra, tal como outros poemas da autora, na corrente do pós-modernenismo da poesia portuguesa. Um poema de intervenção política vigoroso e arrasador, que recupera, na profusão da sua construção metafórica, imagens muitos fortes e desconcertantes, a favorecer leituras comprometidas com a denúncia da humilhação de um povo, que no passado escreveu, com génio e audácia, uma parte significativa da História da Humanidade.
Estamos na presença de um poema, que se enquadra, tal como outros poemas da autora, na corrente do pós-modernenismo da poesia portuguesa. Um poema de intervenção política vigoroso e arrasador, que recupera, na profusão da sua construção metafórica, imagens muitos fortes e desconcertantes, a favorecer leituras comprometidas com a denúncia da humilhação de um povo, que no passado escreveu, com génio e audácia, uma parte significativa da História da Humanidade.
A "poeta" Maria Azenha colabora neste
blogue, publicando-se um poema de sua autoria, às quintas-feiras.