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segunda-feira, 29 de julho de 2013

Passos apela a acordo para "clima de união nacional"


O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, apelou hoje a um acordo e convergência de objetivos com o PS, para além da atual legislatura, que termina em 2015, de modo a conseguir um clima de união nacional.
"Desde que tenhamos os pés assentes na terra e sejamos realistas - quer dizer, não comecemos a estabelecer objetivos que estão manifestamente para além daquilo que as condições nos permitem -, então é possível vencer e ultrapassar obstáculos e conseguir um clima de união nacional, não é de unidade nacional, é de união nacional, que permita essa convergência", disse Passos Coelho, discursando em Pombal na sessão solene de abertura das Festas do Bodo.
O primeiro-ministro sublinhou que o atual quadro fiscal, que classificou de "adverso às empresas", necessita de ser melhorado.
"Mas não conseguimos fazer isso de um ano para o outro, não é possível. Não poderíamos agravar ainda mais o IRS para compensar alguma perda de rendimento que resultaria dos impostos para as empresas", sustentou.
Diário de Notícias


***«»***
A expressão “união nacional”, utilizada pelo primeiro-ministro, Passos Coelho,  remete-nos para um negro passado longínquo, do qual a minha geração se recorda amargamente.
Talvez Passos Coelho, de tanto falar de “pés assentes na terra”, acabe por se enterrar até ao pescoço.
Mas analisemos detalhadamente as palavras de Passos Coelho, proferidas durante a sua visita à vila do Pombal, em que, pela primeira vez, a nova estratégia do governo, presumivelmente desenhada pelo ministro Maduro, aparece bem explicitada.
Para aumentar a credibilidade do governo, agora recauchutado, que ficou de rastos com a crise provocada pelas demissões de Vítor Gaspar e de Paulo Portas - o primeiro a deixar uma carta demolidora, com frases assassinas, e o segundo a dar um novo significado à palavra “irrevogável”- e, também, para tentar minimizar os futuros custos eleitorais, quer nas eleições autárquicas, quer nas próximas eleições legislativas, Passos Coelho necessita de encostar à parede o Partido Socialista. Se, até aqui, Passos Coelho optou por uma estratégia de violento confronto verbal com o seu opositor, tentando culpá-lo de todos os males do país (esqueceu-se das culpas do PSD, que ainda são maiores), agora está a ensaiar um aggiornamento, já tentado sem sucesso por Cavaco Silva, insistindo no convite de querer envolver e comprometer o PS num acordo global de governação, que permita ao governo prosseguir na tal Reforma do Estado, que mais não é do que uma dissimulada intenção de desmantelamento do Estado Social, que já está em marcha, e também conseguir um consenso para o corte dos tais 4,7 milhões de euros no Orçamento de Estado. Como chamariz, Passos Coelho acrescentou agora outro dossiê, o da redução do IRC para as empresas.
Temos de concordar que a estratégia é brilhante, pois seja qual for a atitude a tomar pelo PS, Passos Coelho recolherá benefícios, embora não tantos como desejaria, o que quer dizer que o PS ficará entalado. Se aceitar o canto de sereia de Passos Coelho, o PS passa a ser parte da solução (falsa e enganadora), mas também passará a ser parte do problema. Deixará de poder fazer uma oposição incisiva e contundente ao governo, tal como tem feito até ao momento, embora com objetivos eleitoralistas. Se resistir à armadilha, habilmente montada, poderá ser sempre atacado por Passos Coelho, com a acusação de que o PS não quer contribuir para uma política de salvação nacional, agora rebatizada de política de “união nacional”.
É evidente que os partidos de esquerda, os sindicatos e os movimentos de protesto independentes não ficar paralisados e apáticos, à espera do desenlace deste namoro romântico entre os dois partidos que, com as suas políticas erráticas, conduziram o país a uma das maiores crises políticas, económicas e sociais da da sua História.
As próximas eleições autárquicas são uma excelente oportunidade para exibir um cartão vermelho a este governo de direita e de condenar a ambiguidade do PS em relação à sua posição quanto ao memorando da troika, que assinou, se a CDU vier a receber os votos de todos os eleitores que estão descontentes com as sucessivas políticas de austeridade, que vão continuar a ser implementadas,  por outra vias e processos. À esquerda do PS, não há outra alternativa eleitoral, que não seja a da CDU. A abstenção apenas servirá para reforçar o poder do atual governo, já que não entra na ponderação do método da distribuição de mandatos, com muita pena minha.

domingo, 28 de julho de 2013

Clube dos mentirosos!...

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Nenhuma destas ilustres personalidades, bajuladas até à náusea por gente invertebrada, conseguiria manter-se em funções públicas, em qualquer país civilizado. São a negação da honestidade e a imagem perfeita da podridão de um regime político, que já não consegue regenerar-se. Percebe-se que querem agarrar-se ao poder, a qualquer preço, negando-se a si próprios, se for necessário, o que nos obriga a ter que os expulsar à força, antes que violentem a dignidade do nosso povo.

