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segunda-feira, 12 de outubro de 2015

A propósito da burla da VW e da armadilha da dívida soberana...


7.10.15

Mestres dos disfarces
Quando foi repetidamente afirmado, até por diretores do FMI, que as intervenções da Troika na Europa do Sul foram concebidas de forma a salvar, não os países, mas os bancos alemães, muitos foram os que não acreditaram ou encolheram os ombros: pois os alemães, os rectos, honestos, diligentes alemães seriam lá capazes de tal vil manipulação? O problema está, tinha que estar — como sempre — na preguiça, nos gastos desregulados, na incompetência, dos que vivem junto das praias quentes do sul. De Berlim, só pode vir a probidade, o rigor e a retidão. Sabe-se agora que o custo total da fraude da Volkswagen poderá ultrapassar os cem mil milhões de euros, e que o custo económico real será várias vezes esse valor. Os rectos, honestos, diligentes, alemães fizeram algumas vis manipulações, em larga escala e com uma significativa rede de cumplicidades, neste caso, afinal. Wolfgang Münchau, do Financial Times, antevê: «a minha expectativa é que a VW seja mantida viva através de alguma combinação de ajudas ocultas ou visíveis por parte do estado.» Assim como já fomos chamados a salvar os bancos alemães, resta-nos saber quanto é que nos cabe na fatura das ajudas ocultas à indústria automóvel germânica. Ela chegará, não duvidemos, como a anterior. Só resta saber quando — e quanto.

[O título inspira-se num poema de Charles Simic, que nada tem que ver com este assunto, felizmente.]

Amabilidade de João Fráguas
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Amigo João:
Não tenho dúvidas que o governo alemão irá encontrar um oculto e  sofisticado esquema para pôr os contribuintes a pagar os prejuízos da VW.  Quando as pessoas começarem a perceber esse esquema, já, há muito tempo, estarão a pagar a conta, para salvar a Pátria. Foi o que aconteceu com a dívida soberana dos países do sul, cujo esquema eu também denunciei no meu blogue, em 2013. O problema era dos bancos alemães, que iriam para a bancarrota, devido aos sucessivos incumprimentos da enorme dívida, contraída pelos bancos portugueses e gregos, que por sua vez endividaram as famílias dos seus respectivos países, para adquirirem casas de habitação própria.
A gigantesca bolha imobiliária, que se foi gerando ao longo dos anos e que enriqueceu os accionistas dos bancos, foi mantida no segredo dos deuses e o ministro das Finanças da Alemanha encarregou-se de gizar o respectivo plano de salvamento, que o directório de Bruxelas engenhosamente pôs em prática. O objectivo consistia em transferir as dívidas dos bancos de cada país para a dívida soberana dos respectivos Estados. Activou-se o cerco aos países do sul (os mais fracos no xadrez europeu), pondo as agências de rating a provocar nos mercados financeiros a subida especulativa dos juros da dívida soberana de cada país, que em Portugal era de 90 por cento do PIB, e pressionaram os governos dos países visados (Portugal e Grécia) a pedirem ajuda externa. Foi uma grande armadilha. A austeridade imposta aos contribuintes está a gerar receitas através do pagamento dos juros e das amortizações ao FMI, BCE e comissão europeia, que, por sua vez, através do esquema da recapitalização bancária, via BCE, fazem chegar o dinheiro aos bancos alemães, que desta forma podem limpar, com custos reduzidos, os títulos tóxicos em seu poder. A operação de limpeza destes títulos tóxicos, por parte dos bancos alemães, deverá ficar concluída em 2018. No entanto, Portugal ficará pendurado numa colossal dívida, que só acabará de liquidar (o que é impossível) em meados da década de trinta.
É pois a austeridade que vai pagar os prejuízos dos bancos alemães, que, anteriormente, com a especulação imobiliária, geraram lucros milionários para os seus accionistas. Explicar isto às pessoas é muito difícil. Os jornais e as televisões não abordam este esquema fraudulento, omitindo-o do espaço de opinião e do espaço noticioso e, na campanha eleitoral, o assunto não esteve na agenda.
Um abraço,
Alexandre

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