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em
pomares azuis
A
minha mãe é um peixe.
Em
pomares de água descendo ao coração
e
absorve-o em cada anel azul.
Desce
ao abismo
e
vejo como é fácil abrir a porta
das
lágrimas de Deus.
Estou
sentada no crepúsculo da alva página.
O
mundo está coberto de brancura agora.
Os
seus biombos de neve recebem os relógios da eternidade.
Há
corais noturnos dentro do sangue da névoa
e
o seu corpo é feito de algas brancas.
Sobrevivo
numa câmara de lume mudo.
Sou
uma flecha láctea. um peixe-flor à força
através
de um túnel escuro.
A
minha língua dentro da qual se precipita todo o ar
de
uma vida atrás de outra
é
como uma máquina de costura dos raios do luar.
E
estão a coser-me com agulhas de seiva da aurora
como
se eu fosse uma lâmpada de luz alva
Mês
após mês
a
minha mãe coloca em meus dedos
dez
pedaços de estrelas brancas.
E
choro através dos pensamentos de Deus
que
estão no fundo do mundo.
Então
ergo uma escada que sai do pranto
através
do meu pequeno ouvido
martirizado
por açucenas minúsculas .
Canto
com a boca escancarada vogais azuis.
E
digo : Aqui está o meu poema-Filho feito de lírios brancos
e
miríades de estrelas de água
nos
pulsos.
maria azenha
***
Nota: Um candelabro
metafórico, para que a luz da saudade não se apague. E é da palavra mãe que
nasce a poesia. Não há nenhum poeta que não invoque a figura da mãe,
colocando-a na alegoria da vida e da poesia, em cascatas de luz e sons (os sons
que nascem do silêncio telúrico dos poemas), e muito próxima das divindades e dos mitos antigos, ligados à Mãe-Natureza.
Maria Azenha, devolve-nos essa essência mística
da Mãe, cruzando, não aleatoriamente, as tais metáforas desconcertantes, para dar um sentido próprio ao seu poema. E não
podemos deixar de nos emocionar, quando ela nos diz: “E digo : Aqui está o meu
poema-Filho feito de lírios brancos/e miríades de estrelas de água/nos pulsos.
A
"poeta" Maria Azenha colabora neste blogue, publicando-se um poema de
sua autoria, às quintas-feiras.
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