Agradecimento


Agradeço à Emília a gentileza de ter aderido ao Alpendre da Lua, como amiga/seguidora.

sábado, 27 de julho de 2013

Notas do meu rodapé: Razões de uma candidatura


Conferência de imprensa, que teve a presença de António Filipe,
deputado do PCP e vice-presidente da Assembleia da República

Razões de uma candidatura

Há momentos em que não podemos fugir às responsabilidades exigidas pelos deveres da cidadania, abdicando daquele comodismo egoísta, que tende a afastar-nos, por vício de uma cultura social hereditária, da coisa pública. É certo que muitos cidadãos, por oportunismo carreirista, enveredam pelos sinuosos caminhos da política, entrando pela porta pequena dos partidos do chamado arco da governação e almejando sair pela porta grande de algum ministério ou de uma bancada da Assembleia da República. Aqueles, entre estes, que conseguem trepar até aos mais altos patamares institucionais, acabam por subscrever um seguro profissional contra todos os riscos, pois haverá sempre uma grande empresa, entretanto beneficiada por um qualquer privilégio, que garantirá um emprego bem remunerado para toda a vida. Os portugueses já conhecem os mapas destes percursos, que rivalizam com o Mapa das Estradas do Automóvel Clube de Portugal.
Não é o caso dos políticos oriundos do Partido Comunista Português, nem dos seus anónimos militantes, que metódica e permanentemente trabalham por um nobre ideal, não esperando nada em troca, a não ser os benefícios que a generalidade dos trabalhadores venha a obter e a conquistar. É esta a grande diferença do perfil comportamental dos militantes do PCP e os dos outros partidos que com ele integram a CDU, uma coligação partidária que assume uma inteira disponibilidade para servir o povo trabalhador, defendendo em todas as instâncias e em todos os lugares os seus direitos e as suas legítimas aspirações.
E foi com este espírito cívico e militante que aceitei o honroso convite de integrar como cabeça lista as candidaturas da CDU à vereação da Câmara Municipal de Ourém, nas próximas eleições autárquicas, sabendo de antemão que terei de enfrentar muitos desafios difíceis, de que destaco dois, pela sua importância.
O primeiro desafio consiste em tentar desmontar a distorcida imagem, que foi malevolamente inculcada nos portugueses, ao longo destes trinta e oito anos de democracia, sobre a natureza e os princípios do PCP. Esta imagem, artificialmente construída pelas centrais de intoxicação nacionais e internacionais, ao serviço do capitalismo financeiro e do imperialismo europeu e americano, tem impedido que muitos trabalhadores ainda não tenham compreendido a natureza da exploração de que são vítimas. Por outro lado, as forças do grande capital, que controlam as televisões e os jornais, marginalizam ostensivamente a presença do PCP e da CDU, não respeitando o princípio da igualdade de tratamento, em relação às forças políticas dominantes, marginalização esta que é muito visível ao nível do espaço de opinião, nos jornais, e nos fóruns de discussão política, nas televisões
O segundo desafio tem a ver com as condições particulares e especiais do quadro político de fundo em que estas eleições autárquicas vão decorrer, com um governo de direita a aplicar as políticas de austeridade, congeminadas pela Alemanha e pela Comissão Europeia, e que estão a conduzir o país para a ruína e para a miséria. Por isso, a discussão dos problemas nacionais vai ocupar muito espaço na campanha eleitoral, até porque os portugueses estão à espera de poder mostrar inequivocamente um cartão vermelho a este governo e aos partidos (PS/PSD/CDS), que capitularam perante a troika (FMI/UE/BCE), alienando parte da nossa soberania e levando o país para uma posição insustentável.
Os portugueses já perceberam que o PS, o PSD e o CDS, além de serem os únicos culpados pela situação atual, persistem, se continuarem no poder, em perpetuar as políticas de austeridade, que incidirão sempre sobre os rendimentos do trabalho e os rendimentos dos pensionistas, a que se acrescenta agora a intenção de desmantelar o Estado Social, para alienar a sua parte mais lucrativa aos agentes privados, que já começaram a instalar-se no terreno. Aquilo, que agora o Partido Socialista anda a apregoar aos quatro ventos, sobre a sua intenção de acabar com a austeridade e apostar nas políticas de crescimento, sabe ao ranço dos discursos eleitoralistas, pois, todos sabemos, que não é esse o desejo da União Europeia nem da Alemanha, que apenas estão apostados em salvar o euro do desastre, recapitalizando os grandes bancos europeus, incluindo os bancos portugueses, à custa da austeridade sobre os rendimentos do trabalho, para que eles possam resgatar os  produtos tóxicos (créditos incobráveis), derivados da especulação financeira do últimos quinze anos. Nunca a Europa aceitaria as propostas de António José Seguro, e ele sabe-o bem. A Europa só recuará nos seus propósitos quando se sentir ameaçada pela firme determinação dos povos em cortar com as amarras que os prendem à feroz ditadura do capital financeiro, que hoje domina a política à escala global.
Em relação ao governo da autarquia, posso garantir com toda a segurança que a CDU tem todos os meios necessários para exercer todas as funções políticas que o povo do concelho de Ourém lhe confiar, através do seu voto. Não farei promessas. Prometo apenas trabalho dedicado e honesto ao serviço do bem público. Não farei discursos eleitoralistas, de encantar serpentes, a prometer o Céu e a Terra. Irei identificar, juntamente com os outros candidatos das listas da CDU, os principais problemas com que se defrontam os ourienses, para que, no caso de ser eleito, eles possam ser colocados à vereação camarária, para os analisar e para estudar a sua viabilidade técnica e política, com vista à sua resolução. Não será um mandato de gabinete, mas um mandato “trabalhado” no terreno e centrado nos principais problemas dos munícipes, cuja opinião será sempre ouvida e tomada em consideração. Mas para isso é necessário o voto na CDU.
Alexandre de Castro

Lisboa a trabalhar para a conservação da Natureza

Amabilidade de Carlos Campos de Sousa

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Poema: INTERVALO - por maria azenha

óleo - Samuel Wade
Imagem selecionada pela autora

INTERVALO

Sou uma mulher livre 
Cuido das palavras como quem cuida de um filho
Estão agora abertas as hortências para que me sirvam de portas
Escrevo a branca violência porque sou de longe 
Cada palavra na boca é um fósforo aceso 

***«»***
Nota: "A paz é algo que procuro todos os dias, mas é algo tão difícil como o estilo de vida sereno, em silêncio, longe da vida mundana. Embora pense que o artista não é nenhum monstro isolado da realidade, também penso que para criar, deve isolar-se como o investigador no seu laboratório. " 
D.P.

