Pintura de Salvador Dali |
Eu
tive a ideia de ficar acordada_
Eu
tive a ideia de ficar acordada
enquanto
a maior parte dos outros dormiam.
Eu
tive a ideia de abrir uma janela
enquanto
os jornais esvoaçavam do parapeito das árvores.
Vimos
ilhas, montanhas, cenáculos,
rasgados
pelos ventos do abismo .
Como
biliões de pessoas no mar da unidade
ficámos
em múltiplos naufrágios.
Ouvimos
os passos de Atenas
de
um lado para o outro.
Estamos
quase a trinta de junho e são ainda três horas
repletas
de silêncio nos candelabros enterrados nas ruas.
Pensamos
nos livros escritos em dois mil e quinze
com
suicídios, desemprego, pobreza,
e
misérias .
Pensamos
na grande biblioteca de Alexandria
com
milhares de rolos que estão ainda a ser destruídos.
Como
eu desejaria cantar com a precisão de Euclides
e
escrever sobre a poesia de Calímaco!
Nasceriam
de nós biliões de seres e árvores por impulso.
Nós
vivemos à beira de precipícios com frutos de néon e bombas de mentiras.
Enviaram-nos
via nuvens
pátrias,
pedras,
musgos,
águas,
povos
esmagados,
tempestades,
montanhas
planetárias de nova geração.
Como
olharenos agora a Última Ceia?
Como
escrever a caligrafia derramada em laboratórios de sangue?
Nós
tivemos uma ideia do que poderia ser feito esta madrugada:
A
Novíssima Biblioteca de Alexandria
© maria azenha
***«»***
Como se um enorme precipício, um devorador
buraco negro, se abrisse à frente dos nossos pés, arrastando em cascata
multidões inteiras, aos gritos (ouvindo-se os hinos da celebração da morte) e
envolvidas nas nuvens de cinza dos rolos da Biblioteca de Alexandria. E isto
tudo, porque o Partenon vai ser destruído, pedra a pedra, em trinta de Junho,
por decreto divino de Zeus.
A
"poeta" maria azenha colabora regularmente no Alpendre da Lua.
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