O economista João Rodrigues, num artigo no
blogue Ladrões de Bicicletas, escreveu o seguinte: "Vamos assumir que a prazo
não há nada como “o gradual entranhamento das ideias”, de que falava Keynes. Só
espero que isto não seja no longo prazo, porque aí estamos mesmo mais do que
derrotados"...
Eu julgo que a "guerra" começa a ficar
perdida, já que os agentes do capitalismo financeiro
internacional, sediados nos bancos, conseguiram desenvolver uma estratégia de
ocultação das suas próprias culpas na ocorrência da crise iniciada em 2008, o
que foi fácil, pois os aparelhos políticos dos países ocidentais (os partidos
conservadores e os partidos da social democracia) já se encontravam devidamente
domesticados para lhes dar a respectiva sequência, através da aplicação das
políticas de austeridade sobre as classes médias e as classes trabalhadoras
(resguardando, da sua incidência, os rendimentos do capital).
Apanhados ideologicamente desprevenidos, os
cidadãos que mais penalizados foram por essas políticas austeritárias não
tiveram tempo de perceber o que estava em causa. E a principal causa reside na
financeirização acelerada e extrema da economia real, nos últimos trinta anos,
possibilitada pela globalização desenfreada e pela deslocalização dos meios de
produção para os países de mão de obra barata, processo este que permitiu
aumentar a liquidez dos grandes bancos e dar início, em grande escala, e por
uma questão de rentabilidade, ao engenhoso esquema da especulação financeira e
imobiliária e à sibilina imposição da dívida aos Estados e às famílias. É
necessário que o cidadão comum perceba que os bancos necessitam de uma economia
assente na dívida para sobreviver e aumentar os seus lucros e mais-valias.
Conquistado este patamar, o seu poder sobre a política dos Estados e sobre os
comportamentos dos cidadãos tende a consolidar-se. É o que está a acontecer.
Para Portugal e para os outros países do sul da
Europa, um outro problema se agiganta: a moeda única, que foi a grande ratoeira
armada pelo capitalismo europeu e pela sua maior potência, a Alemanha, aos
países menos desenvolvidos. Poucos perceberam que, para os países europeus menos desenvolvidos, a perda do poder cambial e
monetário e, posteriormente, do poder orçamental seria um perfeito suicídio, que deixava cada Estado manietado, para poder
gerir, de forma independente, o seu próprio quadro macroeconómico. E até, a este nível, o capitalismo
financeiro encontrou fiéis aliados na classe média, pois, todos aqueles
cidadãos, mesmo os de esquerda, que possuem depósitos bancários acima de
cinquenta mil euros, rejeitam a hipótese da saída do euro, que é uma condição
estruturante para poder ultrapassar a crise do país.
A outra condição (e ninguém fala nisto), é a
nacionalização dos bancos, o verdadeiro instrumento de poder do capitalismo
financeiro. Na perspectiva de uma economia orientada para o bem comum, nenhum
argumento invalida a evidência das vantagens de ser o Estado a gerir a actividade do crédito
às empresas e às famílias.
Mas estes dois desideratos (a saída do euro e a
nacionalização da banca) não poderão ser conseguidos no actual modelo político
de ditaduras democráticas (ou de democracias travestidas). Só um amplo e
generalizado processo revolucionário, que mude o paradigma, tal como a burguesa
Revolução Francesa mudou o paradigma feudal, conseguirá restituir aos povos a
liberdade e a equidade, bem como o desenvolvimento de economias saudáveis,
baseadas na produção de bens e de serviços, que visem satisfazer as necessidades
das populações, e não na actividade especulativa do dinheiro, que apenas favorece as grandes fortunas.
***«»***
Em 18 de Janeiro de 2017, repesquei este
texto, publicando-o no Facebook, com a seguinte nota introdutória:
“Repesco este texto, de Fevereiro de
2014, que me parece ter toda a actualidade, embora, aparentemente, a maioria da
multidão silenciosa pense que já estamos a começar a andar num mar de rosas.
Nenhum problema estrutural da crise europeia foi resolvido, e se a pressão de
Bruxelas e de Berlim abrandou (reparem que se calaram todos) é porque os
dirigentes políticos europeus estão em pânico, devido à incerteza dos
resultados das eleições, que irão ocorrer este ano, e que poderão constituir o
rastilho de uma qualquer mudança radical”.
1 comentário:
Plenamente de acordo caro amigo!
Enviar um comentário