Como Kemal
Ataturk aboliu o uso da burka na Turquia moderna
Kemal Atatürk, o pai da Turquia moderna, que,
sobre os escombros da califado do império otomano, na sequência da I Guerra
Mundial, construiu um Estado Republicano secular e ocidentalizou culturalmente
aquele país, conseguiu sem qualquer esforço abolir o uso da burka, que estava
muito enraizado. Lembrou-se da lenda sobre a origem da adoção daquela
indumentária pelas mulheres muçulmanas. Na Idade Média, no noroeste da India,
os imãs de uma obscura tribo muçulmana, fazendo a sua interpretação pessoal do
Alcorão, decretaram uma sharia, que
obrigava todas as mulheres, solteiras, casadas e viúvas, a irem prostituir-se,
num determinado dia do calendário islâmico, num bosque dos arredores da cidade
principal. Para não serem reconhecidas posteriormente pelos homens a quem se
entregavam, por obrigação, as mulheres começaram a usar nesse dia um lenço
enorme que lhes tapava o rosto, tendo esse lenço evoluído progressivamente para
o formato da atual burka.
Atatürk, um estadista genial, sabia que, se
proibisse o uso da burka, iria enfrentar uma grande resistência por parte dos
fundamentalistas islâmicos e do respetivo clero, assim como a da população mais
conservadora e tradicionalista, principalmente na Anatólia.
Neste contexto complexo, em que os equilíbrios
políticos são sempre difíceis, Atatürk resolveu publicar um decreto, que
obrigava as prostitutas a usarem burka. Remédio santo. No dia em que o decreto
entrou em vigor, nenhuma mulher se atreveu a sair à rua, trajando a burka.
Nota: Uma outra versão sobre
o local de origem do uso burka, e que me foi comunicada por uma amiga, situava
aquele local numa zona, algures entre Síria e o Iraque, precisamente onde hoje
está instalado o fanático Estado Islâmico. Local de origem à parte, o que é
certo é que Ataturk fez um golpe de génio, matando à nascença qualquer oposição
e resistência dos muçulmanos islâmicos, que não lhe perdoavam a institucionalização
de uma República secular e a da laicidade na educação, assim como a difusão da
cultura europeia, a fim de promover a ocidentalização dos costumes e da
sociedade.
Ataturk granjeou um enorme prestígio junto do
seu povo, ao mesmo tempo deixou para a posteridade uma grande aura de heroísmo
e, no ocidente, era muito respeitado e admirado. A Turquia de hoje deve muito a
este político e militar, que conseguiu obter a independência da sua Pátria,
tendo para isso sido obrigado a liderar grandes combates contra o exército
britânico, pois à Inglaterra tinha sido concedido, através da Sociedade das
Nações e do Tratado de Versalhes, o mandato da maior parte dos territórios do
desmembrado Império Otomano, que deu muitas dores de cabeça à Europa, durante
os seus quase quatro séculos da sua existência.
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