Com esta intervenção oportuna, ao afirmar que,
na actual conjuntura, "nomearia António Costa como primeiro-ministro, caso
houvesse um acordo parlamentar entre os partidos à esquerda" e que um
governo de gestão, prolongado por vários meses, "seria muito difícil no
ponto de vista constitucional", Sampaio da Nóvoa posicionou-se para vir a
ser escolhido como o candidato presidencial de todas as esquerdas, e que, no
meu entender, caso seja alcançado um acordo de legislatura entre o Partido
Socialista, o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda, e a fim de potenciar,
desde já, uma dinâmica de vitória, ele deveria ser declarado nessa condição,
por aqueles três partidos, antes do dia em que Cavaco Silva terá de nomear um
novo governo, que substitua o que nomeou há dias, e que vai cair. Seria uma
iniciativa que iria assustar a direita, obrigando-a passar de uma estratégia
ofensiva, que está a preparar, para desencadear durante o período de um hipotético
governo de gestão, para uma estratégia defensiva, em que teria de exibir a sua
inferioridade e a sua fragilidade. Além desta vantagem estratégica, Sampaio da
Nóvoa [e não outro(a) candidato(a)] teria garantida a sua passagem à segunda
volta, em que enfrentaria a forte candidatura da direita, que é necessário
vencer.
Sampaio da Nóvoa será o seguro de vida de um
futuro governo de esquerda - liderado por António Costa, com o apoio do PCP e
do BE - que venha a constituir-se após a queda inevitável do novo governo de
direita, ao mesmo tempo que também será o escudo defensivo contra a ofensiva
golpista da direita, em querer perpetuar-se no poder, através da formação
de um governo de gestão, para depois tentar obter uma maioria absoluta, numas
outras eleições legislativas, que o novo Presidente da República, se for de
direita, rapidamente convocará. Como presidente, e no caso de haver um governo
de gestão, Sampaio da Nóvoa não só não convocaria novas eleições legislativas,
como nomearia rapidamente, após a sua tomada de posse, António Costa, que lhe
apresentaria uma solução de governo consistente e dispondo de uma maioria
absoluta no parlamento.
Se António Costa foi o genial arquitecto desta
surpreendente reviravolta na política nacional, levando o PS a deixar de ser
uma muleta da direita, (e eu, inicialmente, julgava que ele estava a fazer bluff,
com a sua aproximação ao PCP e ao BE, a fim de tentar ganhar margem negocial
para se aliar a Passos Coelho e a Paulo Portas), Sampaio da Nóvoa será a
garantia de uma legislatura, com a marca indelével da esquerda.
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