O que é
ser europeu?
A propósito da minha publicação sobre o
inquérito do Eurobarómetro, em que se pretendia medir o grau de aceitação,
pelos cidadãos, dos conceitos da integração política, económica e financeira [a
integração militar já vem a caminho], da Europa, uma amiga, a Helena Viegas
interpelou-me, muito justamente, com a pergunta: O que é ser europeu?
Respondi assim:
Historicamente, a Europa sempre foi um
continente de povos e nações. Ao longo dos séculos, nem sequer se criou uma
língua comum. Cada povo europeu tem a sua língua e a sua própria identidade. O
insucesso e o fracasso foram os resultados obtidos por Napoleão e por Hitler,
quando pretenderam unificar a Europa, pela força. É impossível unificar a
Europa.
Por outro lado, eu não sei em concreto o que é
ser europeu, para além do conceito geográfico e dos efeitos de proximidade no processo
histórico.
Ser europeu será ter sonhos eróticos com a
senhora Merkel? É ter vontade de contratar, a recibos verdes, o presidente
francês, François Holland, para uma parelha de palhaços de circo?
Eu não sei, querida amiga, o que é ser europeu.
Francamente, não sei. Apenas sei que sou português, por nascimento e por
cultura, cultura que não renego, e que a UE é uma grande burla, tão maligna
como a burla das religiões, a cargo de eclesiásticos sem escrúpulos, incluindo
os Papas.
***
E assim
vai a grandeza da Pátria
Também sei que o nosso futuro não é a Europa
política e económica, que está a ser construída, e que de ideia falhada passou
à condição de facto histórico falhado, isto na persctiva que deveria ser a dos
países pobres europeus, porque na visão dos seus pioneiros (Plano Shuman) havia
a intenção de formar um mercado único europeu, iniciado por um mercado único
europeu do carvão e do aço, ocultamente protegido da livre concorrência das
economias dos EUA e da Grã-Bretanha, e que servisse de âncora às economias da
França e da Alemanha, e, subsidiariamente, às economias da Bélgica, do
Luxemburgo, da Holanda e da Itália, a que se seguiu a constituição da
Comunidade Económica Europeia, que começou a integrar os restantes países
europeus, menos desenvolvidos.
O objectivo foi sempre a economia. Para
dinamizarem as compras às indústrias pesadas dos países ricos, foi necessário avançar
com os fundos europeus, para os quais todos os países membros contribuíam e
todos os países recebiam, de acordo com a proporcionalidade da sua riqueza. Os
grandes beneficiários foram os países ricos, que condicionaram o mercado e
adaptaram as ajudas comunitárias aos perfis das suas economias, que tiveram,
assim, um grande impulso.
Ganha a frente comercial, baseada nos factores
produtivos (indústria pesada e indústria ligeira), e para ganharem novas mais-valias,
a Alemanha e a França abriram uma nova frente de negócio, a frente financeira,
baseada na especulação imobiliária, e tudo isto em nome da solidariedade
europeia. Os bancos desses dois países hegemónicos começaram a aliciar os
bancos dos países da periferia, onde estava Portugal, para dinamizarem nos seus
países, através de empréstimos aos potenciais clientes (a classe média), a
juros baixos, o mercado da compra de habitação própria. Aparentemente, foi um
sucesso. Nunca os países do sul tiveram tanto dinheiro. Nos arredores das grandes
cidaddes, as casas cresceram como cogumelos e novos bairros surgiam, a ilustrar
os benefícios da Europa unida e fraterna. Para o cidadão-tipo, incorporado na
classe média renovada, ter casa própria era um sonho de uma vida e de um
projecto. E assim se compreende a sucessão de governos, religiosamente adeptos
do europeísmo. Pudera! O dinheiro era tanto que até dava para os operadores da
pujante indústria da construção civil - que, num ápice, apareceram a construir
casas, auto-estradas, estradas, pontes e até dois estádios, que não servem para
nada – corromperem autarcas, funcionários superiores dos ministérios, ministros
e até, segundo se julga, um primeiro-ministro.
O pior veio depois. Um cenário previsível para a
alta finança e para os governantes da época, os dos países credores e os dos
países devedores, que, agora, não podem reclamar a sua inocência. Bastava-lhas
ter ouvido os avisos constantes do PCP e de muitos economistas, de consciência
honesta, para terem procedido com moderação, na forma como o país estava a
endividar-se.
O que veio a seguir já é recente, e seria
redundante estar aqui a fazer-lhe uma referência: uma crise profunda, o
espectro da bancarrota, a bárbara assistência técnica da troika, com o seu modelo clássico de cortar nos rendimentos do
trabalho para salvar os rendimentos do capital, a falência financeira das famílias,
que ficaram sem casa e sem o dinheiro das amortizações, já efectuadas, o
aumento do desemprego, principalmente o desemprego dos mais jovens, que ficarão
conhecidos na História como membros da Geração Perdida, aumento vertiginoso da
criminalidade, devido à pobreza, empobrecimento dos pensionistas e reformados,
que viram os seus subsídios diminuídos, por ordem da troika, que o PS, PSD e CDS aclamaram como salvadora da Pátria,
cortes no Serviço Nacional de Saúde e na Educação, etc…etc…etc…
E assim vai a grandeza da Pátria…
Alexandre de Castro
2017 04