A crise parece longe. A crer
nas transações efetuadas nos terminais multibanco na véspera de Natal. Cansados
de festejar o natal a contar os tostões, os portugueses este ano saíram à rua
dispostos a tirar a barriga de misérias. Entre 25 de novembro e 24 de dezembro
levantaram nas caixas multibanco espalhadas pelo país 2,397 mil milhões de
euros, mais 100 milhões de euros que em igual período do ano passado.
Lentamente começam a dar razão a Mário Centeno, o homem que acreditava na
alavancagem da economia a partir do consumo. Os sinais de que não o querem
deixar ficar estão aí nos dados da SIBS, a empresa que gere a rede multibanco,
agora divulgados.
PAULA FERREIRA.
Jornal
de Notícias
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As
melhoras da morte...
O aumento do consumo das
famílias portuguesas, no ano corrente, que teve a sua máxima expressão na época
natalícia, seria, na realidade, uma óptima notícia, se esse consumo tivesse
sido dirigido, maioritariamente, para os bens, com elevada incorporação de
matérias-primas e de trabalho nacionais. Mas, julgo que não é o caso, a
avaliar, grosseiramente, pela comparação da evolução das importações e das
exportações, com as primeiras a crescerem mais do que as segundas, o que vai
agravar a balança comercial do país, aumentando a situação deficitária. Esta
estratégia, a de privilegiar o aumento do consumo, como factor predominante,
para impulsionar o aumento do PIB, não poderá ser mantida por muitos mais anos,
a não ser que os desequilíbrios, que venham a ser gerados, venham a ser
compensados com o proporcional aumento das exportações e do investimento, uma
hipótese que apresenta muitas incertezas, devido ao clima político e económico
internacional e ao ambiente de crise permanente na Europa.
Por outro lado, este aumento do
consumo deveu-se mais à libertação das poupanças (ter dinheiro no banco começou
a ser perigoso) do que ao aumento real dos salários, que foi diminuto.
Feita a análise, segundo esta
perspectiva, julgo que não podem deitar-se muitos foguetes, porque a crise
ainda não acabou, a colossal dívida externa não diminuiu e a austeridade
troikiana, levada a cabo pelo governo da direita, ainda vai demorar algum tempo
a ser totalmente removida (se for). Se nada for decidido em relação à
reestruturação da dívida à troika, e se Portugal continuar amarrado à moeda
única, não tenho dúvidas que o cerco dos credores manter-se-à, com a Comissão
Europeia à cabeça, a morder-nos as canelas. Isto, claro, no caso da actual
estrutura do poder da política europeia passar incólume às vicissitudes das
eleições da Alemanha e da França, no próximo ano.
Assim, eu direi que a festa
consumista deste ano assemelha-se mais às melhoras da morte.
Alexandre de Castro