Com a verdade me enganas, ou como Fernando Ulrich baralha as
cartas, fazendo batota
Fernando Ulrich, presidente do Conselho de
Administração do BPI, ao referir-se ao deve e haver entre o Estado
(contribuintes) e o conjunto dos bancos portugueses, que se socorreram de
fundos públicos para se recapitalizarem, parte do princípio (como se isso fosse
um direito natural) de que é uma obrigação dos contribuintes, através do
Estado, participarem no esforço financeiro de salvar os bancos falidos. É o que
se deduz, quando ele afirmou, em conferência de imprensa (não sei se com
consternação ou com satisfação), que os portugueses (Estado) até pagaram pouco,
apenas uma importância entre 4.400 a 6.400 milhões de euros. Com toda a
desfaçatez, que lhe é reconhecida, Fernando Ulrich afirmou que "o esforço
dos contribuintes é muito baixo quando comparado com o dos accionistas e quando
comparado internacionalmente", esquecendo-se de esclarecer se a comparação
referida era percentual ou absoluta.
Mas, inicialmente, e, talvez, para tentar fazer
"caixa" da notícia, até se atreveu a dizer a seguinte monumental
atoarda, que a posterior divulgação dos números logo desmascarou: "Que os
custos de suportar o sistema financeiro sejam suportados pelos contribuintes é
mentira. É bom que as pessoas tenham noção disso". Mas, afinal, era
verdade, segundo ele próprio demonstrou, ao contabilizar as perdas totais do
Estado, com a recapitalização dos bancos (entre 4.400 a 6.400 milhões de euros.
Se eu ainda estivesse no activo, e tivesse sido
destacado para fazer a cobertura da conferência de imprensa de Fernando Ulrich,
ter-lhe-ia perguntado, quando ele se vangloriou dos 799 milhões de euros de
dividendos, distribuídos aos accionistas do BPI, no final do período de
recapitalização, qual tinha sido, afinal, o saldo do esforço financeiro dos
accionistas, medido entre o valor das injecções de capital efectuadas no banco
e o valor dos juros recebidos, questão fundamental, que ele não referiu, talvez
por conveniência, já que eu presumo que os accionistas saíram a ganhar, como é
costume, em todas as crises financeiras.
É por estas e por outras, e por todas elas, ao
mesmo tempo, que eu defendo, como sempre defendi, a estatização do crédito e a
nacionalização dos bancos.
E lembrar-me eu que, no tempo das privatizações
dos bancos (década de oitenta, do século passado), defendidas e promovidas pelo
Dr. Soares (que a terra lhe seja leve), se esgrimia aquele bombástico e
ardiloso argumento de que os privados geriam melhor os bancos do que o Estado.
Viu-se e está a ver-se!...
Alexandre
de Castro
19 de
Janeiro de 2017
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