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quinta-feira, 24 de outubro de 2013

TRÊS POEMAS DE MARIA AZENHA

A lapidação do Silêncio
arte digital | maria azenha, 2013

TRÊS POEMAS DE MARIA AZENHA

I.

a cidade é uma estranha
senta-se numa pedra branca
com uma flor de neve vermelha na boca

há árvores e relâmpagos que tombam
um cavalo branco que dilacera a névoa
do poema

e cosem-nos a boca com fios de seda
na mão fechada de Deus

II.

A noite em visita_
(poemas destes da solidão da noite
chamam incessantemente por todos)

ela de cabelos brancos
de corpo insurrecto
sentada na cama do quarto
não tem ninguém a seu lado
chama / chama
clama e volta a chamar /
o som do mar bate na voz das paredes
em seus delírios e clarões assustados

é nossa senhora da água que os guia
em tropelias verbais
e escreve no ar com a ponta dos
dedos
num teatro desesperado de amor
contra dunas /sebes / janelas / vogais
o grande livro negro das nuvens

lá dentro o marido vocifera bêbado
com a lua na cabeça / e a mão
na eternidade

ela com algodão nos ouvidos
procura um fio invisível
a boca cheia de silêncios e comprimidos

III.

O súbdito país

O súbdito país existe em uma longa
oscilação
entre o branco e o negro

agora a meio do dia junto-me a ti
sob o a-pique do sol
em bagos rubros de suplício e voz

coloco no fim destes versos uma
lâmina azul
um relâmpago verde no quadrado de
Malevitch

as coisas mais simples dizem-se em
conjunto


Nota: Cada poema de Maria Azenha é uma explosão metafórica, de uma grandeza e beleza incomensuráveis. As palavras dançam nas mãos da "poeta", que as desloca para os abismos da vertigem, onde elas mergulham num emaranhado de significados e significações, que maravilham o leitor mais insensível à poesia. Em Maria Azenha, o poema transcende-se a si próprio.
A "poeta" maria azenha colabora regularmente no Alpendre da Lua.

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