A "poeta" Maria Azenha colabora neste blogue, publicando-se um poema de sua autoria, às quintas-feiras. 
Na próxima semana, publicar-se-á o poema “ A uma mulher de nome Joana”.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

PORQUE ONTEM VI TANTA GENTE COM O MANDELA NA BOCA...


Intervenção do Deputado António Filipe do PCP em 18 de Julho de 2008, nos 90 anos de Nelson Mandela na Assembleia da República.

(...) aquilo que os senhores não querem que se diga, lendo os vossos votos, é que Mandela esteve até hoje na lista de terroristas dos Estados Unidos da América.

Mas isto é verdade! É público e notório - toda a gente o sabe!

Os senhores não querem que se diga que Nelson Mandela conduziu uma luta armada contra o apartheid, mas isto é um facto histórico. Embora os senhores não o digam, é a verdade, e os senhores não podem omitir a realidade.

Os senhores não querem que se diga que, quando, em 1987, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou, com 129 votos, um apelo para a libertação incondicional de Nelson Mandela, os três países que votaram contra foram os Estados Unidos da América, de Reagan, a Grã-Bretanha, de Thatcher, e o governo português, da altura.*

Isto é a realidade! Está documentado!

Não querem que se diga que, em 1986, o governo português tentou sabotar, na União Europeia, as sanções contra o regime do apartheid.

Não querem que se diga que a imprensa de direita portuguesa titulava, em 1985, que: «Eanes recebeu em Belém um terrorista sul-africano». Este «terrorista» era Oliver Tambo!

São, portanto, estes embaraços que os senhores não querem que fiquem escritos num voto.

Não querem que se diga que a derrota do apartheid não se deveu a um gesto de boa vontade dos racistas sul-africanos mas à heróica luta do povo sul-africano, de Mandela e à solidariedade das forças progressistas mundiais contra aqueles que defenderam até ao fim o regime do apartheid.(...)"

SABEM QUEM ERA O GOVERNO PORTUGUÊS EM 1987, E QUE VOTOU CONTRA? ERA CAVACO SILVA!

Amabilidade de Diamantino Silva, que enviou este texto.

Portas não vai sobrepor-se a Albuquerque no 'dossier' troika


O primeiro-ministro afirmou hoje que Paulo Portas vai ter um papel nas relações com a 'troika' enquanto vice-primeiro-ministro, mas sem se sobrepor às "competências próprias" da ministra de Estado e das Finanças, Maria Luís Albuquerque.

***«»***
Uma grande humilhação para Paulo Portas, que já tinha sido humilhado por Cavaco Silva. Como pode ter credibilidade um governo com um primeiro-ministro desacreditado (Vitor Gaspar escreveu-lhe uma carta assassina) e um vice-primeiro-ministro humilhado?

domingo, 21 de julho de 2013

Agradecimento


Agradeço a simplesmenteeu (uma excelente “poeta”) a gentileza de ter aderido ao Alpendre da Lua, como amiga/seguidora.

O Tribunal deu razão a quem a tinha...

Estive por aqui, algures...

SINDICATO DOS MÉDICOS DA ZONA SUL

COMUNICADO

O Sindicato dos Médicos da Zona Sul saúda a decisão judicial sobre a Maternidade Alfredo da Costa
A decisão judicial hoje divulgada sobre a manutenção do funcionamento da Maternidade Alfredo da Costa (MAC)  constitui um exemplo de sensatez, de defesa do interesse público e de preocupações humanas.
O Sindicato dos Médicos da Zona Sul/FNAM desde o início deste complexo processo de desmembramento da MAC tem participado ativamente na contestação dessa decisão iníqua do atual Governo e do seu Ministério da Saúde, participando nos diversos plenários dos trabalhadores da Maternidade e nas múltiplas iniciativas de cidadãos em defesa desta unidade hospitalar.
Importa reafirmar que esta Maternidade é uma unidade de elevada diferenciação técnico-científica ao nível das melhores unidades existentes no plano internacional.
A questão nuclear que sempre se colocou na salvaguarda da experiência, da qualidade técnico-científica e da capacidade de respostas céleres aos mais complexos problemas clínicos foi a manutenção integral da equipa global desta maternidade.
Para se atingirem patamares tão elevados de qualidade assistencial tem de haver uma experiente e atuante sinergia entre todos os serviços e um nível equivalente de diferenciação técnico-científica.
Ora, a MAC cumpre, desde há muitos anos, estes requisitos e tem constituído um dos bons exemplos da qualidade assistencial do nosso SNS.
Apesar das promessas iniciais do Ministério da Saúde de que a equipa global da MAC seria preservada, cedo se verificou que as medidas em desenvolvimento visavam desmantelar os vários serviços e dilacerar qualquer perspetiva de manter a experiência acumulada.
A posição já assumida publicamente pelo Ministério da Saúde de que irá recorrer da decisão judicial acaba por mostrar de que lado se posiciona perante os bons exemplos do nosso SNS: do lado dos que querem destruir gradualmente esses exemplos para mais facilmente destruir o próprio SNS e o direito constitucional à saúde.
Em vez de aproveitar esta decisão judicial para procurar corrigir todo o percurso encetado e repensar globalmente o processo, o Ministério da Saúde mostra que tem objetivos de obstinação política na destruição efetiva da MAC e que quer continuar a usar, como até aqui, a prepotência e a política do facto consumado.
O Sindicato dos Médicos da Zona Sul/FNAM saúda a decisão judicial, saúda o grupo de cidadãos que corporizaram a providência cautelar e saúda particularmente a firmeza e o empenhamento dos vários estratos de trabalhadores da MAC na defesa da sua instituição e da sua nobre missão humanista.
O Sindicato dos Médicos da Zona Sul/FNAM reafirma a sua posição de princípio de que desenvolverá todos os esforços ao seu alcance para continuar a apoiar esta luta de defesa da MAC para bem dos muitos milhares de cidadãs e respetivos filhos que são objeto dos qualificados cuidados assistenciais prestados por essa instituição.
 Lisboa, 19/7/2013
 A Direção

