A lapidação do Silêncio
arte digital | maria azenha, 2013
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TRÊS POEMAS DE MARIA
AZENHA
I.
a
cidade é uma estranha
senta-se
numa pedra branca
com
uma flor de neve vermelha na boca
há
árvores e relâmpagos que tombam
um
cavalo branco que dilacera a névoa
do
poema
e
cosem-nos a boca com fios de seda
na
mão fechada de Deus
II.
A
noite em visita_
(poemas
destes da solidão da noite
chamam
incessantemente por todos)
ela
de cabelos brancos
de
corpo insurrecto
sentada
na cama do quarto
não
tem ninguém a seu lado
chama
/ chama
clama
e volta a chamar /
o
som do mar bate na voz das paredes
em
seus delírios e clarões assustados
é
nossa senhora da água que os guia
em
tropelias verbais
e
escreve no ar com a ponta dos
dedos
num teatro desesperado de amor
num teatro desesperado de amor
contra
dunas /sebes / janelas / vogais
o
grande livro negro das nuvens
lá
dentro o marido vocifera bêbado
com
a lua na cabeça / e a mão
na
eternidade
ela
com algodão nos ouvidos
procura
um fio invisível
a
boca cheia de silêncios e comprimidos
III.
O
súbdito país
O
súbdito país existe em uma longa
oscilação
entre o branco e o negro
entre o branco e o negro
agora
a meio do dia junto-me a ti
sob
o a-pique do sol
em
bagos rubros de suplício e voz
coloco
no fim destes versos uma
lâmina
azul
um
relâmpago verde no quadrado de
Malevitch
as
coisas mais simples dizem-se em
conjunto
Nota: Cada poema de Maria Azenha é uma explosão
metafórica, de uma grandeza e beleza incomensuráveis. As palavras dançam nas
mãos da "poeta", que as desloca para os abismos da vertigem, onde
elas mergulham num emaranhado de significados e significações, que maravilham o
leitor mais insensível à poesia. Em Maria Azenha, o poema transcende-se a si
próprio.
A "poeta" maria azenha colabora regularmente no Alpendre da Lua.
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