Acredito que o cenário político, em Espanha, vai
mudar. A grande crise austeritária que atravessa a Europa, e, principalmente, a
que afecta os países do seu flanco sul, não poderá deixar de se reflectir na
ocorrência de efectivas mudanças no xadrez político. É o que reza a História e
que os homens do establishment, por
comodismo, por interesse ou por ignorância, não querem admitir.
O exemplo da surpreendente viragem à esquerda do
PS português poderá vir a contagiar uma Europa, que já não tem respostas para
resolver a crise, e que tem vivido sob a ditadura do pensamento único,
imposto pela Alemanha. Os partidos agrupados no Partido Socialista Europeu, e que têm por bandeira o
socialismo (!?), já perceberam que entrarão num ciclo de declínio, se
continuarem a querer ser a muleta do sistema e não propuserem aos seus potenciais eleitores uma verdadeira política de alternativa. Isto de fazer
promessas nas campanhas eleitorais e não as cumprir, quando no exercício do
poder, já não colhe votos. Isto de ser socialista na oposição e neoconservador
e neoliberal no governo já não ilude a maioria dos eleitores. Foi isto que
António Costa compreendeu, antes do tempo. E agora, que já se iniciou a
contagem do novo tempo, será a vez do PSOE, coligado com o Podemos, apanhar a
carruagem da mudança, que já está em movimento.
As últimas sondagens, conhecidas no dia em que
se iniciou a campanha eleitoral para as eleições legislativas de 20 de
Dezembro, mostram que nenhum dos quatro partidos, melhor posicionados, vai
ser capaz de obter sozinho a maioria absoluta. O Partido Popular, o Ciudadanos
e o PSOE aparecem praticamente empatados, em redor dos 22 por cento, com o
Podemos, que tem vindo a crescer, desde a sua queda a pique, devido ao fracasso
da reviravolta grega, a obter 17 por cento das intenções de voto.
Nada está perdido para a esquerda. Para o PSOE,
se quiser ser governo, terá obrigatoriamente de tentar conquistar votos ao PP e
ao Ciudadanos, pois se vai conquistar espaço eleitoral ao Podemos, não faz crescer
o somatório dos votos dos dois partidos de esquerda, crescimento este indispensável
para se poder formar uma coligação pós-eleitoral maioritária.
Reciprocamente, também o Podemos não deverá,
caso olhe para o caso português, transformar o PSOE no seu principal inimigo.
Se o fizer, poderá crescer eleitoralmente, mas impossibilitará a formação de
uma maioria de esquerda, devido enfraquecimento do seu potencial aliado, o
PSOE. O Podemos tem de virar-se para os eleitores descontentes, que andam
dispersos pelos pequenos partidos de esquerda.
Em resumo: o PSOE e o Podemos não podem digladiar-se
entre si.
A vitória de uma coligação entre o PSOE e o
Podemos é de vital importância para os partidos de esquerda da UE e,
principalmente, para o governo do PS, em Portugal. António Costa levaria para
as estâncias europeias um aliado de peso, o que permitiria suster a fúria
predadora de Bruxelas e Berlim. Uma das
razões do fracasso grego repousa no isolamento do governo do Sirysa, perante
os abutres esfomeados, sem nenhum outro governo da zona euro, a colocar-se do
seu lado da barricada. Com a Península Ibérica alinhada à esquerda (uma
esquerda não colaboracionista, claro) o ruído da Europa seria outro.
2 comentários:
Haja lucidez democrática
Haja lucidez democrática
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