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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Anotação do Tempo: Tanto tempo para chegar ao fim do tempo!...


Tanto tempo para chegar ao fim do tempo!...

Tantas sementes lançadas ao vento
nesse mundo novo que se fez Império!...
Tanto mar salgado, rasgado e navegado
e tanta terra gentia descoberta!...
Tanto ferro para tanta cruz,
tantos braços para todas as alfaias e espadas!...
Tanta pedra para os padrões,
erguidos em recônditas praias!...
Tantas igrejas e fortalezas
tantas opulentas grandezas
tantas alegrias coloridas a entronizarem o Destino
e tantas tristezas cinzentas a golpearem o tempo!...
Tanto tempo para ver a árvore nascer
para depois, sem lucro, sem glória e sem poder,
a ver morrer!...
Tanto tempo para as joias e os dedos perder!...
Tanto tempo!...
Tanto tempo para chegar ao fim do tempo!...

Alexandre de Castro
Lisboa, Dezembro de 2012
+++
Nota do autor: À primeira vista, este poema poderá vir a correr o risco de ser interpretado como uma narrativa saudosista de pendor colonialista, que exprimisse a nostalgia do império. Não! Não é!
No passado, fui um militante anticolonialista, que enfrentou perigos, e hoje sou um militante que assume uma frontal oposição contra um colonialismo de novo tipo, que não necessita de assegurar militar e administrativamente a ocupação territorial dos países, sobre os quais um novo tipo de fascismo - o fascismo financeiro internacional – está a querer exercer o seu domínio, de forma cruel e humilhante. Portugal é um desses países que está a ser vítima da nova barbárie, a dos grandes e farisaicos agiotas - os internacionais e os indígenas - e a dos seus serventuários políticos, que agem sob as suas ordens.
Este poema (pobre na métrica e falido na estrutura e no tema) pretende apenas colocar uma questão de primordial importância, através de uma pergunta muito incómoda: Teria valido a pena construir este país com oito séculos de História, com todas as suas grandezas e todas as suas misérias, e que, agora, está à beira de um descomunal abismo, onde irá suicidáriamente precipitar-se, por culpa da incúria, da incompetência, do nepotismo, da criminosa conivência com interesses contrários ao bem público das elites políticas, económicas, financeiras e culturais? Deixo a pergunta e o poema à reflexão dos leitores.