Eu compreendo que seja difícil negociar com
políticos empedernidos, metidos nas baias da doutrina que privilegia os lucros
dos mercados em detrimento das necessidades das pessoas e que capturaram a
democracia no interesse das multinacionais e do capital financeiro. Mas
custa-me aceitar a capitulação do primeiro-ministro grego, perante a grosseira
chantagem dos dirigentes europeus, que outra coisa não querem senão a de
provocar a sua queda e a do seu governo, o que seria uma severa punição e, ao
mesmo tempo, um sério aviso preventivo para outras potenciais rebeliões de
outros países.
Não compreendo que - depois de cinco meses de
difíceis negociações, em que Tsipras e Vraroufakis conseguiram ganhar a opinião
pública europeia para o seu lado, com o forte argumento da caótica situação
humanitária da Grécia e o da inutilidade das políticas de austeridade, ao mesmo
tempo que conseguiram desmontar a pérfida argumentação dos dirigentes europeus,
baseada em falsidades e na distorção da realidade - à última hora o
primeiro-ministro grego tenha desistido de desafiar a arrogância dos credores
institucionais. É certo que Tsipras e Varoufakis obtiveram concessões
importantes, mas, por motivos que ainda não se percebem, cederam em medidas que
vão aumentar a austeridade. E estancar e diminuir a austeridade foi a grande
bandeira política que levou o Syriza ao poder. Não admira que o
descontentamento em relação a este acordo venha de dentro do grupo parlamentar
do próprio Syrisa. Foi trabalho perdido e um tempo gasto inutilmente, o
que pode vir a ter repercussões graves no estado de espírito do povo grego,
condenado a ter de pagar para ficar mais pobre e começar a ter de deixar de
acreditar na sua redenção.
***«»***
[Nota]:
A velocidade dos acontecimentos, relativos à Grécia, retirou alguma
oportunidade e atualidade a este texto, escrito e publicado no Alpendre da Lua,
ontem à noite.
2 comentários:
Pois parece que tudo recuou...já não há acordo novamente...até ver...
Mas também não entendo como a Grécia vai tirar este pedregulho do sapato. É que os prepotentes, os que nos arruínam não perdoam...
Ana: Não perdoam nem se comovem. E, neste momento, perante a ousadia de um partido que não pertence ao sistema, os dirigentes da UE vão fazer tudo para o fazerem cair.
Começa-se a desenhar um quadro preocupante que pode, tal como aconteceu em 1914 e em 1939, conduzir a um conflito militar ou à instalação de ditaduras militares.Alguma coisa tem de acontecer, ou para um lado ou para o outro.
Obrigado pela sua visita.
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