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Crónica: Um pesadelo para esquecer


Transcrição de um comentário que deixei numa página da internt, onde me tenho envolvido em acesas discussões políticas: 


Eu, ontem à noite, proporcionei aos leitores deste grupo, a leitura deste poema, para que tivessem bons sonhos. Mas, afinal, quem teve um sonho mau, fui eu. Foi um daqueles pesadelos, que nos sacodem o sono e nos deixam patéticos, ao acordar, enquanto, lentamente, tateamos a claridade da realidade. Tinha sonhado, e isto não é ficção, que o PS de Seguro e o PSD de Passos, depois de despedirem Paulo Portas, por o considerarem um empecilho, tinham chegado a um acordo patriótico para salvar a Pátria. A fim de evitarem as eleições prometidas por Cavaco, em Junho de 2014, que só vinham a atrapalhar os contornos da negociata, resolveram dividir o poder, não através de uma coligação, mas através da divisão do seu exercício, numa escala temporal. O PSD governava até Junho de 2014 e o PS, de 2014 até 2015, até ao final da legislatura, comprometendo-se os dois partidos a fazer o necessário para reduzir o défice orçamental até ao limite imposto pela troika. No comunicado em que anunciavam triunfalmente o estabelecimento deste acordo patriótico, também diziam que "os sacrifícios seriam suportados por todos os portugueses, sem excepção, custe o que custar e doa a quem doer" (lembro-me que, nesta passagem do desenrolar do sonho, desatei a rir às gargalhadas), e acrescentavam a seguir que em 2016 a economia começaria a crescer a um ritmo vertiginoso (aqui, quase que me urinava a rir, o que teria acontecido se, entretanto, não tivesse acordado). Respirei de alívio, quando, na consulta imediata às notícias da net, constatei que o sonho não correspondia à realidade. Mas se, por uma qualquer maldição, isto vier a confirmar-se, pedirei a todos os santinhos do céu que me façam sonhar com a chave do próximo euromilhões.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Oskar Lafontaine: Arquitecto alemão do euro defende fim da moeda única


O antigo ministro das Finanças alemão e arquitecto Oskar Lafontaine Arquitecto alemão do euro defende fim da moeda únicao da moeda única, Oskar Lafontaine, considera que só com o fim do euro países como Portugal, Espanha, Chipre e Grécia podem sair da crise financeira que abala a Europa. A opinião de Lafontaine, citado pelo jornal i, será um sinal da mudança de opinião dos partidos de esquerda da Alemanha sobre a moeda europeia.
Primeiro foram os partidos de direita a mostrarem-se eurocépticos, agora também são os de esquerda, e, pela voz de Oskar Lafontaine, a admitir que o caminho escolhido pelos países da zona euro está “a conduzir à desgraça”, cita o jornal i.
Oskar Lafontaine foi ministro das Finanças alemão e arquitecto da moeda única, mas não esconde a sua preocupação pelo facto de a Alemanha ser o único país a beneficiar com o euro. Lafontaine alerta para o perigo de países como Portugal, Espanha, Chipre e Grécia virem a ser “forçados a combater a hegemonia alemã mais cedo ou mais tarde”.
Para o alemão, a “situação económica piora de dia para dia” e a solução para sair da crise passa pelo fim da moeda única. Em referência a Portugal, Oskar Lafontaine admitiu que “os países em crise só podem sair dela, quando a moeda única for rasgada”. 
***«»***

Quem continuar a pensar que a alternativa do país não passa pela saída do euro está a enganar-se a si próprio e a enganar os outros. A moeda única foi concebida no interesse da Alemanha, que a alinhou pelo marco, prejudicando as economias mais fracas da Europa. Não omitindo as culpas próprias de governos irresponsáveis e incompetentes, alinhados com os grandes grupos económicos, os indicadores macro-económicos (défice orçamental, balança comercial e balança de pagamentos, dívida e produtividade) agravaram-se continuamente após a adesão ao euro. Portugal vestiu um casaco demasiadamente grande para o seu corpo, que o alfaiate já não consegue ajustar, porque se corta de um lado (austeridade), desequilibra no outro (crescimento económico).

Poema: em pomares azuis - maria azenha

Imagem selecionada pela autora

em pomares azuis

A minha mãe é um peixe.
Em pomares de água descendo ao coração
e absorve-o em cada anel azul.

Desce ao abismo 
e vejo como é fácil abrir a porta 
das lágrimas de Deus.

Estou sentada no crepúsculo da alva página. 
O mundo está coberto de brancura agora. 

Os seus biombos de neve recebem os relógios da eternidade.
Há corais noturnos dentro do sangue da névoa
e o seu corpo é feito de algas brancas.

Sobrevivo numa câmara de lume mudo.
Sou uma flecha láctea. um peixe-flor à força
através de um túnel escuro.
A minha língua dentro da qual se precipita todo o ar 
de uma vida atrás de outra 
é como uma máquina de costura dos raios do luar. 
E estão a coser-me com agulhas de seiva da aurora
como se eu fosse uma lâmpada de luz alva

Mês após mês 
a minha mãe coloca em meus dedos 
dez pedaços de estrelas brancas.
E choro através dos pensamentos de Deus 
que estão no fundo do mundo.

Então ergo uma escada que sai do pranto 
através do meu pequeno ouvido
martirizado por açucenas minúsculas . 

Canto com a boca escancarada vogais azuis. 

