Importações
surpreendem Banco de Portugal e forçam revisão em baixa do PIB
O consumo privado e o investimento até foram
mais fortes do que o previsto e as exportações ficaram dentro das expectativas,
mas uma aceleração mais rápida das importações do que aquilo que o Banco de
Portugal esperava em Junho forçou a uma revisão em baixa da sua estimativa de
crescimento em 2014, de 1,1% para 0,9%.
A nova previsão fica ligeiramente abaixo dos 1%
estimados pelo Governo e pelo Fundo Monetário Internacional.
No Boletim Económico de Outubro publicado nesta
quarta-feira, o Banco de Portugal passou, face ao que tinha feito em Junho, a
estimar uma recuperação do consumo e do investimento mais rápida durante este
ano. O consumo privado irá aumentar 1,9%, diz o banco central, contra os 1,4%
projectados antes. No investimento, aponta-se agora para um crescimento de 1,6%
(o primeiro desde o início da crise), em vez de 0,8%.
Ao nível das exportações, que foram afectadas
pela interrupção registada na produção de combustíveis na Galp no início do
ano, o Banco de Portugal manteve quase inalterada a sua estimativa para 2014.
Em Junho, previa um crescimento de 3,8% (face a 6,4% do ano anterior) e agora
passou para 3,7%.
Nas importações, pelo contrário, houve
surpresas. Em Junho, apontava-se para uma variação de 4,6%, mas agora o banco
diz que vão crescer 6,4%. O aumento maior do consumo e do investimento foi um
dos factores para esta surpresa, mas a revisão em alta das importações foi mais
acentuada, o que provoca um crescimento do PIB mais baixo.
Feitas as contas, o contributo da procura
interna para o crescimento será de 1,9 pontos percentuais, contra um contributo
negativo da procura externa líquida (exportações menos importações) de um ponto
percentual negativo. Em Junho, esperava-se um contributo da procura interna de
1,4 pontos e um contributo da procura externa líquida de -0,3 pontos
percentuais.
Para garantir um crescimento mais forte e
sustentado no futuro, o Banco de Portugal repete no relatório publicado nesta
quarta-feira a sua receita: reduzir o endividamento externo através da
desalavancagem dos sectores público e privado, manter a estabilidade do sistema
bancário, garantir a sustentabilidade das finanças públicas, cumprindo todas as
metas europeias para o défice e a dívida pública, e a realização de reformas
estruturais.
***«***
Com uma moeda desajustada à produtividade da
economia, como é o caso da economia portuguesa, as importações constituirão
sempre um travão ao crescimento económico, ao anularem qualquer contributo
positivo do lado do investimento e das exportações. E se o consumo interno
subiu ligeiramente, ele ocorreu através dos bens importados, consumidos
principalmente pelas empresas e pelas classes sociais de maiores rendimentos
(por exemplo. os automóveis de gama alta).
Se o euro foi o responsável pelo nosso
endividamento excessivo (endividamento induzido pelos grandes bancos europeus),
e, por conseguinte, uma das causas desta gravíssima crise, ele, agora, também
se constitui no principal obstáculo para a sua resolução.
Na atual situação, ou seja, a continuarmos
presos ao euro, nunca a economia portuguesa conseguirá um crescimento
suficiente para pagar a dívida externa, que continua a crescer, ao contrário
dos objetivos acordados com a troika, que previam a sua descida.
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