José Sócrates e Pedro Passos Coelho sublinharam hoje a intenção de “trabalhar em conjunto” para tentar debelar a crise económica e financeira, antecipando medidas do PEC. O primeiro-ministro e o líder do PSD prometeram cooperação e diálogo regular.
... O executivo vai ainda propor alterações ao subsídio de desemprego de modo a “garantir que ninguém tem vantagem em ficar no subsídio de desemprego apenas por ser uma situação mais vantajosa do que estar a trabalhar”.
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A ministra do Trabalho, Helena André, propôs hoje aos parceiros sociais uma redução substancial do valor do subsídio de desemprego, sugerindo que, em nenhum caso, o subsídio mensal possa ser superior a 75% do valor líquido da remuneração de referência.
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Estamos na presença do maior ataque ao mundo do trabalho, desta vez dirigido aos desempregados, que, além de já sentirem na pele as agruras do desemprego crónico, estão a ser humilhados e vilipendiados pelo governo socialista de José Sócrates e pelo grande patronato.
As medidas de redução do valor do subsídio de desemprego já estavam programadas na agenda do governo, que, por prudência, escolheu a estratégia de as anunciar faseadamente, a fim de evitar o avolumar da contestação social. Faltava encontrar uma encenação apropriada para que o golpe não levantasse sobressaltos. Pedro Passos Coelho prestou-se a esse jogo, renunciando a tudo aquilo que dissera aos militantes do PSD. Afinal é ele que «anda com o governo ao colo». Anteriormente, já o grande patronato, o mais desqualificado da Europa (voltaremos a este tema, proximamente), fez soar as trombetas, escandalizando-se pelo facto de, reiteradamente, terem respostas negativas, por parte dos desempregados, às suas generosas ofertas de emprego, ocultando, contudo, o seu oportunismo em procurar tirar dividendos da crise, oferecendo salários baixos e promovendo a desejada precariedade.
Por sua vez, a ministra do Trabalho, uma ignorante em temas de economia, veio dizer com o ar mais cândido do mundo, que as medidas anunciadas para reduzir as prestações do desemprego, não tinham o objectivo de gerar poupança e reduzir a despesa, mas o de aumentar a produção. Uma declaração descabida, quando se sabe que o problema da economia portuguesa não é a falta de produção, mas o da sua colocação nos mercados. De uma antiga sindicalista da UGT, a central sindical do patronato, não se podia esperar outra coisa, assim como do actual líder daquela organização que não sabe como é que vai dar a volta ao discurso, para aprovar a escandalosa medida do governo, uma medida extremamente selectiva, que não vem prejudicar os desempregados que usufruíam salários mais elevados, ou seja, aqueles cujo subsídio de desemprego é do valor de três salários mínimos. Para os desempregados que usufruíam salários acima dos 1.700 euros, os três salários mínimos representam uma percentagem inferior a 75 por cento daqueles salários, não sendo por isso afectados. E a maior parte dos actuais desempregados usufruíam salários inferiores a 1.700 euros mensais.
Se, em relação aos rendimentos de capital, o governo, recentemente, excluiu da cobrança de mais-valias as SGPS, as grandes instituições onde, sob a forma de participações, se alojam as grandes fortunas (biliões de euros) e os lucros do grande patronato e dos gestores de topo, em relação ao mundo do trabalho, o governo pretende penalizar os trabalhadores desempregados de menores rendimentos.
É esta a imagem de socialismo moderno, democrático e progressista, defendido por Sócrates e pelos seus acólitos, que, pelos vistos, Passos Coelho, o chefe de turno da oposição, não enjeita.