E digo : Aqui está o meu poema-Filho feito de lírios brancos
e miríades de estrelas de água 
nos pulsos.

maria azenha
***
Nota: Um candelabro metafórico, para que a luz da saudade não se apague. E é da palavra mãe que nasce a poesia. Não há nenhum poeta que não invoque a figura da mãe, colocando-a na alegoria da vida e da poesia, em cascatas de luz e sons (os sons que nascem do silêncio telúrico dos poemas), e muito próxima das divindades e dos mitos antigos, ligados à Mãe-Natureza.
Maria Azenha, devolve-nos essa essência mística da Mãe, cruzando, não aleatoriamente, as tais metáforas desconcertantes, para dar um sentido próprio ao seu poema. E não podemos deixar de nos emocionar, quando ela nos diz: “E digo : Aqui está o meu poema-Filho feito de lírios brancos/e miríades de estrelas de água/nos pulsos.

A "poeta" Maria Azenha colabora neste blogue, publicando-se um poema de sua autoria, às quintas-feiras. 

Agradecimento


Agradeço ao opuma a gentileza de ter aderido ao Alpendre da Lua, como amigo/seguidor.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Europa já não necessita do Fundo Monetário Internacional (FMI) para apoiar países economicamente fragilizados


A comissária europeia Viviane Reding, vice-presidente da Comissão liderada por Durão Barroso, defendeu hoje que “o tempo da ‘troika’ acabou”, sustentando que a Europa já não necessita do Fundo Monetário Internacional (FMI) para apoiar países economicamente fragilizados.
“O facto de nos últimos anos termos pedido ajuda ao FMI foi uma solução de emergência. A partir de agora, nós, europeus, devemos ser capazes de resolver os nossos próprios problemas”, afirmou a comissária europeia responsável pela pasta da Justiça, durante um debate com cidadãos europeus em Heidelberg, Alemanha.
Segundo a vice-presidente da Comissão, cujas declarações foram divulgadas em Bruxelas pelo executivo comunitário, “os cidadãos têm a sensação de que a ‘troika’ trabalha na sombra, sem qualquer tipo de controlo, e que os tecnocratas do FMI não estão sujeitos a qualquer controlo democrático”.
“A Comissão é o governo económico da Europa. Juntamente com o Banco Central Europeu e os Estados Membros, podemos velar por que os países economicamente fragilizados procedam a reformas em troca de solidariedade. Para isso, não precisamos da ‘troika’; o tempo da ‘troika’ acabou”, disse.
Atualmente, a UE presta assistência financeira em conjunto com o FMI a Grécia, Irlanda e Portugal, estando previsto que a Irlanda saia do programa este ano e Portugal no próximo.
***«»***
A partir de agora, ou seja, a partir da assinatura do acordo patriótico, passará a funcionar a troika indígena (PS/PSD/CDS), que reportará à Comissão Europeia e ao Conselho Europeu.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Ciência: Cientistas debatem se a matemática existe no universo ou no cérebro


Cientistas debatem se a matemática existe no universo ou no cérebro
Cientistas estão a discutir se as propriedades das entidades abstratas, como números, figuras geométricas ou símbolos, e as suas relações, são uma propriedade do universo ou uma interpretação humana da realidade, segundo um artigo divulgado hoje.
O Instituto Kavli do Cérebro e da Mente, com sede em Oxnard (Califórnia, EUA), publicou as opiniões de neurocientistas que debatem se a matemática, que descreve e prognostica o que no rodeia os seres humanos, desde a estrutura helicoidal do ADN às espirais das galáxias, existe no universo ou é a forma com que a mente humana compreende o universo.
“Os números não são propriedades do universo, refletem sim o suporte biológico com o qual as pessoas compreendem o mundo”, segundo o chileno Rafael Núnez, professor de ciência cognitiva da Universidade da Califórnia (San Diego).
O professor de neuropsicologia cognitiva da Universidade College de Londres, Brian Butterworth, que colabora com Núnez nesta investigação, defendeu que “os números não são, necessariamente, uma propriedade do universo, mas sim uma forma muito poderosa de descrever alguns aspetos do universo”.
Pelo contrário, o professor associado da Universidade de Tóquio, Simeon Hellerman, afirmou que muitos físicos (incluindo o próprio) concordam que “deve haver alguma descrição completa do universo e das leis da natureza”.
“Implícito nessa premissa está o facto de o universo ser, intrinsecamente, matemático”, acrescentou.
Max Tegmark, professor de física no Instituto Tecnológico de Massachussets (MIT) sustentou que “a natureza, claramente, dá-nos indícios de que o universo é matemático”.
Muitos matemáticos, acrescentou, sentem que não inventam as estruturas matemáticas “e sim, que as descobrem, e que estas estruturas matemáticas existem independentemente dos humanos”.
Notícias ao Minuto

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Existe sempre o risco de imaginarmos o mundo, tal como a nossa mente o concebe e não como na realidade ele existe. A Teoria do Caos foi a primeira corrente do pensamento a colocar esta magna questão, ao admitir que os modelos experimentais da Física isolam apenas uma parte da realidade, não sendo pois possível, eventualmente, ilustrar com exatidão o comportamento do Todo. É uma questão filosófica e científica difícil de resolver.

Considerações sobre o racismo...

Paul Weston: Eu sou racista...
Amabilidade de João Fráguas
***
A minha posição é esta:
Sou racista quando me sinto vítima do racismo.
Sou anti-islamita (tal como sou anti-fascista), quando o islão pretende ser uma doutrina política de Estado, de características totalitárias e demenciais, e um foco de terrorismo, ultrapassando assim o seu estatuto de religião, que respeito, mas à qual me oponho, assim como me oponho a todas as religiões, apenas pelo facto de ser ateu.
Tirando isto, manifesto todo o meu respeito por todos os povos, por todas as etnias e por todos os crentes, que, tal como eu, defendam a Liberdade, a Igualdade, a Fraternidade e a Dignidade Humana.
*
Adenda: Este meu texto, "Considerações sobre o racismo", aqui publicado, desencadeou alguma polémica em algumas páginas de opinião das redes sociais, em que colaboro. Uns apoiaram, outros, embora timidamente, não apoiaram. Uns compreenderam-me, outros não me compreenderam. Por isso, resolvi esclarecer melhor o meu pensamento, com esta nota, que também deixo aqui.

