Transcrevo aqui um comentário que deixei no excelente blogue Ladrões de Bicicletas, a propósito de um texto em que se defendia uma solução federalista para a Europa:
"Concordo com os pressupostos e com a análise do autor. No entanto, julgo que a solução não poderá ser encontrada no aprofundamento do federalismo europeu, que é um mero artifício intelectual e uma autêntica falácia. Pretender federar a Europa é a mesma coisa que tentar promover a integração plena, nas sociedades ocidentais, dos cidadãos da etnia cigana, levando-os a aceitar a trabalhar por conta de outrém, que não seja do seu grupo familiar. E este desiderato, cujos benefícios adivinhados preenchem os critérios da racionalidade económica, nunca irá ser alcançado. Para além dos obstáculos de ordem económica e financeira, que são enormes e complexos, a razão terá de ser encontrada no lastro da História e da Cultura, de origem remota e arreigadamente entranhada, e que mergulha na escuridão da época tribal.
As fronteiras políticas da Europa nunca resistiram por muito tempo ao ímpeto das manifestações idiossincráticas dos seus diferentes povos, que, devido à amenidade do clima e à relativa fertilidade dos solos, se diversificaram e desenvolveram pelo território, construindo cada um deles identidades próprias, embora, a ligá-los, existissem várias afinidades e denominadores comuns. Somos descendentes diretos daqueles povos bárbaros do centro e do leste da Europa, que tiveram o seu momento de glória, no século V, com a capitulação de Roma e a consequente destruição de todo o império. Bárbaros como eram, destruiram tudo aquilo a que não sabiam dar uso, e começaram, a partir daí, a dar forma e conteúdo ao mosaico colorido dos futuros estados europeus. Nem os césares, nem os papas, nem Carlos Magno, nem Napoleão nem Hitler conseguiram atar o nó que o ímpeto dos nacionalismos (os sucedâneos do tribalismo primitivo) sempre conseguiu desatar.
E os próximos tempos, que serão dramáticos, tal como o foram os das duas guerras mundiais do século passado, irão mostrar, com toda a evidência, que a Europa não passa, na realidade, de um conjunto civilizado de povos bárbaros. Entre eles, a mortífera guerra financeira já começou. Só não sabemos como vai acabar.
Para já, um aspeto alarmante ganha evidência significativa e que, ao mesmo tempo, é chocante: o da ausência de qualquer manifestação de solidariedade efetiva dos cidadãos europeus para com o povo da Grécia, situação que, amanhã, se repetirá para com os povos português, espanhol e italiano".
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Acrescentei um segundo comentário, com uma citação:
"Em defesa da minha tese, que explicitei em comentário enviado anteriormente, deixo aqui a opinião do intelectual francês, Emmanuel Todd:
"En mi libro La invención de Europa, yo preconizaba ya en 1990, que quince o veinte años más tarde, Europa sería una jungla. Mi investigación antropológica me había convencido que la diversidad de sistemas familiares, de temperamentos políticos y sociales [europeos] haría que la moneda única [es decir el euro] fuese por decir, algo casi imposible [de administrar]".
http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2012/05/um-europeismo-realista.html
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