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domingo, 7 de junho de 2015

Poema de Maria Azenha, em homenagem a Maya Plisetskaya _

Imagem selecionada pela autora



Maya Plisetskaya - Bolero (choreography by Maurice Béjart)


E sabia os nomes que nasciam através dos cisnes
( a Maya Plisetskaya)

através de um lírio esguio quase nada se ouve
só a dança
só a sombra. meia lua . fogo de luz. arte por excelência
ao encontro do mais límpido cisne .
poema grávido de futuro
antes do espaço
antes do tempo
o que sai do gesto não é esperança
é geometria entre corpo e ar
Deus naquilo que se mostra e está sendo
cujo nome desconheço
a liberdade é um segredo sob um fio escuro
não sol
não sal
não cabeça
antes imensidão do lume
alegria extrema que está no mundo!
ela flutua em milhares de cílios
abelha – centro numa colmeia de versos em movimento
batendo as asas uns nos outros
flor da vida em milhares de ruas
não é silêncio. apenas júbilo: geometria pura
oh excelso encontro no domínio da luz das fissuras
relâmpagos lentos
fogo fundo
ó mãe -sangue em círculos de lúmen
rainha que fala sem falar língua nenhuma!
de ti regressa a espuma
o mar
a nuvem
a deusa – lua
a caixa branca onde existimos
o poema que nos respira
a descoberta de nós mesmos
a corda de onde saímos
os algarismos mínimos e os extremos
extraídos de um poço que a infância trouxe
a grande dança entre corpo e lume
rainha do ar te chamam
e eu digo: teu coração jorra de estrelas
teus movimentos Nascem de martelos levíssimos
no poema danças em círculos de ar e plumas
sem que as lágrimas te alcancem.

 © maria azenha



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Comentário: Maria Azenha ultrapassou os limites do poema. Trouxe-nos nas palavras os desenhos geométricos do corpo da grande bailarina, Maya Plisetskaya, na sua magistral interpretação do Bolero de Ravel. No poema, as palavras elevam-se aos céus e também dançam oniricamente, assim como Maya Plisetskaya escreve poemas com a vibração ritmada do seu corpo, parecendo um “lírio esguio” ou um “límpido cisne”.
Neste poema, “em círculos de ar e plumas”, a “poeta” e a bailarina ligaram-se uma à outra pelo traço de união da genialidade, ao alcançarem o patamar do Belo e do Sublime.
O poema foi uma resposta ousada” à minha proposta.
Obrigado, Maria Azenha.
AC

A "poeta" maria azenha colabora regularmente no Alpendre da Lua.

1 comentário:

maria disse...

Se não fosse a " provocação " era a não - palavra.

Vale a pena estar viva para pronunciar a palavra "Obrigada".

Obrigada, "Poeta" Alexandre de Castro.

maria azenha