" A minha posição de princípio está plenamente exposta na parte final do meu texto, quando afirmo convictamente: " manifesto todo o meu respeito por todos os povos, por todas as etnias e por todos os crentes, que, tal como eu, defendam a Liberdade, a Igualdade, a Fraternidade e a Dignidade Humana". É um princípio humanista universal e civilizacional, que eu sempre eu adotei. Agora, o que eu rejeito é a assumpção de falsos e hipócritas humanismos, que não são mais do que verniz nas unhas. Não cederei a todos aqueles que, a pretexto de uma vingança histórica, de cujos trágicos e condenáveis acontecimentos eu não sou culpado, queiram inverter o sentido do exercício e da prática do racismo, tal como está a acontecer, nem queiram utilizar o fanatismo de uma religião para incendiar o mundo. Pois é evidente que o racismo é condenável, mas não podemos aceitar aqueles que, em nome ao seu justo combate, também o praticam. O respeito pelo Outro exige reciprocidade".

domingo, 14 de julho de 2013

Legislativas Eleições antecipadas à vista?

A sequência da crise em imagens



O Presidente da República, Cavaco Silva, tem exercido pressão junto dos partidos do arco de governação por forma a chegarem a um acordo o mais depressa possível. Caso PSD, PP e PS não se entendam, a alternativa passará mesmo por uma ida às urnas ainda em 2013, relata a edição deste domingo do Jornal de Notícias.

***«»***
Eu nunca acreditei na bondade da iniciativa de Cavaco Silva em impor um acordo de governação aos três partidos subscritores do Memorando de Entendimento com a troika. Só um ingénuo acreditaria que o PS iria cair na armadilha de meter-se na boca do lobo. E Cavaco Silva não tem nada de ingénuo! É manhoso!
Embora lhe conviesse, por arreigada convicção ideológica, e também para corresponder servilmente ao assédio da comissão europeia e do governo alemão, manter em funções um governo de maioria de direita, já moribundo, dando-lhe uma nova vida com algum oxigénio da máquina do PS, ele sabia de antemão que a manobra teria poucas probabilidades de vingar.
Mas tentou a sua sorte, conseguindo assim resguardar-se de qualquer crítica, se o acordo não se firmar, o que é mais provável, e ele for obrigado a convocar eleições antecipadas, ainda este ano. Ele poderá sempre dizer que a culpa foi dos partidos, que não se entenderam. E foi com o mesmo calculismo que, na sua comunicação ao país, ele introduziu habilidosamente, a cláusula de o acordo tripartidário envolver também a realização de eleições antecipadas em Junho do próximo ano.
Aconteça o que acontecer, ele nunca poderá ser acusado, pelas hostes da direita fanática, de ter precipitado um ato eleitoral, que ele nunca desejou. E o que mais irritará Cavaco Silva é o de ser obrigado a tomar uma decisão, há muito tempo reivindicada pelo PCP e pelo BE (a esquerda a ter razão, mais uma vez).
Agora, tudo vai depender do PS. Se meter um pé, assinando um acordo, acaba por ter de meter os dois, pois o fracasso desta solução espúria ser-lhe-á também creditado, o que acarretará custos eleitorais.  

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Poema: A síndrome do olho direito - por maria azenha

Salvador Dalli - Visão paranóica, 1935 

A síndrome do olho direito

imagens impressionantes divulgadas em alguns sites 
mostram um coelho de elite fora do seu habitat natural 
engolindo 100 mil pastilhas elásticas de uma só vez.
Belém ficou sem prestar declarações. 
em consequência disso algumas portas tornaram-se silenciosas 
e mais tarde irrevogáveis, revelando assim pelas frinchas um cadáver esquisito 
a ser manuseado por profissionais da tsu e por um dentista da troika.

algumas testemunhas registaram o momento num filme de m. de oliveira
onde a cena visada era uma figura feminina com vícios de cleptomania 
começando a roubar coisas diversas das casas dos outros. 

outra imprensa afirma que foi vista uma mulher amarrada a uma porta
e em consequência disso um turco instala uma gaiola na cabeça 
para deixar de fumar.
por imitação os portugueses na hora de comer enfiam bolachinhas 
pelos espaços das grades e bebem swaps, colas- zero e imperiais 
através de uma palhinha.

francamente, há outras maneiras de fazer dieta. os maus exemplos são sempre maus exemplos e bater na mãezinha, como fez o afonsinho, 
é uma vergonha. 

hoje, por exemplo, ao sair do lar, encontrei imensas pessoas com tremor nas pálpebras, algo tão irritante quanto impossível de ser controlado.
pior ainda : pode durar dias com direito a curtos intervalos. 

mas o que é intrigante é que na televisão alguns comentadores políticos tremiam também com o olho direito. 

nas lojas onde entrei , no ato de pagar, as meninas das caixas tinham também a síndrome do mesmo olho.
passei então só a olhar para o olho esquerdo para evitar esta incrível visão. mas... mantém-se pelo terceiro dia a avaria do ar condicionado ,em lisboa. 
amanhã faz mais frio, e os doentes já foram transferidos para os claustros.

quando regressava do hospital encontrei uma criança que encontrou uma pomba morta no chão.

a menina começou a chorar e os dois olhos não tremiam.

esta criança não pode ser presa. 
o PR deverá anunciar amanhã a sua decisão ao país.


