Fernando Tordo, aos 65 anos e com uma pensão de
duzentos e poucos euros, abandonou Portugal e foi fixar-se no Recife, em terras
brasileiras. O filho, o escritor João Tordo, deu a conhecer uma carta sobre a
partida do seu pai. É um texto de contido protesto, da qual nem sequer ressuma
ódio contra aqueles que, publicamente, servindo-se - segundo parece - do
Facebook do cantor, o mandaram ir para Cuba ou para a Coreia do Norte, ou
limpar retretes. O escritor João Tordo admirou-se com o ódio de algumas
opiniões. Eu não. O serviço a uma crença - e sobretudo a fidelidade a crenças
políticas - suscita as mais entranhadas resistências, sobretudo por parte
daqueles que se sentem ameaçados, nas suas prerrogativas, privilégios ou
património, pelas ideologias opostas. Ora, Fernando Tordo serviu Abril,
batendo-se na barricada onde também estiveram Ary dos Santos, José Afonso, Luís
Cilia, Manuel Alegre e tantos mais. Quem não gostou ou gosta de Abril não lhe
perdoou ou perdoa este seu querer. Depois, há que ver que a crise económica
está a transformar Portugal num covil de lacraus. O português sempre foi
caracterialmente invejoso. E agora é-o mais do que nunca. Com a destruição
progressiva da classe média e com o alastramento da miséria, sobem de tom as
increpações, as interpelações, os brados odientos dos que acham - por que há
quem ache !!! - que se este ou aquele se estão a afundar, então é "direito
democrático" a exigência de que se afundem todos. Ou de que se afundem
pelo menos os que tiverem opiniões diferentes.
Numa palavra : Estou a caminhar para velho. Já
nada me surpreende. Boa sorte para o Fernando Tordo.
Amadeu Homem
Professor Catedrático de História da Universidade de Coimbra
2 comentários:
O Atlântico
não separa
Mas afoga-nos em saudade...
Enviar um comentário