Nota: Um pesadelo kafkiano, projetado poeticamente sobre a realidade atual de um país deprimido. As imagens metafóricas assaltam-nos as consciências, que não podem reduzir-se a uma passividade amorfa, quando as pessoas começam a ser acometidas pelo síndrome da tremura do olho direito, num claro anúncio de uma cegueira coletiva, aquela cegueira epidémica de que Saramago falava. Mas é necessário evitar que aquela criança, que começou a chorar, venha a ser presa. É a única esperança, de quem está no limite de perder tudo, incluindo aquela pomba morta. E isto tem de ser um objetivo patriótico.
Estamos na presença de um poema, que se enquadra, tal como outros poemas da autora, na corrente do pós-modernenismo da poesia portuguesa. Um poema de intervenção política vigoroso e arrasador, que recupera, na profusão da sua construção metafórica, imagens muitos fortes e desconcertantes, a favorecer leituras comprometidas com a denúncia da humilhação de um povo, que no passado escreveu, com génio e audácia, uma parte significativa da História da Humanidade.

A "poeta" Maria Azenha colabora neste blogue, publicando-se um poema de sua autoria, às quintas-feiras. 

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Partido Socialista:Uma clarificação que se impunha...

Amabilidade de Diamantino Silva
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Já aqui nos referimos a esta esclarecedora declaração de princípios, que não foi denunciada nem corrigida por nenhum dos dirigentes do Partido Socialista, o que significa a plena assumçãao ideológica e programática por parte de um partido, que ainda se reclama de esquerda, mas que, ao perder a sua fundadora matriz identitária, o marxismo, começou a querer apresentar-se como o melhor gestor do capitalismo.

Humor: PORTAS VAI-VEM

Amabilidade de João Fráguas

terça-feira, 9 de julho de 2013

Poema declamado: MEDITAÇÃO DO DUQUE DE GANDIA SOBRE A MORTE DE ISABEL DE PORTUGAL - Sophia de Mello Breyner Andresen

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MEDITAÇÃO DO DUQUE DE GANDIA
SOBRE A MORTE DE ISABEL DE PORTUGAL

Nunca mais
a tua face será pura limpa e viva,
nem teu andar como onda fugitiva
se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
do teu ser. Em breve a podridão
beberá os teus olhos e os teus ossos
tomando a tua mão na sua mão.

Nunca mais amarei quem não possa viver
sempre,
porque eu amei como se fossem eternos
a glória, a luz e o brilho do teu ser,
amei-te em verdade e transparência
e nem sequer me resta a tua ausência,
és um rosto de nojo e negação
e eu fecho os olhos para não te ver.

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.

Sophia de Mello Breyner Andresen

domingo, 7 de julho de 2013

Uma reflexão da economista e professora universitária, Manuela Silva.


"O que está em causa não é o pensamento económico em si, o qual se considera relevante e indispensável para a melhor compreensão da realidade societal e do lugar que nela ocupa a organização e o funcionamento da respectiva economia; tão pouco se põe em dúvida o papel coadjuvante que a Ciência Económica pode ter na definição de estratégias e medidas de política que viabilizem e promovam um desenvolvimento sustentável ao serviço do bem-estar colectivo e da qualidade de vida das pessoas, da coesão e da paz social, finalidades indissociáveis de uma democracia autêntica.
O que está em causa é que a Ciência Económica dominante se deixou capturar pelos interesses do capital financeiro e vem harmonizando as suas lógicas de construção científica com esses interesses, concentrando aí o seu olhar e o aperfeiçoamento das suas ferramentas analíticas e, do mesmo passo, desviando-se de outras hermenêuticas que privilegiem, por exemplo, a satisfação das necessidades das pessoas e do emprego dos respectivos recursos individuais e colectivos, a prossecução de finalidades de bem-estar individual e social, a equidade no acesso e na repartição do desapiedados bens, os processos de um desenvolvimento sustentável.
Nesta deriva ideológica, que, nas três últimas décadas, se tem vindo a impor, incluindo no meio académico, sob a capa de um pensamento único com pretensa validação científica, sobressaem a lógica de um comportamento dito “racional” baseado no mero interesse individual egoísta, a exaltação do mercado como regulador único do conflito de interesses, a competitividade como motor de um crescimento económico ilimitado".
Do discurso na cerimónia do seu Doutoramento Honoris Causa,
pela Universidade Técnica de Lisboa (ISEG)

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Uma reflexão de uma brilhante e insuspeita académica (situa-se nas correntes de pensamento do catolicismo progressista), que deverá ser compreendida por todos, nestes conturbados tempos de desvario “austeritário”, que emanou naturalmente de uma comprometida teoria económica, que já se transformou em ideologia omnipotente do capitalismo financeiro, ancorando-se na sacralização do mercado, e na “financeirização” da economia, e que, tendencialmente, caminha para um totalitarismo desapiedado e fascizante.

sábado, 6 de julho de 2013

"Não vou prometer tudo a todos", avisa Seguro


António José Seguro deixou dois avisos aos membros da comissão política nacional, no final da reunião de quinta-feira à noite: que não promete "tudo a todos" e que pode voltar a chamá-los em breve, ainda em Julho. "Não dependemos de nós próprios. Se alguém pensa que vou prometer tudo a todos, desenganem-se. A situação do país é de enorme gravidade", afirmou o secretário-geral do PS. Uma declaração que remete para a necessidade de não haver ilusões quanto à necessidade de cumprir o programa de ajustamento, com os exigidos cortes de despesa e reforma do Estado, ainda que possam vir a ser mitigados.

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António José Seguro começa a jogar à defesa, o que permite perceber melhor, caso ele venha a ser primeiro-ministro, o sentido da sua política, que, eventualmente, apenas se diferenciará da de Passos Coelho nos inócuos e insignificantes pormenores. Ao não desvincular-se do programa ditatorial da troika, ele terá, forçosamente, de aplicar mais receitas de austeridade, mantendo as que já estão em vigor, o que irá comprometer o crescimento da economia, desmontando-se assim o argumento principal, embora inconsequente, do seu discurso panfletário contra o atual executivo.
Ele sabe, tal como o sabem os dirigentes das instituições europeias, que esta política de austeridade, tal como está desenhada, é inimiga do crescimento, e que apenas se destina a gerar poupanças, de forma acelerada e segura, para pagar a colossal dívida dos bancos comerciais portugueses aos seus congéneres alemães e espanhóis, através de uma oculta triangulação que tem o seu vértice no BCE. Por isso, ele começa a dizer que não pode prometer tudo a todos, o que é verdade, sendo também verdade que já prometeu tudo a alguns - aos grandes acionistas dos bancos e dos grandes grupos económicos, que, mais uma vez, vão beneficiar das maravilhas desta alternância democrática. E foi porque ele sabe tudo isto, e sabe-o muito bem, que o seleto grupo de Bilderberg o aprovou no exame de admissão para primeiro-ministro de Portugal, tendo por padrinho, Pinto de Balsemão, e como compagnon de route, o inefável Paulo Portas. Todos bons rapazes!

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Notas do meu rodapé: As "errâncias" de Vasco Pulido Valente sobre os efeitos da Greve Geral


A greve geral

Escrevo quinta-feira, 27, no próprio dia da greve, esta coluna que só vai ser lida amanhã. De qualquer maneira, arrisco uma previsão: mesmo correndo o melhor possível para a CGTP e a UGT, a greve não irá mudar nada: nem a permanência ou as políticas do Governo, nem a atmosfera da vida pública portuguesa, excepto se provocar uma explosão de violência em Portugal inteiro (caso pouco provável, pelo menos para a polícia). Por que razão, ou razões, não acredito na eficácia deste protesto, teoricamente ameaçador e forte? Em primeiro lugar, porque nenhuma greve geral na velha Europa como na Europa de Bruxelas jamais conseguiu mudar fosse o que fosse, até no tempo em que a militância ideológica e partidária era muito mais corrosiva e extensa. De resto, Passos Coelho já suportou três greves gerais, com incómodo, com certeza, mas tranquilamente.
Vasco Pulido Valente

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Vasco Pulido Valente (VPV) gosta de dizer coisas. Costuma alinhar pelo nonsense, aquele conjunto de ideias feitas por uma opinião pública pouco esclarecida, que se fica pelo trivial, sem conseguir interpretar racionalmente o fundamental. Com este recurso, VPV julga-se original nas suas análises políticas. Começou a ser assim, quando percebeu, logo a seguir ao 25 de Abril, que as massas populares que enchiam as praças e as ruas, nos comícios e nas manifestações, não o reconheciam como o autor de textos revolucionários que escrevera na fase final da ditadura fascista. Tornou-se no comentarista mais azedo dos tempos do PREC. E essa marca pessoal nunca mais a abandonou.
Este seu texto sobre a inutilidade das greves e das manifestações de protesto (os seus efeitos, logo no dia seguinte) é mais um exemplo do seu primarismo discursivo, que pretende ser arrasador.
Nunca as greves e as manifestações tiveram efeitos no curto-prazo, a não ser aqueles efeitos de contágio, quando os seus objetivos são justos e compreendidos e sentidos pelas pessoas. Aquele adágio “água mole em pedra dura tanto dá até que fura” aplica-se perfeitamente aos efeitos de longo prazo das greves e das manifestações. Tal como um rio, da sua nascente até à foz, também as manifestações populares, principalmente em tempos de crise, vão engrossando no seu percurso temporal, devido aos afluentes que vai recebendo, e as suas águas revoltas vão deixando atrás de si um relevo desgastado pela erosão.
Uma manifestação de protesto isolada, só por si, não resolverá nem modificará nada. O mesmo não se passa com um ciclo de manifestações contínuas, devidamente planeadas por uma organização centralizada, que as programe e as submeta a uma estratégia bem definida, num quadro de agravamento crescente das condições sociais e económicas das populações afetadas.
Por outro lado, é necessário considerar que o sucesso imediato destes eventos, medido em termos de participação popular, depende do sucesso alcançado pelos eventos anteriores. Por isso, a persistência militante das vanguardas é tão importante, no seu esforço de ir capitalizando os resultados, progressivamente alcançados.
 A Greve Geral de 27 de Junho foi um êxito, porque todas as manifestações anteriores, organizadas pela CGTP – Intersindical Nacional obedeceram a estes princípios basilares. Não há milagres na luta dos povos e dos trabalhadores. É preciso muito trabalho de organização e de mobilização, sendo muito desse trabalho invisível para a maioria e, pelos vistos, também para VPV.
Perante a atual crise governativa, desencadeada pelo pedido de demissão do ministro das Finanças, Vítor Gaspar, os comentadores encartados, às dezenas, apenas se detiveram na análise da narrativa dos agentes políticos mediáticos e das suas tricas, esquecendo-se de incluir o seu aspeto mais importante e decisivo, e que constitui a sua causa remota e fundamental: a perda progressiva e irreversível da base social de apoio do governo, que a Greve Geral e as manifestações anteriores desgastaram lentamente. E Vítor Gaspar, Passos Coelho e Paulo Portas perceberam isso. E até perceberam mais, que VPV e muitos outros comentadores não perceberam. Perceberam que, por cada manifestante ou por cada grevista, existem mais de mil que não puderam, por várias razões, participar.

O rio do descontentamento já vai caudaloso e ameaça galgar as margens, embora ninguém possa dizer quanto tempo falta para ele chegar à foz.